quarta-feira, outubro 23, 2013

Borras de petróleo aparecem em praias do Sul da Bahia: A Petrobrás chegou!

O alerta está no Facebook no Grupo de Serra Grande:
Atenção: Borras de Petróleo e aves mortas na praia do Sargi! 

Já aconteceu em 2008 (fotos abaixo), vazamento de óleo de um navio. Limparam o que puderam, pois no mangue não se lima tudo, mas nunca sabemos qual foi a embarcação que originou o vazamento. Hoje, soube que estão aparecendo borras de petróleo fresco em praias do sul da Bahia, e pra mim isto soa o alerta geral.

Está chegando ao sul da Bahia aquela que é a maior poluidora do Brasil: A Petrobrás. Ela é quem mais polui, quem mais paga multa (uma das poucas que pagam) e também que mais tem dificuldade de resolver seus problemas ambientais.

Vazamento de 2008 em Ilhéus.
Na minha caminhada conheço a bastante tempo os tropeços da Petrobrás, por exemplo, na Baia da Guanabara, onde reincidem problemas antigos como os que eu vi, vinte anos atrás na Refinaria de Duque de Caxias, e ainda hoje persistem. A Petrobrás é boa de cartilha, EIA-RIMA e multa paga, mas dinheiro sozinho não faz milagre. É preciso prevenir com controle social e transparência de todas as informações que nos interessam saber para que possamos zelar a qualidade de nosso mar, baias e manguezais. Nós, que somos os grande interessados em proteção e qualidade de vida aqui.
Um dos litorais mais bem conservados do Brasil precisa
 de atenção redobrada com a chegada da PETROBRÁS.

Vazamento de 2008 em Itacaré. 



Então vamos se preparar para exercer cidadania, monitorando e fiscalizando a empresa, pois se não houver cobrança, vamos ficar vulneráveis, vendo acidentes acontecerem, respostas eles não virem com a celeridade esperada, e correndo riscos piores, que, sem informação, nem imaginamos. Precisamos exigir essa informação, e informação fidedignas e das fontes corretas.

Abaixo transcrevo um pequeno texto, relatando um novo vazamento que observou, e ainda não temos nenhum pronunciamento das autoridades ambientais ou da empresa.

O Petróleo é nosso ?
Texto de Rui Rocha

Hoje está fazendo 9 dias que borras de petróleo ainda frescos foram parar na nossa costa. As praias de Serra Grande, Itacaré, Marau, Pratigi, Morro de São Paulo, Ilhéus... os ventos fortes de sul dispersaram uma imensa quantidade de petróleo, que chega às praias como bolas pretas, sujando os pés do banhistas e trazendo contaminação para o litoral. Mangues, restingas, corais, o fundo do mar... No domingo passado, ao ver o acidente no litoral, ligamos para a Petrobrás, alertando para o ocorrido. Desde aquela data apenas soubemos que o serviço de Ouvidoria da Petrobrás acusou o recebimento da notícia, e estaria investigando o responsável pelo dano.

O litoral Sul da Bahia sofre deste mal desde os anos setenta. Estamos em 2013 e um problema aparentemente simples não é resolvido pela indústria do petróleo. As suspeitas em geral recaem sobre os navios petroleiros que trafegam em nossa costa e ao entregar o petróleo importado, lavam os seus porões em alto mar. Pode ser também alguma plataforma de petróleo na costa - como a British Petroleo, a Petrobrás, ou a Queiroz Galvão - ambas atuando neste litoral. 

O Brasil não apresenta ainda um sistema de controle deste tipo de acidente. Quando ele escandaliza a sociedade através da imprensa, órgãos ambientais se mexem e cobram das empresas de petróleo uma imediata solução. Quando são eventos de baixa repercussão, empurramos o assunto para debaixo do tapete, que no caso são as areias do mar. Infelizmente. A Agência Nacional do Petróleo - ANP deveria ser mais firme com as empresas de petróleo, constituindo um fundo de segurança para proteger o litoral deste tipo de agressão. 

E, cobrar de modo mais rígido a limpeza dos porões em ambientes portuários capacitados para tal, como reza a legislação. Navios costumam desobedecer esta regra, passando a conta para o oceano e o litoral. Um absurdo que teima em continuar, seja com a Libra (bacia petrolífera em evidência com o leilão da ANP e a polêmica com a Federação dos Petroleiros) na mão dos brasileiros ou de empresas internacionais. O Petróleo é nosso ? Sim, especialmente o que vem parar no nosso litoral, sem responsáveis definidos. Triste.

terça-feira, outubro 22, 2013

Parque Nacional Serra das Lontras


Ele é o único Parque Nacional do Bioma da Mata Atlântica na região cacaueira, e representa um avanço diante do passivo de proteção florestal nessa região, onde enganosamente o cacau-cabruca costuma disfarçar e desculpar a avançada degradação de nossas florestas remanescentes, que são hoje, pequenas manchas isoladas. 

O Parque Nacional da Serra das Lontras abrange parte do Complexo Serra das Lontras e Javi e possui 11.342,69 hectares. Junto com a Reserva Biológica de Una, também federal, formam o Corredor Ecológico Una-Lontras, ao sul de Ilhéus. Lembrando que, ao norte de Ilhéus temos o Corredor Ecológico Esperança Conduru, referenciado pelas riquezas extraordinárias entre o Parque Municipal da Boa Esperança e o Parque Estadual do Conduru. 

Quando falamos em Corredor Ecológico, não estamos falando na exclusão do homem, como requer as áreas decretadas parques ou reservas, mas incluí-lo de todas as formas sustentáveis de se produzir qualidade de vida e uma economia forte aproveitando as qualidades e potencialidades regionais.
 
São serras refúgios com trechos de remanescentes da antiga floresta, já que o cacau-cabruca também subiu as serras. No trabalho de pesquisa "Complexo de Serras das Lontras e Una, Bahia: Elementos naturais e aspectos de suaconservação" ( Sociedade para a Conservação das Aves do Brasi, Iesb e BirdLife International) podemos entender melhor a importância para a conservação da biodiversidade do planeta que tem as florestas remenescentes do sul da Bahia:

"O conhecimento da biodiversidade das matas da região é ainda incompleto. Grande parte dos estudos refere-se às áreas de terras baixas e apenas recentemente foram publicados trabalhos com informações sobre a região serrana do sul da Bahia, incluindo Boa Nova e a Serra das Lontras. Esses estudos confirmam a ideia de que as florestas de altitude abrigam um complexo faunístico importante e diverso daquele conhecido para as áreas de terras baixas da região. Os trabalhos também revelaram a ocorrência de táxons novos de diversos grupos e reforçaram o conhecimento de que a fauna e a flora das áreas mais elevadas possuem mais afinidades com as espécies das matas de altitude do sudeste brasileiro do que com as matas de terras baixas adjacentes. Apesar da elevada importância biológica, as serras do sul da Bahia estão apenas parcialmente protegidas em uma unidade de conservação pública, a Serra do Conduru, e algumas reservas privadas como a Serra Bonita e a Serra do Teimoso.

Está dado o recado para conhecer o nosso primeiro parque nacional, e relíquia do futuro. O Parque Nacional Serra das Lontras, melhor não chamar de PARNA, que é feio, e vem dessa moda-maníaca das abreviações, sempre enrolando a informação e seus fins educativos. Parna só serve para afastar mais ainda as pessoas do conceito de um Parque, que no Brasil não são preparados para cumprir umas de suas funções sociais que é o turismo. Não é assim nos Estados Unidos, na Costa Rica e em muitos outros países. 
Para obter mais informações sobre ele, podemos procurar pelo seu Gestor, o Analista Ambiental do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBIO) que está localizado no Escritório da CEPLAC/SUEBA, na Rodovia Ilhéus-Itabuna km 22, em Ilhéus. O email é  parnaserradaslontras@gmail.com e o telefone para contato 73 3214-3041.
A conservação da biodiversidade da terra passa decisivamente pelo Sul da Bahia.
           Olha ele aí, o raríssimo pássaro que conseguiu sobreviver na Cabruca.
No reino dos pequenos riachos e cachoeiras.

sexta-feira, outubro 11, 2013

CAPITAL ESPECULADOR GOVERNA ILHÉUS

Ilhéus ainda não tem um planejamento estratégico para as próximas décadas, e corre o risco de se prostituir facilitando projetos mal planejados. Pode até ser bom pra uns, mas não será para a maioria da população. Mas como já me reclamaram dessa reportagem, é bom deixar claro: Que venha o shopping para Ilhéus, mas no lugar, e da forma correta. (Foto:José Nazal)
Do jeito que as coisas vão, mais parece que o capital especulador é quem governa (ou desgoverna) o município de Ilhéus. Quem entende e se interessa por gestão pública e planejamento urbano e territorial, ou tem um bocadinho de conhecimento sobre os desafios do município de Ilhéus precisa reconhecer que estamos vivendo, o momento mais crítico de nossa história, e precisamos de uma posição, e de uma liderança consciente disto. Estamos abrindo mão da governança, do pertencimento, e não somos - nós mesmos, os autores e protagonistas do planejamento de nossa lugar, enquanto os interesses passageiros ocupam o  espaço do planejamento participativo. O que vemos é uma linha de projetos pensados por "macianos" em um filme que nos sugere:  "Aceitar e silenciar".

Vivemos na "casa da mãe Joana" onde quem planeja é o governo do estado, e grandes corporações que aspiram lucros, e se beneficiam com a insegurança de municípios em crise e prefeituras falidas. A conivência do executivo e legislativo municipal é a mesma para o novo morador de barraco que destrói o mangue para ficar mais perto da comida e do emprego, ou o empresário que destrói e imobiliza a cidade para facilitar seus negócios. 

Nesse tipo de cenário temos um campo fértil para a corrupção e beneficiamento de pequenos grupos, que nos afastam cada vez mais dos excluídos, e criam exclusão. Estamos de bunda pra lua em uma cidade repleta de irregularidades, onde os instrumentos de gestão urbana, obrigatórios por lei e políticas de governo não são postos em prática. Ilhéus se colocou a venda a preço de banana, e tornou-se um lugar fácil de se beneficiar com o bem público.

Enquanto isto, o futuro continua dependendo de um planejamento com base técnico-científica, orientado pela participação e pela modernidade. Carecemos de um caminho de participação inteligente, legítima e ética nas decisões sobre nosso bem comum. Estamos ignorando o planejamento urbano de qualidade. E enquanto o poder executivo e legislativo não entrar em cena com personalidade, continuaremos a ser a cidade mais agredida do litoral brasileiro. As decisões de agora terão impactos por décadas, e não devem ser orientadas por um olhar simplificador e imediatista, sem uma lente de médio e longo prazo. Não podemos tapar um buraco, abrindo outros tantos. Vamos seguir os exemplos de outras cidades que estão dando certo em suas estratégias. Vamos superar a crise com o triunfo da qualidade de vida consolidada, e não permitir o atrapalho nesse meio de caminho entre o passado e o futuro.

Eu gostaria de dizer um monte de palavrões, mas prefiro desejar que todos os meus colegas, também façam o bom uso da palavra, através do jornalismo com reflexão, e ajudem Ilhéus. A notícia precisa ser acompanhada da reflexão, e não deve apenas reproduzir a mensagem dos "releases". É preciso apurar, questionar, comparar, monitorar e promover a verdadeira reflexão que a informação sugere, pois só assim poderemos opinar e participar. É preciso fazer isto antes  que nos encontrarmos presos em um congestionamento, e reclamando. 

Desejo, e "convoco" meus colegas jornalistas a serem críticos e resistentes em nome do interesse do povo, pois a imprensa calada seria o pior reflexo dessa crise. 

O ABSURDO DO PROJETO FANTASMA DE UMA NOVA PONTE

O projeto e o processo de construção da nova ponte Ilhéus-Pontal é emblemático. Não há consulta pública,  e nem sequer é necessário apresentar um projeto aos ilheenses. Como pode, nem o prefeito saber qual é a ideia? Isto fica claro nas informações contraditórias que são divulgadas pela assessoria de imprensa da prefeitura. É um absurdo completo que uma obra seja licitada, sem que seja apresentada em detalhes aos principais interessados. Tem semelhança aos projetos da ditadura militar, como o Porto Internacional do Malhado. Eu fico sem entender tanta falta de transparência, e assim, devemos esperar pelo pior, como já anunciou o flagelo vergonhoso do afogamento dos quatro trabalhadores, logo no início da obra. Não foi mais um acidente, mas um sinal claro que está tudo errado, nós todos, o processo e nossas instituições. 

CAPITAL IMPACIENTE NÃO ENXERGA IGREJA

No dia em que eu vi o bispo Dom Mauro pedindo a empresários para não destruir a Capela de Fátima em Ilhéus, pensei: Que bobagem! - Como o bispo pode imaginar uma coisa dessas? E logo anunciaram que respeitariam a igreja, mas passado alguns  dias, sabe como é, dinheiro por dinheiro, o cão do lucro atenta, e veio uma nova notícia: Vão demolir o Santuário! 

Os empresários capitalistas da saúde desistiram de abrir mão daquele espaço, que é tradicional para as Senhoras de Caridade de Ilhéus? Nem acredito, e se for verdade é mesmo lamentável. Chego a temer pela ira divina contra o salutar empreendimento. É falta de fé receber uma notícia dessa no ano do Centenário de umas das Dioceses mais importantes do Brasil. É imoral demais, e pior será, se a Diocese aceitar contrapartidas econômicas, pois nessa racionalidade econômica, despida de valores intangíveis, a tradição e história das pessoas não têm tanto valor assim, e podem ser compensadas com dinheiro. 

SHOPPING CENTER ONDE?        
     
Qual o sentido de nossas universidades públicas e privadas, e seus cursos voltados para o futuro, se não pomos em prática o conhecimento? 

É evidente que o Estádio de Futebol Mário Pessoa, como o aeroporto atual não têm como se adequar a reengenharia e reurbanização de Ilhéus com o foco na mobilidade e melhoria da qualidade de urbana. No entanto, pensar um Shopping Center aonde temos um nó de mobilidade tão difícil de desatar é muita falta de criatividade, sobretudo quando estamos pensando uma Região Metropolitana. Pesa também que esse Estádio não é privado, eu sinto como se fosse meu - nosso, e que tem uma finalidade social adquirida. Trata-se de um espaço nobre, que poderia servir ao incremento de um projeto tão solidário, senhores vereadores, como é, para o povo, um campo de futebol. 

Antes de pensar no Shopping do Iguatemi, seria justo anunciar o destino do Instituto Municipal de Educação, que alias, por ética, é quem deve ser o primeiro a ter o direito de ser beneficiado com a desativação do estádio. Por que não pensamos em derrubar aquele velho prédio e construir uma super escola pública com sua própria vila olímpica. Porque não fazemos isso, e não botamos lá um monumento em homenagem a Milton Santos, e criamos , com isso, um grande marco  cultural e social para nossa terra? Afinal, o que somos? Que tipo de credibilidade devemos dar a uma informação que trata o destino de nossa mais tradicional escola pública como secundário em relação a  um projeto empresarial? A notícia sai invertida em favor do capital, e contra a educação, e se esquecem até de dar uma satisfação sobre onde, e quando e como será a nossa nova Vila Olímpica, ou vivermos todos desse centro de compras chamado shopping center?  

Espaço pra ele não falta.Temos diversas e as mais variadas opções, e se querem no centro da cidade, temos uma excelente área para ele no terreno sub-utilizado da Petrobrás na Cidade Nova, onde é possível deslumbrar um super shopping verticalizado com dois pisos de garagem, e de quebra uma das maiores vistas do Brasil. E como também é público, bem do povo, precisaria negociar uma grande contrapartida. Que tal ajudando a construir a grande escola que merece o Milton Santos, a Perpetua Marques e o Heitor Dias? 

PRÉDIO DA T.R.E. BAHIA NA AVENIDA ESPERANÇA: BURRICE

Não faltam casos que demostram falta completa de bom senso e preocupação com o planejamento urbano da cidade de Ilhéus. É incoerente e chegamos a desconfiar da capacitação dos que decidem algumas intervenções urbanas em Ilhéus. Enquanto caminhamos para o colapso da mobilidade, pouco tempo atrás, permitimos a construção de um prédio do Tribunal Eleitoral em uma avenida estrangulada (Avenida Roberto Santos-Bairro Esperança), na beira do rio, de costas para a deslumbrante paisagem histórica do Parque da Esperança e Rio Itacanoeiros, num belo terreno de uma bairro pobre onde faltam espaços de mobilidade, cultura, lazer e entretenimento. É absurdo e tem implicações deixar de dar um uso estratégico para o bem da comunidade e o povo em geral. 

PORTO SUL, MANGUEZAIS E INVASÕES.

De que adianta falar tanto em novas universidades e graduações em gestão, se não estamos dispostos, e nem temos espaço para colocar o conhecimento e a ciência em prática; se somos obrigados a assistir decisões precipitadas ao invés de decisões estratégicas. Temos a sensação de estamos desgovernados ou manipulados por quem possa se beneficiar dessa incoerência. 

Queria xingar pelas invasões da Estrada Ilhéus - Itacaré, das quais só foi removida a que aconteceu em área privada. Depois de todos os acordos públicos que ouvi e li, acertados em nome da licença do Porto Sul, vejo tudo caí por terra, ainda tão cedo. Nada impede as invasões em área´pública e de preservação permanente e todo o entorno da área prevista para o projeto; promovidos de forma política, e por pessoas que não são necessitadas de primeira moradia.

Ilhéus está violenta, triste e vulnerável, e a invasão de áreas públicas tornou-se um processo indefinido e caótico. Não sabemos aonde vamos, e as informações que chegam nos confundem e nos angustiam ainda mais . Querem mais um exemplo fresquinho de hoje mesmo? Semana passada os munícipes foram informados pelo Diário de Ilhéus que a BA 415, nossa principal rodovia será duplicada no mesmo eixo, hoje, Cezar Borges, Ministro dos Transportes voltou a dizer que é será pelo lado direito do rio Cachoeira. É um ruído de comunicação impressionante...

segunda-feira, setembro 30, 2013

Papa para os Catequistas: Despertar a memória de Deus no outro

Foto Homilia da Canção Nova

Roma, 

Na manhã desse domingo às 10.30 (hora de Roma), o santo padre celebrou a santa missa pela Jornada dos Catequistas, por ocasião do Ano da Fé, na praça de São Pedro. Publicamos a seguir a homilia:

1 . “Ai dos despreocupados de Sião e daqueles que se consideram tranquilos, ... deitados em leitos de marfim” (Am 6,1.4 ), comem, bebem, cantam, se divertem e não se preocupam com os problemas das outras pessoas.

Estas palavras do profeta Amós são duras, mas chamam a atenção sobre um perigo que todos nós corremos. O que é que este mensageiro de Deus denuncia, o que é que coloca diante dos olhos de seus contemporâneos e até mesmo diante de nossos olhos hoje? O risco do conforto, da comodidade, da mundanidade na vida e no coração, de colocar no centro da nossa vida o nosso bem-estar. É a mesma experiência do rico do Evangelho, que vestia roupas de luxo e todos os dias se dava abundantes banquetes; isto era importante para ele. E o pobre que estava à sua porta e não tinha nada para matar a fome? Não era problema dele, não lhe dizia respeito. Se as coisas, o dinheiro, a mundanidade se tornam o centro da vida, elas nos prendem, nos possuem e nós perdemos a nossa própria identidade de homens: olhem bem, o rico do Evangelho não tem nome, é simplesmente “um rico”. As coisas, o que possui, são o seu rosto, não tem outros.

Mas tentemos perguntar-nos: por que é que isso acontece? Como é possível que os homens, talvez também nós, caiamos no perigo de encerrar-nos, de colocar a nossa segurança nas coisas, que no final das contas nos roubam o rosto, o nosso rosto humano? Isso acontece quando perdemos a memória de Deus. " Ai dos despreocupados de Sião", dizia o profeta. Se não há memória de Deus, tudo fica nivelado, tudo vai para o ego, para o meu bem-estar. A vida, o mundo, os outros, perdem a consistência, não contam para nada, tudo se reduz a uma única dimensão: o ter. Se perdemos a memória de Deus, até nós mesmos perdemos consistência, até nós nos esvaziamos, perdemos o nosso rosto como o rico do Evangelho! Quem corre atrás do nada torna-se ele mesmo um nada – diz outro grande profeta, Jeremias (cf. Jer 2,5 ) . Nós somos feitos à imagem e semelhança de Deus, não à imagem e semelhança das coisas, dos ídolos!

2 . Agora, olhando para vocês, me pergunto: quem é o catequista? É aquele que protege e nutre a memória de Deus; a guarda em si mesmo e sabe despertá-la nos outros. É bonito isso: fazer memória de Deus, como Nossa Senhora que, diante da ação maravilhosa de Deus na sua vida, não pensa na honra, no prestígio, nas riquezas, não se fecha em si mesma. Pelo contrário, depois de ter acolhido o anúncio do Anjo e de ter concebido o Filho de Deus, o que faz? Vai, visita à anciã parente Isabel, também grávida, para ajudá-la; e no encontro com ela o seu primeiro ato é a memória do atuar de Deus, da fidelidade de Deus na sua vida, na história do seu povo, na nossa história: “A minha alma engrandece ao Senhor ... pois olhou para a humildade da sua serva... de geração em geração a sua misericórdia " (Lc 1,46.48.50 ) . Maria tem memória de Deus.

Neste cântico de Maria tem também a memória da sua história pessoal, a história de Deus com ela, a sua própria experiência de fé. E assim é para cada um de nós, para cada cristão: a fé contém precisamente a memória da história de Deus conosco, a memória do encontro com Deus, que se move primeiro, que cria e salva, que nos transforma; a fé é memória da sua Palavra que aquece o coração, das suas ações de salvação com que nos dá vida, nos purifica, nos cura, nos alimenta. O catequista é precisamente um cristão que coloca esta memória ao serviço do anúncio; não para se mostrar, não para falar de si, mas para falar de Deus, do seu amor, da sua fidelidade. Falar e transmitir tudo o que Deus revelou, ou seja, a doutrina na sua totalidade, sem tirar ou acrescentar.

São Paulo aconselha especialmente ao seu discípulo e colaborador Timóteo uma coisa: “lembra-te, lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado dentre os mortos, que eu anuncio e pelo qual sofro (cf. 2 Tm 2, 8-9). Mas o apóstolo pode dizer isso porque ele se lembrou primeiro de Cristo, que o chamou quando era um perseguidor dos cristãos, o tocou e transformou com a sua Graça.

O catequista, então, é um cristão que carrega consigo a memória de Deus, se deixa guiar pela memória de Deus em toda a sua vida, e sabe como despertá-la no coração dos outros. Isso é exigente! Compromete toda a vida! O que é o mesmo Catecismo, senão memória de Deus, memória da sua ação na história, do seu ter-se feito próximo em Cristo, presente na sua Palavra, nos Sacramentos, na sua Igreja, no seu amor? Caros catequistas, pergunto-lhes: nós somos memória de Deus? Somos realmente como sentinelas que despertam nos outros a memória de Deus, que aquece o coração?

3. "“Ai dos despreocupados de Sião", diz o profeta. Qual o caminho a ser seguido para não virar pessoas “despreocupadas”, que colocam a sua segurança em si mesmas e nas coisas, mas homens e mulheres da memória de Deus? Na segunda leitura, São Paulo, escrevendo a Timóteo, dá algumas indicações que podem marcar também a trajetória do catequista, o nosso caminho: seguir a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão (cf. 1 Tm 6 , 11) .

O catequista é homem da memória de Deus se tiver um relacionamento constante, vital com Ele e com os outros; se for homem de fé, que confia realmente em Deus e coloca Nele a sua segurança; se for homem de caridade, de amor, que vê a todos como irmãos; se for homem de “hypomoné”, de paciência, de perseverança, que sabe lidar com as dificuldades, provações, fracassos, com serenidade e esperança no Senhor; se for homem manso, capaz de compreensão e de misericórdia.

Peçamos ao Senhor para sermos todos homens e mulheres que guardem e alimentem a memória de Deus na própria vida e saibam despertá-la no coração dos outros. Amén.

Tradução Thácio Siqueira (Fonte: Zenit)

sexta-feira, setembro 27, 2013

Os gêmeos curandeiros, e o sincretismo brasileiro.

                                       
Hoje é festa para as Crianças, pois é o dia dedicado a Cosme e Damião, os Gêmeos Curandeiros. Queiram ou não queiram, todo mundo lembra de alguém que não é do Candomblé  e vai servir Carurú para as crianças,  especialmente aquelas "pobres".  O Brasil é o país do sincretismo original, onde a liberdade religiosa faz parte da identidade cultural. Somos o grande país Católico dos Evangélicos, sinalizados como a maior nação Espírita do mundo, onde o Candomblé é a religião mais pura, e a Umbanda e o Santo Daime, a manifestação singular desse ecletismo. Esse país “Rosa Cruz” de Xamãs da Floresta é o lugar onde se busca a “União do Pensamento”, e se divide a fé com Judeus, Budistas, Taoistas, Muçulmanos e muitos “Hare Krishna” que povoam lugares como o Rio de Janeiro.

Com todos eu aprendo, porque na minha condição humana não sei de nada. E nesse dia 27 de setembro é dia de alegria e de se comemorar com festa na igreja Católica e no Candomblé. Em Salvador temos uma paróquia dedicada a Eles no bairro da Liberdade. O culto aos Santos são fortes na tradição da cultura baiana, seja na feitura do caruru - “de promessa”, ou no oferecimento de doces e brinquedos à criançada, por gente Católica, de Umbanda e do Candomblé. Só pra lembrar, o Carurú tem origem indígena, e tem o quiabo como ingrediente principal. Mesmo eu dizendo isso, sei que muitos acham que só deve existir uma Religião, e pior ainda, alguns pregam a intolerância como parte de sua crença, e insistem em demarcar a geografia da fé, e menosprezar a sua intrínseca liberdade. A intolerância ao direito de crer diferente é uma das coisas mais ignorantes que eu considero existir, e por conta dela, o Sócrates bebeu a Cicuta, no tempo em que era intolerante acreditar em um só Deus Universal.

Cosme e Damião são santos orientais, provavelmente martirizados durante a perseguição de Diocleciano (284 - 305), mas pouco se sabe sobre a vida destes dois irmãos médicos e, pelo que tudo indica, eram gêmeos. Acta e Passio, seriam os seus nomes verdadeiros e seus restos mortais, segundo consta, encontram-se em Ciro na Síria, repousando numa basílica a eles consagrada. Em grego são chamados de "anargiros", isto é, “sem dinheiro”. No culto afro-brasileiro a Ibejada é a Legião das Crianças da Umbanda, liderada por Eles, e faz parte da linha dos santos ou linha de Oxalá.  Mas quem sabe, os intolerantes tenham algo a nos dizer, afinal, Deus permitiu ao Brasil ser a expressão de sua Nacionalidade Plena. Para mim a espiritualidade não se formaliza nesse mundo de ilusão, senão através do amor incondicional e na caridade praticada. Não é bem assim que pensam os teólogos, por exemplo, e eu aceito, mas não entendo. O Padre Zezinhoda Canção Nova,por exemplo, quando ele publica coisas como: “Na Igreja muitos santos são estigmatizados pelo misticismo no choque de culturas”, ou “a verdadeira origem das coisas” ou ainda “desde criança a gente se confunde com as crendices do imaginário popular”, tende a me tornar também intolerante com a crença do outro. Crença essa que deve ser original, pois a fé uma coisa nova como um presente dentro de si, é louvar, cantar e dançar.Sou um Católico praticante que renovei minha Fé no Santo Daime, e tenho conhecimento de muitas glórias de Deus em todas os salões e terreiros do Brasil onde existem pessoas de boa vontade, pessoas que pedem, pessoas que amam, pessoas que fazem caridade, enfim, Homens e Mulheres da Fé.  Que tal ouvir música para deixar o coração entender?   
Ói que lindo a Mariene de CastoO Padre Antônio Maria, muito maravilhoso!Hino de Cosme e Damião na Voz de dentro do Coração.Tú tem medo de Candomblé? Sério? Tenho não. É segredo de Papai e Mamãe que tenho vontade de conhecer. Aqui na Bahia sou Candomblé, e também recebo as águas das Baianas antes de me ajoelhar aos pés do meu mestre Senhor do Bonfim. Bahia Singular e Plural: Um excelente documentário sobre o tema.  "A alegria da alma constitui os belos dias da vida, seja qual for a época."


























quinta-feira, setembro 26, 2013

Nada acontece


Em 24 de outubro de 2007 descobri que podia utilizar um BLOG como uma estratégia libertadora para publicar conteúdos sem depender dos editores de informação. Nessa data publiquei as primeiras duas reportagens:  “Avenida Soares Lopes, sem projeto.” e “Porto Internacional do Malhado”. Durante esses seis anos, dei sequencia a um registro jornalístico sobre nossas riquezas, modelo de desenvolvimento e desafios brasileiros com o foco no sul da Bahia.

Minha editoria seguiu o caminho do PENSAR, buscando uma linguagem mais técnica, e motivações imparciais e impessoais, e sem partidarismo político. Limitei-me a produzir informações, destacar nossas lideranças regionais e discutir o teritório sobre aluz da ciência e da modernidade. Essa tarefa me exigiu grande desprendimento, e muito suor - pesquisa, produção de imagens, redação e diagramação. Patrocinadores, claro, não apareceram, já que é muito difícil encontrar quem se interesse em pagar para promover as mensagens dos "sem voz". Esses "sem vozes", ou minorias - oprimidos - gente sem mercado, conta mesmo é com o amor e a dedicação de gente que faz,e não espera pra fazer, como assim é o próprio movimento social. 


De toda sorte, conseguimos um feed-back de autoridades, e claro, a resposta sútil do grande público internauta, em especial, estudantes de todos os níveis que aqui passaram buscando informação sobre o sul da Bahia, e aqui encontram alguma coisa, e muitos atalhos.  Produzimos mais de 400 reportagens e agora alcançamos a marca de 200.000 acessos. É uma marca modesta. Menos modesta é a nossa marca no Youtube de 66.000 acessos. Nessa trajetória não posso me esquecer do apoio inicial de Roberto Rabat do Site R2C#Press que deu o primeiro impulso, junto com o Site Ilhéus Amado, Blog Agravo e o Blog Catucadas que mantendo o Link em seus menus, ajudaram muito a informação a circular. 

Muitos dos parceiros sumiram, quando entrou na pauta o projeto "Porto Sul”, alvo de muitas reportagens "premunitórias dos acontecimentos", mas surgiram outros. Minha grata surpresa foi o apoio de meu ex-aluno, o independente e cheio de personalidade, meu ex-aluno, Emílio Gusmão (Blog do Gusmão), que se tornou então, o maior divulgador desse blog, quando este era mais ignorado. 

"Acorda Meu Povo" para mim é missão e voluntariado, cheio de satisfação interior. Essa foi uma forma e fórmula que encontrei de participar da construção da cidadania em meu território. Fico feliz por saber que ajudei a aumentar a massa de informação sobre o Sul da Bahia na Internet, e quem buscar por ela encontrará algo que nasceu aqui, seja uma Reportagem, um PDF, um LINK, uma Foto ou um Vídeo.

Às vezes dói a falta de um Feed-back das autoridades, amigos, conterrâneos  e acho temoroso essa perda da sensibilidade. Não entendo até hoje como uma informação que aponte falhas graves na gestão pública ou uma reportagem de denúncia, possa see ignorada pelos Prefeitos e Promotores Públicos, como a reportagem O Crime do Alto do Amparo” e a “Invasão da Orla da Barra”, arbitrariedades que ninguém se incomodou, e que no final, acaba custando caro aos ilheenses.  O mesmo posso dizer sobre a série "Segurança no Mar”, motivadas pelo afogamento do empresário Conquistense Elzon (42 anos) (Reveja aqui). Percebe-se que seis anos se passaram e até hoje nada foi providenciado. As informações foram ignoradas, sequer, a colocação de Placas de Sinalização onde acontecem afogamentos com frequência. Precisa de uma nova reportagem ou uma nova ética, uma nova forma de autoridade? É preciso falar do Renado Teixeira de 14 anos, que morreu na Boca da Barra no último dia 23 de setembro, ou os dois Italianos que morreram no Pé de Serra, também nesses dias?


Vamos em frente fazendo a Rede, sobrevivendo a moda, passando do Orkut para o Face. Por tudo, agradeço a Deus e a cada elo dessa corrente por essa vivência extraordinária, e festejo a consciência de saber que não tem grana nesse mundo que valha mais que a liberdade de expressão, e a vontade de se comunicar.

quarta-feira, setembro 25, 2013

Plano da Mata Atlântica de Porto Seguro


O município de Porto Seguro segui com o Plano de Trabalho para elaboração do Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica do município, uma parceria da Prefeitura Municipal, da Conservação Internacional, do Gambá, da Fundação SOS Mata Atlântica e do Movimento de Defesa de Porto Seguro. Será mais um município baiano a ter um Plano Mata Atlântico – PMMA. Ilhéus elaborou seu Plano no ano passado, numa iniciativa do Gambá, em parceria com a prefeitura local, Condema e UESC, com apoio do MMA e da Cooperação Alemã através da GIZ e KfW. 

O PMMA está previsto na lei da Mata Atlântica (Lei 11.428/06) e é uma estratégia importante para a proteção deste bioma. É bom lembrar que o Plano não deve ser um "faz de conta",e sim, um instrumento que deve ser regulamentado e aplicado efetivamente no gestão municipal

O plano inclui um diagnóstico dos remanescentes e as pressões econômicas sobre a mata; elaboração de uma proposta conjunta com as demais entidades envolvidas e um plano de ações para manter a Mata Atlântica preservada e inserida no contexto do turismo. Esse tipo de plano já foi desenvolvido em 10 municípios do Brasil e Porto Seguro será uma cidade modelo no país.

“Fizemos o alerta de que no Brasil estamos perdendo o equivalente a um campo de futebol de Mata Atlântica a cada quatro minutos. Conseguimos uma importante conquista com a aprovação da Lei da Mata Atlântica, que foi regulamentada estado por estado. Mas a lei só vai funcionar na prática, através dos arranjos e acordos firmados dentro dos próprios municípios. No caso de Porto Seguro esse plano deve ser baseado no turismo e nas mudanças climáticas”, disse Mantovani, da SOS Mata Atlântica. Para ele, nunca a questão ambiental esteve tão forte. “Não há como fugir desse tema”, salienta.


terça-feira, setembro 24, 2013

Fotógrafos de natureza - Caçadores da Alma



Os fotógrafos de natureza falam sobre a construção dos olhares sobre esta paisagem. O primeiro episódio da série Caçadores da Alma abrange os fotógrafos de Natureza em seus aspectos mais profundos: a beleza da flora, o desafiador do animal, os limites da Humanidade, o Indomável e o papel de resistência da fotografia na luta contra a tragédia da poluição. Da Amazônia à África e da natureza apresentará ao espectador as mais diversas paisagens desbravadas pelos fotógrafos de Natureza; 

Antonio Saggese, Araqúem Alcântara, Christian Cravo, Custódio Coimbra, Evandro Teixeira, Izan Petterle, Ricardo Azoury e Robinson Roberto. Eles falam o que pensam a respeito dela e como (re) construíram um olhar sobre o mundo natural.

sábado, setembro 21, 2013

A Lenda do Monte Pascoal: Uma História de Amor Indígena

A Lenda do Monte Pascoal em fase de lançamento.
A primavera chegou com o colorido de mais um lançamento cinematográfico do Movimento Cultural Arte Manha e Cineclube Caravelas. Trata-se do filme "A Lenda do Monte Pascoal", mais uma iniciativa do premiado diretor Jaco Galdino em  parceria com Itamar dos Anjos.

Uma história de amor que atravessa o tempo, e que nos enlaça na história, cultura e tradição dos povos indígenas da Costa do Descobrimento e do extremo sul da Bahia, que têm o Monte Pascoal como símbolo maior de suas lutas e esperança de futuro.   

Esse tipo de produção tem o olhar diferenciado do cineasta, não apenas com o olhar estético, mas também ator participante das vivencias territoriais. Assim, o filme nasce como um produto cultural autêntico, e vislumbra os Pataxós à partir de seu próprio olhar, e talentos.

"A Lenda do Monte Pascoal" é uma ficção que não com muita experimentação icnográficas e cenográfica, mostrando a vida e natureza na estética da Costa do Descobrimento. Nessa trama, os atores são os personagens reais, e o enredo, a história dos próprios índios. A mensagem mais profunda se revela através do belo que reafirmam a identidade cultural.

Esse olhar próximo permite fortalece o movimento cultural com a afirmação de sua própria linguagem. Uma das características importantes do trabalho de Jaco Galdino é fazer do documentário ou da ficção, a expressão e representação dos movimentos sociais e culturais cotidianos.Como é bom enxergar o dom na tela, e o bom de ser índio na arte, representar o estar na floresta, sentir a terra comum, e participar de uma vida comunitária. O Arte Manha percebeu faz tempo, que a comunicação e o cinema são meios libertadores e transmissores da mensagem cultural comunitária.

Que bom fazer cinema de índio com o próprio índio criando, e se vendo. "Índio" que é expressão universal genérica para os povos nativos das Américas, mas que representa muito mais do que os brasileiros foram educados a conhecer, e perceber. Quanto mais podermos entender o que representa o Índio dentro de nossas vidas, também seremos menos sujeitos a ignorar uma porção de coisas boas.

Filmes criativos são bem vindos para que olharmos o tema Índio comoalgo atual, pura novidade, o melhor presente e um futuro melhor ainda, pois a arte é o melhor remédio contra o preconceito e a ignorar. "A Lenda do Monte Pascoal" é um remédio homeopático mas que desarma a intolerância automaticamente. A sensibilidade estética e o interesse pela beleza são armas eficazes da arte, que tem uma relação profunda com o ser humano, e por isso, promove sutilmente, a reciprocidade e o diálogo cultural.

"Esse filme ajudará no fortalecimento dos Pataxós, tanto por retratar alguns momentos ritualísticos, como por ajudar na divulgação de nossa cultura".               Índio Tonon  













Índios do Sul da Bahia


Cena do Filme"A Lenda do Monte Pascoal- 2013"
As florestas, o clima, as tradições e a própria história em cada trecho do que chamamos genericamente de Sul da Bahia, possue tons, traços e acordes peculiares. São na verdade, quatro territórios distintos: Baixo Sul, Litoral Sul, Costa do Descobrimento e Extremo Sul da Bahia. Também é diferenciado nesses territórios, o histórico de ocupação, e com a questão indígena não poderia ser diferente.

Um pouco sobre a Saga do Extremo Sul


No extremo sul eu pude acompanhar a problemática quando, junto com o produtor Jaco Galdino registramos, aquele que seria o único depoimento da Luciana Ferreira - Índia Zabelê, a última testemunha do Massacre 51, falecida em 04 de julho de 2012. Reveja nossas reportagens Aqui

A história dos índios da Costa do Descobrimento e do Extremo Sul da Bahia é fácil de contar. Mesmo sendo a terra símbolo do nascimento do Brasil, e naturalmente sempre houveram muitos descendentes, o Estado tomou tudo dos Caboclos, os "cachaçeiros", "marginais" eram "descendentes perdidos sem valor". Oficialmente, polícia e governo promoveram processos de ocupação irregular, e ao final, abriram as portas para o capital internacional que varreu a Mata Atlântica, e junto, a lembrança de direitos indígenas.

É impressionante ver, sentir e saber como não sobrou quase nada de floresta nativa e nem de áreas indígenas no extremo sul da Bahia. A índia Zabelê morreu sitiada no Parque Nacional do Descobrimento. No extremo sul da Bahia, a pecuária e o eucalipto deixam atrás de si um passivo socioambiental gigantesco.

O fracasso das Comemorações dos 500 anos, quando os indígenas foram humilhados e impedidos de entrar em Porto Seguro, começou a se intensificar o movimento organizado e a união dos povos indígenas da Bahia.

A discórdia e intolerância no Litoral Sul

Enquanto no extremo sul, ao menos, nunca se negou totalmente a existência dos índios, até mesmo como logomarca e produto de turismo, no litoral sul não é bem assim. Eu sempre disse que Ilhéus tem índio, e fiz uma reportagem aqui, antes de toda essa confusão estourar (Tupinambá de Olivença), mas fomos criados em um modelo de educação que não se fala da história indígena regional.

Mesmo assim, curioso, desde pequeno observo aqueles índios, muito pobres, parecendo mesmo mendigos, que dormiam detrás da Igreja de Nossa Senhora das Escadas nas festas da Puxada do Mastro. Nesse território, que não se desenvolveu historicamente, também, por conta da resistência indígena, e da topografia de morros e florestas densas, que até hoje favorece a resistência, os índios não são uma figura social reconhecida. Uns três anos atrás, o prefeito e todos os vereadores de todos os partidos marcharam em uma passeata com cartazes de intolerância como "aqui não tem índio, tem bandido".

Não quero falar da providência ou não da demarcação mas de tolerância. Aqui, os índios nunca existiram como expressão local incluída, nem o conhecemos. Só quem sabe deles são médicos contratados da FUNASA que andam lá por Sapucaeira e outros confins que não nos damos conta. No interior temos uma reserva demarcada em Pau Brasil, terra do povo do Índio Galdino queimado vivo em Brasília, e cenário de uma novela de décadas de assassinatos, miséria e incompreensão completa, que atinge a todos, indistintamente. No litoral, eram só "aqueles caboclos de Olivença", e aquela história da Serra do Padeiro que desde os anos 80 sei que é de reivindicação indígena. Agora, todos despreparados e o governo com suas decisões mal encaminhadas e explicadas geram insegurança, intolerância e dificulta ainda mais o reconhecimento pleno dos direitos indígenas. O resultado não é bom, e a sociedade não compreende essa causa como dela própria, mas como uma deriva do estado de paz e de direito.

O governo é o principal articulador dessa crise, e a sociedade como um todo, é negligente, como sempre fomos e estamos acostumados a ser. Agora colhemos o pepino plantado na ditadura e em governos ditadores, e agora tornou-se um interlocutor problemático. Uma onda de estigmatização se lança sobre a terra, onde há completa desinformação e muita necessidade dela para começarmos a entender da causa Tupinambá. 

O primeiro passo, no entanto,é aceitar que temos índios, e que temos isso em nossa identidade ilheense, e que a história de Ilhéus está marcada fortemente pela presença do índio. Isso não significa que é essa não seja também a terra de desbravadores, agricultores, imigrantes, não importa se é gente grande ou pequena, todos precisam conversar sobre demarcação de terras indígenas sem preconceitos.
O diálogo é o caminho não só para a questão indígena, mas para Ilhéus, que hoje não não consegue dialogar, sequer o faz com o governo federal e estadual, que sitiaram o território e o administram sob intervenção completa, decidindo por nós. Só o diálogo territórial, pois todo lugar tem boas cabeças, gente que conhece os problemas locais e suas soluções. Dá Síria a Olivença, só o diálogo guia no caminho da solução.

Segundo o IBGE 2010, o Brasil possui uma população indígena de 896.917 pessoas, distribuídos em 305 etnias, e vivendo nas Zonas rurais (63,8%) e Zonas urbanas (36,2%). Correspondem a 0,47% da população brasileira e possuem 505 terras indígenas (12,5% do território nacional). O nordeste com 25,9% dos índios possui a segunda maior população depois da região norte com 38,2%, sendo que o Centro Oeste possui 16%, o Sudeste 11,1% e o sul 8,8%.