sexta-feira, julho 13, 2012

Personalidade: Oded Grajew



por Paulo Paiva

ODED GRAJEW

ELE É UM MENSAGEIRO DA BUSCAS DE CAMINHOS DA SUSTENTABILIDADE DAS CIDADES, DA SOCIEDADE, DA MUDANÇA QUE COMEÇA NAS PESSOAS, E À PARTIR DAS CIDADES. NO BRASIL, 85% DAS PESSOAS MORAM NAS CIDADES. "É NAS CIDADES QUE VAI SE TORNAR MAIS CLARO O CAMINHO A PERCORRER", AFIRMA.

Todo mundo fala das florestas, da água e dos oceanos, mas o legal é que o Oded Grajew fala das cidades, e da sociedade que vive nas cidades. Vamos encontrar um caminho de mudar esse país sem saúde e educação, a agir agora, todas as comunidades pensando no bem comum. Não queremos que a São Paulo de hoje, seja a Ilhéus de amanhã, e olhe que a São Paulo de hoje, em muitos aspectos é melhor do que a Ilhéus de hoje.


Oded Grejew, um dos organizadores do Fórum Social Mundial, do Projeto Cidades Sustentáveis e do Movimento Nossa São Paulo é um dos grandes mensageiros das preocupações e reflexões centrais de um novo modelo de desenvolvimento. Ele aposta na mudança da governança nas cidades, e no programa de indicadores implantados em São Paulo, um programa piloto, que está sendo adotado por todo o Brasil, como uma referência. Ilhéus é pioneira e está dentro do programa, e refletindo os indicadores sociais, através do Instituto Nossa Ilhéus, dirigido por Maria do Socorro Mendonça, pensando Ilhéus, seguindo o o exemplo do experiente mensageiro. 


O caminho do aprendizado de novas práticas começa ao prestarmos atenção nas coisas, e seguirmos os exemplos. Grajew fala, que se a gente não se incomodar, se não fiscalizarmos o orçamento público, se não comprometermos os nossos governantes com metas e indicadores, ninguém pense que vamos mudar alguma coisa. E essa coisa de que estamos falando é a falta de assistência básica à saúde, e a vida. Em Ilhéus, uma mulher com um nódulo no peito, pode esperar mais de nove meses para fazer uma mamografia.


Todos falamos, reclamamos, mas agora é hora de mudar mesmo, senão vai piorar muito. De apurar os desvios de dinheiro público, a corrupção que consome as riquezas do trabalho, acabar com a farra dos "municípios corruptos, corruptores de seus cidadãos", geralmente, explorando os mais fraco em recursos. 




A proposta é enxergar o que está errado, e propor um novo cenário. Planejar o futuro das cidades Brasileiras. Parabéns ao Instituto Nossa Ilhéus, e que Deus abençõe a sua missão fundamental. Que possamos estar acordados para as mudanças sérias, que o tempo sinaliza que devem acontecer em todos os campos de nossas vidas. Tempo de transformações, onde o mensageiro Oded Grajew é uma das vozes que expressa e comunica essas novas ideias, que mobilizam a urgência de mudanças. Uma sociedade que conversa, dialoga, uma cidade melhor. Um futuro planejado, de bem e paz mensurável é possível. As novas mensagens que precisamos internalizar, como a mensagem de Oded Grajew, de se acordar, "meu povo", e entender que ser cidadão é não se deixar manipular, e não se conformar, por nenhuma ilusão, a violência e a injustiça.

"É nas cidades, do meu ponto de vista, que as coisas vão se decidir. Porque, não só pelas riquezas acumuladas, pela população que está concentrada nas cidades - no Brasil são 85% da população está em cidades. Mas quando a gente fala em florestas, de bioma, da água, é a cidade que consome esses produtos, então, o que a contecer com as cidades é que vai mostrar o caminho que a gente vai percorrer."

 



 

 

quinta-feira, julho 12, 2012

Pagamentos por Serviços Ambientais no Brasil

Levantamento reúne as iniciativas legislativas sobre Pagamentos por Serviços Ambientais em desenvolvimento ou já ativas no Brasil, concluindo que é preciso uma regulamentação em nível federal para alinhar as estratégias

O Imazon e o Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV (GVces) elaboraram um novo estudo chamado Marco Regulatório sobre Pagamento por Serviços Ambientais no Brasil com o objetivo de mapear e analisar leis e projetos de lei sobre PSA e Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal e o papel da conservação, manejo e aumento de estoque florestal (REDD+) em âmbito federal e estadual.

“Entendemos que REDD+ possui várias especificidades ligadas às discussões internacionais sobre mudanças do clima e que nem sempre soluções pensadas para PSA de forma geral podem ser aplicadas diretamente à REDD+ (e vice-versa). No entanto, há aspectos comuns aos dois temas que podem ser comparados para fomentar o debate sobre sua regulamentação e implementação”, explicaram os autores.

Trinta e três iniciativas foram identificadas, porém 28 foram selecionadas para análise, oito em nível federal, entre eles o Fundo Clima e o Programa Bolsa Verde, e vinte em nível estadual (Veja mapa).

Algumas iniciativas específicas são sobre PSAs e outras são de fato leis sobre mudanças do clima, mas que instituem programas de PSA. Os estados abrangidos por estas leis incluem: Acre, Amazonas, Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Paraná.

A grande diversidade de abordagens foi examinada com base em nove componentes: arranjo institucional, tipos de serviços ambientais abrangidos, fontes de recursos, beneficiários, categorias fundiárias elegíveis para os programas, requisitos de acesso ao recebimento de benefício, remuneração e critério de cálculo, sistemas de verificação de prestação do serviço e salvaguardas socioambientais (baseado no documento de Princípios e Critérios Socioambientais de REDD+. Imaflora, 2010).

LEIA O ARTIGO COMPLETO:

Fonte: Instituto Carbono Brasil

quinta-feira, julho 05, 2012

Nossa Homenagem a Zabelê Pataxó: A Anônima Missionária do Brasil

Texto: Paulo Paiva

Seu nome branco, Luciana Ferreira, mas na sua identidade Patáxó chamava-se Zabelê. Ela nasceu no Monte Pascoal, testemunhou a tortura e assassinato de seus pais bo Massacre de 1951. Andou errante com seu povo, por toda a sua vida, em busca de um canto de floresta para viver. Morreu ontem à tarde, aos 79 anos, refugiada no Parque Nacional do Descobrimento-  extremo sul da Bahia, sem o sonhado pedaço de chão brasileiro, que lhe fora dolorosamente arrancado, junto cmo as suas raízes.



O POVO PATAXÓ ESTÁ DE LUTO (Acesse o Blog Reserva Pataxó Aldeia Velha)

Ela nasceu no meio da mata do Monte Pascoal lá se criou (sempre morou no meio do mato, não gosta de morar no lugar cheio de gente, não sente se bem). Seu pai por nome de Emilio, para sustento da família, caçava e sua mãe Salvina cuidava para eles comerem, só que eram assados, eles não comia feijão, arroz, farinha, nada disso e nem conheciam essas coisas. Só comia mandioca cozida e os bichos do mato (tatu, paca, macaco, cutia, tigê) e com isso acostumou não é toda comida que ela come.

Foi uma das vitimas do massacre de 51 marco na historia do povo Pataxó, guerreira que lutou vários anos pela conquista do território Pataxó, sobretudo na área de Cumuruxatiba. Ela era uma das únicas pessoas que falava o Patxohã (língua do povo Pataxó) fonte de pesquisa de vários pesquisadores. Perdemos um livro, uma guerreira e liderança uma das poucas que se preocupava com seu povo.

Nós não te esqueceremos jamais, mãezinha Zabelê. Tú és o vigor da verdade, o verde das florestas, o retrato da história errante, e a certeza de dias melhores. Tú és uma ternura para se lembrar, a missão por cumprir, os olhos da justiça desfeita. Tudo lhe tiraram, menos o intangível: a memória, tradição, sua lingua nativa - tupsai, sua dignidade de mulher, e a sua esperança por "um pedaço de terra". Mãezinha do Brasil, dormi em paz e tranquila, pois, se o amor dos homens, mesmo depois de 500 anos, ainda não pode te enxergar,  em Deus serás forte iluminadora para reconstruir os valores morais, culturais e socioambientais do povo brasileiro.

Te conhecer foi uma grande honra! Jamais serei o mesmo.



Morre a Pataxó Zabelê: Mãezinha do Brasil

Em 2010, quando iniciamos a produção do documentário sobre o território do extremo sul da Bahia, intitulado “Impressões Nativas do Descobrimento” para o projeto 26 DOC´s da TVE-Bahia, sabíamos o que queríamos fazer: ouvir, entender, ampliar as vozes das comunidades tradicionais de índios, pescadores e pequenos agricultores do extremo sul da Bahia. O que eu, pessoalmente, não poderia imaginar, era que eu faria uma singela, e grande descoberta, e que me emocionaria muito.

Partimos em busca da anciã Luciana Texeira, conhecida como Zabelê. Já havíamos determinado, que ela seria o personagem principal do filme. Tratava-se da mais velha índia Pataxó, e última testemunha do grande massacre de 1951, quando ainda pequena, presenciou a tortura e assassinato de seus pais.
Diante de uma história de luta incrível, eu imaginava encontrar uma pessoa arredia, amarga eendurecida, mas encontrei Zabelê, anciã nativa, mulher frágil e delicada, de grande ternura nos olhos, e uma encantadora simplicidade. De imediato, fiquei sensibilizado com a sua presença, e à partir daí, iniciamos a gravação-vivência de um testemunho impressionante, que trás à consciência, as grandes injustiças cometidas contra os índios nativos da terra do descobrimento-achamento do Brasil.Estávamos diante de uma síntese brasileira: fé, amor no coração, caminhos errantes, injustiça que não se acaba...

Um relato de muita emoção nos dava conta, de que, Zabelê e o seu povo, depois de andar errante durante décadas, sempre em busca de uma terra com florestas, onde pudesse salvaguadar sua cultura, havia por fim, se refugiado no Parque Nacional do Descobrimento, chamando assim, a atenção do governo brasileiro para a sua existência, desejos e sofrimento.



Tão injusto, que mais parecia uma ficção. Algo inaceitável para os dias atuais, e para um país que deseja a justiça social. Estávamos ali, ouvindo um depoimento movido a lágrimas. Era a doce Zabelê, a mais velha índia da terra do descobrimento, em pleno século XXI, ainda sem terra, e esquecida por todos. Ela chorou várias vezes ao afirmar que seu único desejo, era que o seu povo tivesse direito a uma terra, onde pudesse manter viva a sua cultura. Também repetiu várias vezes, que não conseguia viver nas cidades, e que sua sonho era voltar a morar na floresta, como os seus pais viveram.

Diante do apelo de Zabelê, o nosso documentário tornou-se importante, e estávamos empolgados em ajudar aquela comunidade, e a própria Bahia e o Brasil, a revelar, valorizar e enaltecer aquela personalidade extraordinária chamada Zabelê. Personalidade, símbolo vivo, pessoa que deveria estar sendo agraciada, homenageada,  ouvida na grande mídia, mas que estava refugiada, privada do básico, do mínimo, da dignidade de possuir uma terra, do direito de expressão cultural.

E ontem à tarde, aos 79 anos, seu coração parou de bater, e estranhamente, perdemos algo muito importante, que nem conhecemos direito, algo que deixamos de resgatar, de justificar e satisfazer. Não compreendo como uma personalidade com uma biografia de lutas como Zabelê, pode passar anônima, sem ser percebida pela grande mídia, pela grane nação que a abandonou.

Nossa mãezinha, e filhinha do Brasil, trazia em si, uma síntese de nossa culturalidade, e de nossas mazelas nacionais. Ela partiu sem ver o seu sonho realizado, as suas terras demarcadas. Chora povo Pataxó, mas não percas a esperança de que os verdadeiros brasileiros ainda hão de te dar as mãos, como assim clamou Zabelê. Não esqueçais jamais de continuar em busca da justiça, e do amparo. Ficarão na nossa memória de produtores cinematograficos, as últimas imagens de Zabelê, registradas em 15 de agosto de 2010 na procissão de Nossa Senhora da Ajuda, onde a índia, crente do Deus Tupã, delicadamente vestida como os brancos, se misturava ao povo, em louvores e fé.

A história viva partiu, sem que pudéssemos devolver a Zabelê toda a honra que ela mereceu, como missionária verdadeira de seu povo, e do Brasil justo. Temos certeza que sua lembrança os ajudará os índios Pataxós, a elevar o seu nome como bastião da luta de seu povo, e de todas as comunidades tradicionais brasileiras, vitimadas pela especulação das terras e do capital.

“Ela sempre brigou para nós usarmos o tupsai e mostrarmos nossa cultura, e não termos vergonha de ser índios”, afirmou a filha de Zabelê em entrevista há alguns anos.

Descanse em paz, mãezinha querida do Brasil!