quinta-feira, junho 18, 2009

Que o santo diálogo nos abençoe!

Demorou muito para que essa região voltasse a ser lembrada em projetos do governo federal, que nos permitisse vislumbrar uma luz no fim do túnel para retomar o desenvolvimento e melhorar uma situação de baixos e persistentes índices de desenvolvimento humano, desemprego e degradação ambiental.

Chegou, pois, o momento histórico, onde uma série de projetos converge para o sul da Bahia, a maioria deles, sequer imaginamos um dia, e eles apontam para nós, a necessidade de compreendermos o que somos e queremos ser. E assim, o sul da Bahia foi redescoberto nos mapas dos projetos do planalto central, nos transformando em um cenário de conflitos ideológicos sobre modelo de desenvolvimento, justiça social e conservação do patrimônio natural.

Não é apenas pelo clima, o cacau e a biodiversidade que o sul da Bahia se parece com a Amazônia, aqui os ruídos também são semelhantes, e replicam-se os conflitos entre agricultura e conservação florestal, proprietários rurais e índios, ambientalistas e empresários. Isto aqui está virando uma "amazoninha" dentro da mata atlântica, mas haveremos de salvar a todos, logo que passe a tsunami da intolerância.

Está faltando o tradicional gosto pela conversa, que pode nos levar a um consenso sobre o que é bom para todos. Não nos entendendo, e remando contra a maré, sem boia, nossos saberes estão repartidos, e nossos valores ameaçados. Estamos perdendo muito tempo com agente mesmo, o mesmo precioso tempo que temos para defendermos nossas ideias e nosso projeto comum.

O sul da Bahia é terra abençoada de toda a gente brasileira e do mundo inteiro, mas pode virar uma Torre de Babel. Por isso, rezamos para que o santo diálogo ilumine os governantes para não falarem sozinhos, para não defenderem projetos como a construção de um porto, um complexo industrial ou a demarcação de terras indígenas, sem ouvir o povo e os especialistas de cada território, que o próprio governo reconhece, tem identidade própria.

São grandes as complexidades dessa região, e existe uma guerra de comunicação na sociedade brasileira. Mas se todos nós baixarmos as armas para o diálogo, estaremos acertando as arestas de um caminho de desenvolvimento, que seja solidário com os que mais necessitam, e humanamente rico e elevado, como merecemos.

O dever de dialogar os direitos.

Observando a multidão de pequenos agricultores, tradicionais e carentes como os índios, em um processo de divisão social, não podemos ficar felizes, mas temos que ter a coragem de reafirmar que o reconhecimento dos direitos de todos eles, pequenos agricultores, descendentes índios e quilombolas e pescadores, é fundamental para o desenvolvimento sustentável do sul da Bahia.

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Esse processo deve acontecer por meios democráticos e justos. Mas é bom esclarecer, que esse reconhecimento não se dá apenas por fatores genéticos, como querem alguns que afirmam que não existem índios aqui. Hoje, aldeamentos indígenas, comunidades de remanescentes de quilombolas sobre as quais pouco se sabe, ou mesmo territorios de pequenos agricultores e pescadores são reconhecidas por uma série de outros valores relacionados a fatores culturais.

Poucos dias antes de mais esse anuncio precipitado do governo federal, e que atingiu muitos dos que querem legitimar, a qualquer custo, o Complexo Porto Sul, publicamos a primeira reportagem sobre os índios do sul da Bahia, realizada em Olivença, onde, aos arredores da Igreja Nossa Senhora das Escadas, sempre encontramos autênticos descendentes desses povos memoriais.

Ilhéus, Una e Buerarema tem descendentes de índios verdadeiros, e, certamente, não são os oportunistas que querem guerra e confusão. Nosso índio é gente simples e ordeira, pequenos agricultores que vivem em regiões como Sapucaeira, que a maioria de nós não conhece.
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Mas a publicação de informações por parte do governo, sobre a demarcação de uma área, inacreditavelmente grande e habitada, sem o desejado diálogo, virou o estopim de um clima tenso, interpretações equivocadas, e uma grande mobilização, com forte participação política, que nega os direitos dos índios.
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Uma grande passeata poderia ser uma boa notícia, é assim que devemos fazer para defender os nossos direitos, mas isto, sem negar o direito dos outros. Infelizmente, esse movimento, e outros, especialmente, os que resistem ao cumprimento das leis ambientais, optaram por não ponderar, e hostilizar o que lhe é adverso, sem se preocupar em deixar livre os atalhos para um diálogo legitimo.
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Governantes e sociedade organizada têm de ter responsabilidade. Tensões na reforma agrária e no reconhecimento de terras índigenas no sul da Bahia não é um problema de hoje, por aqui existe uma forte resistência a essas políticas, e essas populações tem sofrido os efeitos da exclusão e da desagregação social. Nossos projetos indigenistas não deram certo, em Pau Brasil, contam-se os mortos índios e não índios, terra do pobre Galdino, o índio imolado por jovens ricos num ponto de ônibus em Brasília.

Mas nós vamos mudar essa história !

MAIS INFORMAÇÕES

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sexta-feira, junho 05, 2009

O Dia do Meio Ambiente 2009

O texto abaixo é uma homenagem às florestas e ao povo do mundo inteiro que cuida das crianças e da criação com amor. Foi escrito utilizando uma conjugação livre de trechos de Hinos do Santo Daime, em especial , de Alfredo Gregório de Matos, que está a frente de uma grande obra socioambiental na Floresta Amazônica.

Nesse Dia Internacional do Meio Ambiente de 2009, também dedicamos homenagens a todos os habitantes do Sul da Bahia, especialmente, todos que estão cuidando da Área de Proteção Ambiental do Rio Almada - Lagoa Encanta, e Serra Grande - Itacaré, e a todos os que estão trilhando a educação ambiental nesse território da esperança azul e verde.

Também gostaríamos de lembrar Tião, esse querido irmão que partiu a poucos dias, deixando para todos os Ilheenses, uma viva lembrança de amor pela Lagoa Encantada, um de nossos grandes monumentos naturais.
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Salve Tião ! O que se planta no coração não morre mais !
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Peço licença à natureza para umas palavras eu narrar. Eu só vou falar do que eu quero e ainda não pude alcançar. Como é lindo esse chão, nossa pátria, a floresta, esse jardim em flor. Como é belo se ver esse brilho, tão divino da luz do resplendor.

Em pé firme na floresta, eu pedi e tive um toque: Dai-me força e Dai-me Amor! Da floresta eu recebo força para trabalhar, da floresta eu tenho tudo, tudo tudo, Deus me dá.

Meditando sobre a vida, estou aqui e vou dizer, sobre esse dom divino, que está para nascer. É um primor, a floresta, da maneira que é feita, com amor se harmoniza e deixa a terra satisfeita.

Devemos viver na terra com toda satisfação, e se queremos ter a vida, agradeçemos a nossa mãe. Vai seguindo, vai seguindo, cada vez fica mais perto, e o povo não se acorda, dormindo de olho aberto.

Meus irmãos eu vim aqui, a todos esclarecer, o belo jogo da vida, é plantar e colher. Quem planta colhe, colhe tudo o que plantou. Eu já disse e torno a dizer, tudo o que estamos precisando está dentro dessa união. Preste atenção na semente do perdão, que dá os frutos que alimenta o coração.

Cada dia que passa, eu sinto a necessidade de perfeição. O saber está em todos, só nos resta procurar. E todos nós temos o direito de nos aproximar da vida divina, onde o mestre está. Vivemos na terra, guiados pelo sol, olhemos para o tempo, vamos meditando, que nos alcançamos essa posição.
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Quando eu olho a natureza, meu coração se conforta, em ver tanta criatura, e cada um vivendo de sua forma. As nuvens como bênção fazem ligação com a terra, nos dando chuvas divinas, água viva e eterna. Chuva que cai sobre a terra, chuva vinda do astral, podemos ficar mais perto de nosso pai universal.


O sol com vosso brilho a toda mata resplandece, é onde as bênçãos sobre a humanidade descem. A lua nas alturas, consagrada em vossa calma, na mais perfeita harmonia, nos dá força em nossa alma; e as estrelas pequeninas, sua luz incandescente, é como disse o nosso mestre: Só Deus Onipotente.

São as forças da onda do mar, são a forças que fazem chover, são as forças que me fazem ver o poder - onde ele está. O trovão é uma força, é o poder da palavra, e eu considero, assim como todos, que o poder do fogo é a força maior.
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Eu ligado em natureza, a natureza me convém, e o que ela me transmite é o que de melhor existe, amar e querer bem. Andando pela floresta, vejo tudo em minha frente: Vida, Paz e harmonia, com isso me satisfaz.
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Vou colocar minha mãe, bem juntinho do meu pai. Amor, Verdade e Justiça, Fé, Firmeza e Consciência, Serenidade e Respeito, são parte da providência. Calma e Tranquilidade, Obediência e Coragem, Humilhação e Prudência, também são partes dessa imagem.
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Eu vivo é com meu pai, eu vivo é com minha mãe, eu vivo com todos os seres, firme nesse rebanho. Eu vivo com todo amor, sempre alegre cantando, dentro dessa união do nosso Pai Soberano. Eu vou seguindo, com alegria e com amor, seja o que Deus quiser, aqui na terra ou onde for.
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No Site do Ação Ilhéus, uma importante reflexão no artigo de Rui Rocha: 500 anos de história, com o olhar para frente: Ilhéus, cinco de Junho de 2034 !
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E louvada seja a nossa festa !