sexta-feira, setembro 24, 2010

Diálogos da Sustentabilidade (4) Precisamos de desenvolvimento de verdade, o porto da Bamin destói a vida !

Queremos desenvolvimento de verdade - O porto da Bamim destói a vida!
por Rui Rocha
“Queremos para a nossa região o verdadeiro desenvolvimento que respeita a vida humana e o meio ambiente; que tenha a participação efetiva das pessoas na discussão e decisão dos projetos e garanta benefícios para elas e não só para os empreendedores. Lamentamos que órgãos governamentais, entidades e pessoas que se dizem de acordo com esses parâmetros, os neguem na prática.”

D. Mauro Montagnoli, Bispo de Ilhéus

Na prática, o VERDADEIRO DESENVOLVIMENTO da região está no fl orescimento
de uma economia movida pelas pessoas para melhorar a nossa vida e não para ser motivo
exclusivo do enriquecimento de empresas,sejam brasileiras ou internacionais. Uma economia movida pelas vocações que já estão aqui, com o saber do povo da nossa terra. Possuímos mais de 500 mil hectares de cacau,além de todas as frutas tropicais, piaçava, seringa, pesca e toda a infraestrutura de conhecimentos e tecnologias associada ao turismo e indústrias limpas (além do cacau e chocolate, pescado, vestuários, biotecnologia associada a alimentos, cosméticos, fi toterápicos, fl orestropicais e mesmo software para informática) - vocações expressas na geografi a da região.

Estas atividades geram centenas de milhares de empregos e abrem negócios diversos - centenas e milhares de micro, pequenos e médios negócios, pois estão conectados com a riqueza natural, cultural e social do Sul da Bahia. Precisamos de desenvolvimento de verdade o Porto da BAMIN destrói a vida 08 - Abril de 2010 Perdoe-os, Pai; eles não sabem o que fazem!

TURISMO EM ILHÉUS
O turismo é extremamente importante na nossa economia – e pode ser muito maior do que temos hoje, se investirmos com efi ciência. A BAHIATURSA, em 2000, divulgou a geração de 22.500 empregos em Ilhéus (desses, 4.050 diretos e 18.450 indiretos), no ano de 1999. Os investimentos na indústria turística na época foram da ordem de 155 milhões de dólares (US$93 milhões do setor público e US$62 milhões do privado) e só cresceram até 2008, quando o Porto Sul foi anunciado pelo governo.

Desde então, os investimentos em turismo caíram acentuadamente, já que o uso da Ponta da Tulha como zona portuária compromete a qualidade ambiental, irreversivelmente, da Praia do Norte.
Natureza e biodiversidade – O Sul da Bahia é conhecido como uma das regiões mais ricas em biodiversidade do Planeta, mas os estudos da BAMIN dizem que os impactos negativos classifi caram-se, em sua maioria, como signifi cativos ou muito signifi cativos, podendo implicar, no mínimo, a perda do número de espécies na região.
Os impactos na região litorânea - Quando da implantação das estruturas marítimas, principalmente do Quebra-Mar, serão criadas “zonas de sombra”, ou seja, locais onde a ação das ondas será menor. Cada zona de sombra poderá, a longo prazo, criar um banco de areia no mar, entre as estruturas marítimas e a praia e engordar a praia ao sul e em frente ao futuro Terminal Portuário, mudando o padrão de circulação das correntes e contribuindo para o fechamento da barra do rio do Mangue, na Ponta da Tulha.

O relatório da BAMIN também diz que, na fase de operação, com o maior trânsito de embarcações, aumentará a possibilidade de atropelamento de tartarugas marinhas, baleias e golfi nhos.

Animais peçonhentos e comunidades locais – O estudo afi rma que, com o início das obras para a implantação do Terminal Portuário, em especial com a retirada da vegetação, poderá ocorrer o deslocamento de enxames de abelhas e vespas para as localidades próximas, o que poderá oferecer risco aos trabalhadores e à população local.
O mesmo poderá ocorrer com o afugentamento de serpentes que possuem veneno, como a surucucu-pico-de-jaca, a jararacuçu-tapete e a jararaca-de-rabobranco. Peixes e pescadores – os estudos da UFRJ, contratados pelo Governo da Bahia para a avaliação ambiental estratégica,
apontam os riscos sobre os peixes, incluindo, especialmente, os de alto valor comercial, que podem diminuir signifi cativamente na região – afetando a comunidade de pescadores, milhares de famílias que pescam no Litoral Norte de Ilhéus.
O ambiente litorâneo do Sul da Bahia, sem dúvida, será empobrecido com a vinda do Porto da Bamin.

quinta-feira, setembro 23, 2010

Mato Virgem: Parabéns UESC


REPORTAGEM DEDICADA À MEMÓRIA DE CARLA MENDES, QUE TAMBÉM É PARTE DA UESC E DESSA HISTÓRIA !


PINTURA DE ILHÉUS PELA EQUIPE DE MAXIMILIANO DE HABSBURGO EM 1860. COM A TRADUÇÃO E EDIÇÃO DE "MATO VIRGEM", A UESC ESTÁ FAZENDO JUSTIÇA COM A LÍNGUA PORTUGUESA COMO UMA OBRA ESCRITA 150 ANOS ATRÁS.

O Lançamento de "Mato Virgem", livro escrito pelo jovem príncipe austríaco Maximiliano de Habsburgo, o Imperador do México, é um resgate histórico de fundamental importância para o Brasil, o sul da Bahia e educação ambiental. Parabéns UESC, e parabéns, Professor Soane Nazaré de Andrade, que consegue assim, realizar mais um desejo.

A vida era boa no Castelo de Miramar, sua residência, mas a história desse jovem príncipe é marcada por seu amor universal a natureza, e foi nas matas do Banco da Vitória, ali pela terras da fazenda Pirataquissé, que Maximiliano realizou o maior sonho de sua vida: conhecer a verdadeira floresta virgem !

O jovem príncipe Maximiliano da Áustria foi um dos integrantes da família real europeia que se apaixonaram por Ilhéus, e um dos primeiros a transformar nossa paisagem cultural em pintura e livro. Não foi fácil para ele chegar em Ilhéus.. Mas foi aqui, aos 30 anos, que realizou seu sonho: subiu o rio Cachoeira, bebeu água na bica do Banco da Vitória, acampou na Fazenda Vitória (onde o governo está construindo o condominio Vila das Brisas do programa Minha Casa, Minha Vida) e penetrou a grande floresta virgem durante dias.
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A FAMÍLIA REAL EUROPEIA POSSUI MUITAS LIGAÇÕES DE PARENTESCO ENTRE SI, A FAMÍLIA DE MAXIMILIANO TAMBÉM POSSUI PARENTES COMUNS COM A FAMÍLIA REAL PORTUGUESA. NA FOTO COM A ESPOSA CARLOTA. (CONFIRA O PARENTESCO, OU RELEMBRE NOSSA PRIMEIRA IMPERATRIZ E VEJA QUE ELA TAMBÉM É HABSBURGO !


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O livro é uma descrição apaixonada de nossa mata e dos nativos, nossos mestiços, nossos pássaros "os alegres pássaros plumados", o Japú - "seus ninhos pendurados como sacos nos altos galhos das árvores". Um relato interessante é o encantamento do príncipe pelo imigrante Henrique Berbert de Castro, seu guia e parceiro, a quem chamou "O Rei da Floresta". Cinco anos depois, convidado para assumir a coroa de Imperador do México, onde nunca imperou de verdade, morre executado aos 35 anos de idade.
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Sala de jantar de Maximiliano e a pesada Coroa do Imperador do México, que lhe tirou a vida. Não seria melhor ficar por aqui?
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Execução do México aos 35 nos de idade. Túmulo em Viena.

Em 1998, quando o Prof. Soane de Nazaré criou a Universidade Livre do Mar e da Mata, era realizada a primeira Canoagem Ecológica "Viagem ao Mato Virgem" com a presença do embaixador da Áustria no Brasil. Nessa oportunidade realizamos uma primeira experiência de tradução de alguns trechos do livro no documentário com o mesmo nome. O vídeo da Maramata pode ser conferido aqui trás a narração de Ricardo Lemos e da saudosíssima Carla Mendes.

Era mesmo inadmissível que um livro tão antigo que fala da gente e de nossa terra continuasse desconhecido e negligênciado da lingua portuguesa 150 anos depois de ter sido escrito.

Tínhamos esse projeto como algo para correr atrás, e fazer a tradução do inglês. Agora estamos aliviados porque a UESC cumpriu essa obrigação com a sociedade. Nos resta ensinar esse belo capítulo de nossa história aos nossos jovens, e esperarmos um filme, afinal, a vida de Maximiliano é mesmo um roteiro de grandes paixões ...

"Viagem ao Mato Virgem" - Narração Carla Mendes

RELEASE DO LANÇAMENTO HOJE NA UESC

“Mato Virgem”, título original do livro, escrito em alemão, por Ferdinand Maximilian Joseph Von Habsburg, arquiduque da Áustria, em que ele relata a sua viagem a Ilhéus e arredores, nos idos de 1860. O Livro será lançado pela Universidade Estadual de Santa Cruz – Uesc, nesta quinta-feira (23) às 10h30min, no auditório do 5º andar da Torre Administrativa.

O livro, publicado pela Editus, editora da Universidade, está elaborado em duas edições distintas: uma simples em volume único e, outra, em versão luxo desdobrada em três volumes. Trata-se de uma obra ainda inédita no Brasil.

A apresentação é do professor doutor Soane Nazaré de Andrade, um dos incentivadores da obra, e o prefácio da professora doutora Consuelo Pondé de Sena, presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia

A publicação é resultado de pesquisas da doutora Moema Parente Augel, em arquivos da Áustria, Bélgica e Itália, além do Brasil. Totalmente desconhecida dos brasileiros, a obra veio a lume, em 1864, em Viena.

Moema Parente Augel, natural de Ilhéus, é doutora em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pesquisadora há vários anos, na área de Literatura de Viagens, especialmente de estrangeiros que estiveram na Bahia no século XIX, reside na Alemanha onde é professora em universidades daquele país.

quarta-feira, setembro 22, 2010

Encalhe de Baleias

AS BALEIAS DE ILHÉUS
COM FOTOS DE MARY BERBERT
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Não estamos acostumados com a ideia que o sul da Bahia é uma terra das baleias. Temos muito pouca informação sobre isto, e só nos damos conta quando vemos uma delas morta em nossas praias.

Em 2009 eu fiz um passeio de observação de baleias saindo do Yate Clube de Ilhéus por 16 quilômetros e logo ali a emoção toma conta. É como tomar consciencia de um valor que amplia o meu sentido de ilheense e de cidadão sul baiano.

Estamos na terra das baleias Jubarte, que passam cantando numa bela orquestra de vozes entre os meses de julho e outubro. Seu nome científico é Megaptera novaeangliae, uma espécie ameaçada de extinção, e que vem se recuperando após a suspensão da caça. Baleia só é bonita viva ! Dominando com elegência profundidades e distancias no oceano ! Veja nossas Jubartes clicando aqui.



Apesar da moratória da caça e dos encalhes acidentais, a degradação ambiental e os problemas atmosféricos, o tráfego de embarcações, a extração de petróleo e o lixo continuam sendo ameaça para essa espécie e outras tantas em nosso gigantesco litoral, o terceiro maior do mundo.

________________NÚMERO RECORDE DE ENCALHES EM 2010

A imprensa noticia que os cientistas registraram esse ano na costa brasileira, 67 encalhes contra 30 no ano de 2009, e grande parte em Santa Catarina, Espírito Santo e Bahia, um recorde !. Discute-se qual a a razão para esse expressivo aumento de ocorrências, talvez um sinal normal do aumento da população e consequente aumento proporcional de encalhes e animais debilitados, ou causas anbientais estão envolvidas, ou a ação humana, sempre suspeita, possa também trazer uma resposta.
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Só vamos saber ao certo se formos atrás das respostas. Por aqui temos visto baleias mortas nas praias todos os anos. No último mês foram dois registros no litoral norte de Ilhéus. Só que dessa segunda vez foi uma jovem baleia-cachalote de sete metros, espécie batizada com o nome de Physeter macrocephalus, que costuma medir 14 a 20 metros de cumprimento.
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Proteger as baleias é uma missão que não será vitoriosa apenas com a garra dos especialistas, e vai depender da participação integrada de toda a sociedade, extra nacional, global. No extremo sul da Bahia temos uma trabalho importante do Instituto Baleia Jubarte, que já possui o terceiro maior catálogo de fotoidentificação de nadadeiras caudais de baleias jubarte do hemisfério sul.
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O REGISTRO DAS BALEIAS NA PRAIA DO NORTE ESTÃO TENDO A COLABORAÇÃO DA FOTÓGRAFAS MARY BERBERT QUE ESTÁ COLHENDO O MAIOR NÚMERO DE INFORMAÇÕES POSSÍVEIS PARA AJUDAR OS ESPECIALISTAS.
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Cada cidadão pode colaborar nessa luta entrando na guerra contra o plástico, e as fontes de contaminação das águas. E cada um precisa se cobrar isso, e dos representantes no governo e de todo o setor produtivo, principalmente os que utilizam diretamente os serviços dos oceanos.
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Devemos ficar atentos também aos impactos que podem acontecer com as novas instalações portuárias previstas pelo governo para o litoral, como o polêmico projeto Complexo Porto Sul de Ilhéus. Esses projetos certamente devem olhar com muita seriedade que tipo de passivo ambiental vão adotar para não atrapalhar o sonho de salvar nossas baleias, afinal somos milhões e só existem 9.300 com as cores do Brasil.
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Numa primeira consulta através de questionários sobre o Complexo Porto Sul que antecedeu a Avaliação Ambiental Estratégica nós já haviamos considerado os impactos sobre os mamíferos aquáticos como uma preocupação: confira !

sexta-feira, setembro 10, 2010

Diálogos da Sustentabilidade (3): As aventuras de um empresário improvável

As aventuras de um empresário improvável

Após faturar alto com fábrica de chocolate orgânico e financiar agricultura sustentável na Indonésia, americano bon vivant investe no sul da Bahia

Por Cíntia Bertolino do Estadão
As aventuras de um empresário improvável

A trajetória de Frederick Schilling é bem diferente da que se espera de um empresário bem-sucedido. Ex-estudante de religião, fã de Paulo Coelho, guitarrista de banca de rock, ele transformou uma fabricante artesanal de chocolate orgânico num negócio de US$ 17 milhões. Investiu numa rede de agricultura sustentável na Indonésia, que apoia milhares de fazendeiros. Seu último projeto combina, de certa forma, ingredientes dos outros dois: abriu uma fábrica de chocolate na Bahia, estimulando o cultivo orgânico de cacau no sul do Estado.

Há mais de uma década, o americano Schilling estava mais interessado em curtir a boa vida em Telluride, Colorado. Esquiava, tocava guitarra e fumava "toda a maconha que se possa imaginar". Sua única preocupação era fazer chocolate para levar às festas dos amigos. "Eu gostava de cozinhar, mas detestava chocolate industrial. Acabei inventado minha própria receita."

Em 2001, Schilling resolveu bancar o projeto de fazer chocolate orgânico comercialmente. Fundou a Dagoba Organic Chocolate. Totalmente artesanal, a empresa nasceu comprometida com os princípios que orientam a fabricação de produtos sustentáveis: o cacau vinha de fazendas orgânicas e ecologicamente corretas.

Naquela época, a oferta de chocolate orgânico ainda era pequena nos Estados Unidos e a Dagoba chamou a atenção de gigantes do setor. Em 2006, a empresa "alternativa" foi vendida para a multinacional Hershey’s. Schilling teve de enfrentar a indignação de entusiastas dos orgânicos, que o tacharam de "vendido".

O americano, que durante um ano trabalhou como consultor da Hershey’s, acha que fez a coisa certa – e não só porque embolsou alguns milhões de dólares. "Depois de receber a proposta da Hershey’s não dormi por vários dias, mas vi que seria a chance de um chocolate orgânico se tornar um produto de massa. O que jamais aconteceria com a Dagoba", disse, em entrevista ao Estado.

Pouco antes de vender a Dagoba, Schilling conheceu, em uma feira de produtos naturais nos EUA, seu futuro sócio, Ben Ripple, e a companhia Big Tree Farms. "A forma como nos encontramos foi interessante. Estava numa reunião, num lugar afastado, quando um colega de repente virou para mim e disse: ‘Você conhece Ben Ripple? Você precisa conhecer esse cara.’ Naquele exato momento, ele apareceu."

A trajetória de Ripple é tão incomum quanto a de Schilling. Teve início com uma cartada de sorte: num jogo de pôquer, ele ganhou uma passagem para dar a volta ao mundo. Não pensou duas vezes: arrumou as malas e embarcou com a mulher, Blair. No fim da viagem, o casal resolveu ficar um tempo em Bali, Indonésia, e trabalhar com agricultura. Lá, teve contato com ingredientes extraordinários e as dificuldades dos pequenos fazendeiros de negociar seus produtos.

Daí surgiu a ideia de montar uma empresa que ajudasse pequenos produtores a criar cooperativas e a negociar seus produtos de forma justa. Fundada no início dos anos 2000, a Big Tree Farms trabalha com fazendeiros de todas as partes das mais de 17 mil ilhas que compõem o arquipélago indonésio. Só em Bali são cerca de 3 mil agricultores.

"Fiquei muito interessado no trabalho admirável que Ben estava fazendo na Indonésia. Lidar com cadeia de produção é muito difícil", conta Schilling. "Sem saber se a companhia dele era lucrativa ou que retorno eu teria, disse que gostaria de investir. Como gosto de pôr a mão na massa, acabei virando um parceiro."

Além de negociar ingredientes, a Big Tree Farms ajuda agricultores que queiram melhorar seus produtos e torná-los orgânicos. Também os encoraja a evitar a monocultura e a preservar a mata nativa. "Fazendeiros, especialmente os de países em desenvolvimento, estão no fim da cadeia de valor. Eles são as peças mais importantes e também as menos valorizadas. Não faz sentido, mas é assim que as coisas são", lamenta Schilling.

Atualmente a Big Tree Farms trabalha com castanha de caju, especiarias, mel e flor de sal. "As castanhas de caju vêm da Ilha de Flores, ao leste de Bali. Elas são quebradas e suas películas retiradas manualmente. Um dia inteiro de trabalho rende apenas 2 quilos e, como a maior parte dos fazendeiros tinha pouquíssimas opções para comercializá-las, muitas vezes elas eram vendidas a atravessadores que pagavam quase nada."

A Indonésia é a terceira maior produtora mundial de cacau. Quase toda a produção do país, porém, é destinada à fabricação de manteiga de cacau e cacau em pó, em virtude da baixa qualidade das amêndoas. Influenciada por Schilling, a Big Tree Farms passou a incentivar a fermentação e a secagem do cacau – processos fundamentais para se obter um bom produto –, o que aumentou em 30% o faturamento dos produtores. "Tudo o que negociamos é orgânico. Para mim, é o melhor tipo de agricultura que existe."

Este ano, Schilling voltou a usar sua expertise em orgânicos e a produzir chocolate. Seu parceiro é o produtor de cacau baiano Diego Badaró, com quem criou a AMMA Chocolates.

A matéria-prima vem de fazendas de cultivo orgânico de Badaró e os chocolates finos, com diversas porcentagens de cacau, são feitos na fábrica em Salvador. É um dos poucos chocolates do mundo em que, do cultivo do cacau à barra, todo o processo de produção é acompanhado pelos sócios. "A AMMA é a realização completa da minha experiência com chocolate."

sexta-feira, setembro 03, 2010

O Vídeo Socioambiental





Irmãos de Água é um documentário sobre a APA da Lagoa Encantada e Rio Almada.

A produção audiovisual é uma das ferramentas poderosas da comunicação ambiental. A maior acessibilidade dos equipamentos digitais fez do Brasil o país que mais produz curta metragens em todo o mundo, e assim, territórios como o sul e extremo sul da Bahia fazem parte dessa história. Esse tem sido o esforço de novos produtores e documentaristas revelando e redescobrido nosso país à partir de todos os olhares.

Esse novo movimento de democratização da produção e difusão audiovisual trás mais autonomia social na informação, contribuindo com o desenvolvimento sociocultural, a documentação da história, e sobretudo, a reflexão permanente sobre os valores que desejamos promover em nossa sociedade.

Uma das áreas da comunicação audiovisual próspera é a produção de vídeos socioambientais, que mergulham na revitalização dos movimentos sociais, resgate do conhecimento tradicional, popularização de conhecimentos científicos, proteção e manejo adequado dos recursos naturais, da conservação das florestas, dos rios e dos mares, da qualificação de uma nova empresa com resposabilidade socioambiental, do marketing ecológico.
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Esses vídeos tem sido produzidos em todos os formatos e de todas as formas, seja utilizando uma máquina fotográfica ou investindo em produções profissionais. Assim, os territórios passam a contar com um acervo significativo de vídeos de vários gêneros, documentos que trazem novos espelhos para a nossa reflexão.
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As unidades de conservação, a mata atlântica, os índios, os negros e os pequenos agricultores; o diálogo do desenvolvimento e o debate da sustentabilidade, a proteção ambiental, a economia solidária, o resgate cultural têm sido os temas recorrentes dos trabalhos de novas produtoras como o Eco Estúdio (Ilhéus) e a Avenida Filmes (Caravelas) que estão ousando um espaço no mercado profissional de vídeo, nos circuitos de exibição e na formação de novas plateias com uma produção cinematográfica mais regional.
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Visite o Blog do Eco Estúdio e conheça projetos e propostas com a produção audiovisual. No canal do Eco Estúdio no Youtube você pode acessar as coleções de vídeos com os melhores curtas ambientais sobre o sul da Bahia e outras temáticas. Descubra nossos próprios recordes no youtube, se apaixone e ajude a promover o vídeo socioambiental, e um dia teremos tanta audiência quanto o humor de "Solange, a Gaga de Ilhéus" que conta com números impressionantes (2.606.592 exibições em apenas um de seus vídeos).

quarta-feira, setembro 01, 2010

Diálogos da Sustentabilidade (2) : Porto Sul afeta jovem democracia baiana

Porto Sul afeta jovem democracia baiana

Por Suzana Padua
* Doutora em educação ambiental, presidente do IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas, fellow da Ashoka, líder Avina e Empreendedora Social Schwab.

Para o projeto “Pedra de Ferro”, da Bahia Mineração (BAMIN) sair do papel, o governo da Bahia parece estar querendo sacrificar dois coelhos com uma só cajadada. Para fins de ilustração, as vítimas são meio ambiente e a própria democracia brasileira. O cenário de ambos é uma área de proteção ambiental, a Lagoa Encantada, detalhe que está sendo sumariamente ignorado.

Meio ambiente, como tem sido continuamente percebido em projetos de grande monta como o que está em questão, acaba por sofrer impactos irreversíveis. No caso da construção do Porto Sul, na região entre Ilheus e Itacaré, Sul da Bahia, as perdas são irreparáveis. Segundo especialistas do Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente (LIMA), da COPPE/UFRJ, a paisagem costeira, a biodiversidade e as populações que vivem nesta zona do litoral brasileiro sofrerão para sempre com a poluição atmosférica. Além disso, a supressão de centenas de hectares de Mata Atlântica compromete a integridade de corais e recursos pesqueiros. A atividade turística fica severamente alterada por conta da perda da natureza e das belezas cênicas, entre outros impactos indicados pelos especialistas.

Há, ainda, a previsão de um fluxo migratório intenso para Ilhéus e cidades vizinhas. Estima-se que 150 mil pessoas poderão se deslocar para a região em busca de oportunidades de trabalho. Mas, o que não está sendo divulgado é que o porto da BAMIN gerará no máximo quinhentos (500) empregos. Os empregos indiretos, que podem ter maior expressão, dependem de um pólo siderúrgico, também previsto para a região ao longo dos próximos dez anos (em um cenário otimista). Um detalhe que ninguém menciona, provavelmente por não interessar a argumentação que vem sendo utilizada, é que os empregos já existentes, gerados com turismo, industria de informática, produção de alimentos e pesca nesta região são muito superiores aos estimados com a construção do Porto Sul. Menos ainda se divulga que estes empregos, dos quais muitos dependem hoje para viver, serão diretamente afetados com a presença dos projetos almejados pela BAMIN para a região.

Todavia, o sacrifício ambiental e o impacto social são vistos como inexoráveis - afinal, o crescimento econômico é prioridade e o país não pode parar. Ignora-se uma reflexão cuidadosa sobre o impacto que poderá causar um projeto como este, ou quem irá se beneficiar concretamente com a construção do Porto Sul.

Talvez a mais grave perda seja a moral, pois para que o meio ambiente seja sacrificado, é preciso eliminar um outro obstáculo: a adolescente democracia baiana. Em Itajuípe, cidade a 45 Km de Ilhéus, no Sul da Bahia, no último sábado, 14 de agosto, a institucionalidade foi mais uma vez nocauteada, em um contexto que beira covardia. O município está incluído no território de uma Área de Proteção Ambiental (APA), da qual representantes deste e de outros municípios vizinhos, como Ilhéus e Itabuna, participam do Consellho Gestor desta unidade de conservação, com um papel relevante - referendar ou não projetos públicos e privados no seu território.

Neste evento, o superintendente de biodiversidade e florestas da Bahia, Sr. Ubiratan Félix, parece ter ficado o tempo todo sob o olhar atento de cinco técnicos da Bahia Mineração (BAMIN), espalhados pelo auditório. Conduziu um discurso para os presentes em nome do governador Jaques Wagner, no qual enfatizou que a anuência (ou aprovação) deveria ser dada naquele encontro. De fato, os tímidos Conselheiros, representando comunidades do interior da APA, além de técnicos governamentais, subjugados pelo contexto institucional, foram convencidos autocraticamente a uma votação pelo SIM a BAMIN. Ao final, 13 votos a favor, cinco abstenções e apenas um voto contrário definiram o resultado do dia.

A Bamin comemorou o resultado. Afinal, esta era uma das exigências do IBAMA para concluir o licenciamento do terminal privativo do Porto, nos domínios da Mata Atlântica. Para o vice-presidente da Bamin, Clóvis Torres, a anuência da APA da Lagoa Encantada/Rio Almada dá importante respaldo ao projeto. “Estamos confiantes que a licença do IIBAMA para o nosso terminal saia ainda este mês”, afirmou. Torres disse, ainda, que a decisão do Conselho demonstra compreensão “de que o nosso projeto traz embutido um conceito de promoção do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável”.

Entidades sociais, culturais e ambientalistas, em manifesto público em maio deste ano, recomendaram ao governo baiano, ao IBAMA e ao Ministério do Meio Ambiente a suspensão deste projeto, indicando outra alternativa de localidade, notadamente a região de Aratu, no interior da Baia de Todos os Santos. Os impedimentos legais para a construção de um porto privado no meio de uma Área de Proteção Ambiental parecem não ser obstáculo para a empresa, já que o governo baiano está alterando qualquer impedimento institucional, até mesmo a livre expressão de opinião de seu Conselho Gestor. A perda tange a participação cidadã brasileira, que acabou parecendo singela nos espaços da jovem democracia que foi tão ignorada. Trata-se, portanto, de um abalo moral, além das perdas ambientais e sociais que, sem dúvida, advirão da construção do Porto Sul.