O Brilho da Biodiversidade nas Fazendas do sul da Bahia
Os poucos remanescentes de mata íntegra
no sul da Bahia são potes de ouro do conhecimento científico, cultural e da história da biodiversidade, além de ser um baú de novidades e inovação. Estudando os animais e plantas do
mundo logo reconhecemos as fazendas dessa região, e suas excentricidades. Algumas logo se
destacam com valiosas informações e grandes listagens de espécies, e plantas unicamente conhecidas dessas
propriedades.
A Fazenda
Almada (Uruçuca) tem pelo menos 602 registros de espécies, e alguns deles remontam
a viagem de Carl Friedrich Philipp von Martius há 200 anos. Em Una, a Fazenda São Rafael elenca, ao menos, 247 espécies de 156 gêneros e 74 famílias
registradas em 18 coleções botânicas. Doze destas já foram incluídas na lista
vermelha de espécies ameaçadas do Brasil, incluindo dois tipos de Ingá (Ingá aptera e Ingá grazielae).
Já na Fazenda Pirataquissé (Banco da Vitória, em Ilhéus) teve uma base da Fundação Oswaldo Cruz para o estudo da Febre Amarela e e citada em publicações internacionais. Na Matinha, ainda conservada, repousa segredos da história da família das pimentas, que tem centenas de registros no município, e uma delas homenageia Ilhéus, a Pipper ilheusense, que possui propriedades medicinais. A Matinha também está intimamente relacionada a pesquisas
históricas do Museu Nacional, especialmente relacionadas ao acervo da fauna e flora recolhidos na década de 40, por memoráveis cientistas, e é citada em importantes estudos sobre vírus em macacos, incluindo um vírus (e doença) conhecido como Ilheus Encephalitis. Por essa e outras pesquisas a fazenda é citada internacionalmente na historia do famoso Callithrix kuhlii.
O estudo do Callithrix Kuhlii e o vírus da febre amarela têm a Fazenda Piarataquisse, em Ilhéus, como referencia histórica. |
Pirataquisse (Fazenda), 14°50′S, 39°05′W. Serviço de Estudos e Pesquisa sobre a Febre Amarela (SEPSFA). Attributed to C. jacchus penicillata (C. j. penicillata × C. j. geoffroyi) by Hershkovitz (1977, p.938, locality 299). Also cited by Kinzey (1982; locality 18). Vivo (1991) lists one skull and one skin in the USNM, and 25 skins, 21 skulls in the MNRJ. Cited by Mendes (1997; locality K4) and attributed to C. kuhlii. Attributed to C. j. penicillata by Ávila-Pires (1969). Vaz (2005) lists a number of localities under the general heading of “Pirataquissé, municipality of Ilhéus. District of Banco da Vitória (14°48′S, 39°07′W).
Esse grande acervo do conhecimento se soma aos demais valores de nossas fazendas, e leva seus nomes como referencias obrigatórias em centenas de publicações científicas por todo o mundo. Apesar da notoriedade, historicamente, tem faltado posicionamento e incentivo dos governos para a proteção desse herbário vivo, considerado pela unanimidade dos botânicos, em declínio, e marcada por plantas e animais endêmicos e ameaçados, a maioria pouco conhecidos, ou completamente desconhecidos.
Restando apenas 2,8% de matas íntegras remanescentes na região cacaueira buscamos, em 1998, uma aliança entre o IBAMA e a CEPLAC para essa obrigatória missão constitucional. Dez anos depois, em matéria no Jornal Agora com apoio de Ronaldo Santana, fazendeiro que aderiu a causa das reservas de forma pioneira com a criação da RPPN Mãe da Mata, abordei a ideia do governo federal criar um mecanismo de reversão de dívidas em reservas particulares.
Numa região onde 98% das matas estão nas fazendas de cacau, apenas o modelo público dos Parques não garante a proteção da biodiversidade, e apesar de esse ser um item fundamental que as prefeituras precisam aderir em todos os seus empreendimentos, o sucesso da proteção depende de forma inevitável da agregação de milhares de pedaços de matas perpetuas, porém particulares, maiores ou menores, mas em toda escala, interligadas. É um projeto que depende de ampla participação social, e só alcançará sucesso se todos juntos, criarmos um mosaico de "espaços da mata" com seus nomes, identidades, histórias e peculiaridades, sendo bem cuidados, para assim garantirmos o corredor ecológico por onde a vida aconteça, os animais transitem e a polinização e dispersão sejam bem sucedidas, enfim, a evolução milenar não seja interrompida, ao menos, até onde saibamos e sejamos capazes de evitar.
Restando apenas 2,8% de matas íntegras remanescentes na região cacaueira buscamos, em 1998, uma aliança entre o IBAMA e a CEPLAC para essa obrigatória missão constitucional. Dez anos depois, em matéria no Jornal Agora com apoio de Ronaldo Santana, fazendeiro que aderiu a causa das reservas de forma pioneira com a criação da RPPN Mãe da Mata, abordei a ideia do governo federal criar um mecanismo de reversão de dívidas em reservas particulares.
Numa região onde 98% das matas estão nas fazendas de cacau, apenas o modelo público dos Parques não garante a proteção da biodiversidade, e apesar de esse ser um item fundamental que as prefeituras precisam aderir em todos os seus empreendimentos, o sucesso da proteção depende de forma inevitável da agregação de milhares de pedaços de matas perpetuas, porém particulares, maiores ou menores, mas em toda escala, interligadas. É um projeto que depende de ampla participação social, e só alcançará sucesso se todos juntos, criarmos um mosaico de "espaços da mata" com seus nomes, identidades, histórias e peculiaridades, sendo bem cuidados, para assim garantirmos o corredor ecológico por onde a vida aconteça, os animais transitem e a polinização e dispersão sejam bem sucedidas, enfim, a evolução milenar não seja interrompida, ao menos, até onde saibamos e sejamos capazes de evitar.
Uma vez valorizadas, os benefícios dessa riqueza poderão vir a ser compartilhados por todos, e o caminho é a sensibilidade, que uma vez conquistada, resulte na prática da multiplicação das reservas íntegras, ao lado das fábricas de chocolate, cultivos de cacau e grande variedade de frutos e flores tropicais, dentre tantos outros produtos da floresta. História, ciência, cultura, inovação e tecnologia brilha através da biodiversidade ainda presente nas fazendas de cacau do sul da Bahia. Este é um valor indissociável da identidade e do desenvolvimento dessa região.
A Piper ilheusense é uma planta da família das pimentas comum por aqui, e que carrega o nome de Ilhéus na origem de sua descoberta. A planta possui propriedades medicinais em estudo. |
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