CAPITAL ESPECULADOR GOVERNA ILHÉUS

Ilhéus ainda não tem um planejamento estratégico para as próximas décadas, e corre o risco de se prostituir facilitando projetos mal planejados. Pode até ser bom pra uns, mas não será para a maioria da população. Mas como já me reclamaram dessa reportagem, é bom deixar claro: Que venha o shopping para Ilhéus, mas no lugar, e da forma correta. (Foto:José Nazal)
Do jeito que as coisas vão, mais parece que o capital especulador é quem governa (ou desgoverna) o município de Ilhéus. Quem entende e se interessa por gestão pública e planejamento urbano e territorial, ou tem um bocadinho de conhecimento sobre os desafios do município de Ilhéus precisa reconhecer que estamos vivendo, o momento mais crítico de nossa história, e precisamos de uma posição, e de uma liderança consciente disto. Estamos abrindo mão da governança, do pertencimento, e não somos - nós mesmos, os autores e protagonistas do planejamento de nossa lugar, enquanto os interesses passageiros ocupam o  espaço do planejamento participativo. O que vemos é uma linha de projetos pensados por "macianos" em um filme que nos sugere:  "Aceitar e silenciar".

Vivemos na "casa da mãe Joana" onde quem planeja é o governo do estado, e grandes corporações que aspiram lucros, e se beneficiam com a insegurança de municípios em crise e prefeituras falidas. A conivência do executivo e legislativo municipal é a mesma para o novo morador de barraco que destrói o mangue para ficar mais perto da comida e do emprego, ou o empresário que destrói e imobiliza a cidade para facilitar seus negócios. 

Nesse tipo de cenário temos um campo fértil para a corrupção e beneficiamento de pequenos grupos, que nos afastam cada vez mais dos excluídos, e criam exclusão. Estamos de bunda pra lua em uma cidade repleta de irregularidades, onde os instrumentos de gestão urbana, obrigatórios por lei e políticas de governo não são postos em prática. Ilhéus se colocou a venda a preço de banana, e tornou-se um lugar fácil de se beneficiar com o bem público.

Enquanto isto, o futuro continua dependendo de um planejamento com base técnico-científica, orientado pela participação e pela modernidade. Carecemos de um caminho de participação inteligente, legítima e ética nas decisões sobre nosso bem comum. Estamos ignorando o planejamento urbano de qualidade. E enquanto o poder executivo e legislativo não entrar em cena com personalidade, continuaremos a ser a cidade mais agredida do litoral brasileiro. As decisões de agora terão impactos por décadas, e não devem ser orientadas por um olhar simplificador e imediatista, sem uma lente de médio e longo prazo. Não podemos tapar um buraco, abrindo outros tantos. Vamos seguir os exemplos de outras cidades que estão dando certo em suas estratégias. Vamos superar a crise com o triunfo da qualidade de vida consolidada, e não permitir o atrapalho nesse meio de caminho entre o passado e o futuro.

Eu gostaria de dizer um monte de palavrões, mas prefiro desejar que todos os meus colegas, também façam o bom uso da palavra, através do jornalismo com reflexão, e ajudem Ilhéus. A notícia precisa ser acompanhada da reflexão, e não deve apenas reproduzir a mensagem dos "releases". É preciso apurar, questionar, comparar, monitorar e promover a verdadeira reflexão que a informação sugere, pois só assim poderemos opinar e participar. É preciso fazer isto antes  que nos encontrarmos presos em um congestionamento, e reclamando. 

Desejo, e "convoco" meus colegas jornalistas a serem críticos e resistentes em nome do interesse do povo, pois a imprensa calada seria o pior reflexo dessa crise. 

O ABSURDO DO PROJETO FANTASMA DE UMA NOVA PONTE

O projeto e o processo de construção da nova ponte Ilhéus-Pontal é emblemático. Não há consulta pública,  e nem sequer é necessário apresentar um projeto aos ilheenses. Como pode, nem o prefeito saber qual é a ideia? Isto fica claro nas informações contraditórias que são divulgadas pela assessoria de imprensa da prefeitura. É um absurdo completo que uma obra seja licitada, sem que seja apresentada em detalhes aos principais interessados. Tem semelhança aos projetos da ditadura militar, como o Porto Internacional do Malhado. Eu fico sem entender tanta falta de transparência, e assim, devemos esperar pelo pior, como já anunciou o flagelo vergonhoso do afogamento dos quatro trabalhadores, logo no início da obra. Não foi mais um acidente, mas um sinal claro que está tudo errado, nós todos, o processo e nossas instituições. 

CAPITAL IMPACIENTE NÃO ENXERGA IGREJA

No dia em que eu vi o bispo Dom Mauro pedindo a empresários para não destruir a Capela de Fátima em Ilhéus, pensei: Que bobagem! - Como o bispo pode imaginar uma coisa dessas? E logo anunciaram que respeitariam a igreja, mas passado alguns  dias, sabe como é, dinheiro por dinheiro, o cão do lucro atenta, e veio uma nova notícia: Vão demolir o Santuário! 

Os empresários capitalistas da saúde desistiram de abrir mão daquele espaço, que é tradicional para as Senhoras de Caridade de Ilhéus? Nem acredito, e se for verdade é mesmo lamentável. Chego a temer pela ira divina contra o salutar empreendimento. É falta de fé receber uma notícia dessa no ano do Centenário de umas das Dioceses mais importantes do Brasil. É imoral demais, e pior será, se a Diocese aceitar contrapartidas econômicas, pois nessa racionalidade econômica, despida de valores intangíveis, a tradição e história das pessoas não têm tanto valor assim, e podem ser compensadas com dinheiro. 

SHOPPING CENTER ONDE?        
     
Qual o sentido de nossas universidades públicas e privadas, e seus cursos voltados para o futuro, se não pomos em prática o conhecimento? 

É evidente que o Estádio de Futebol Mário Pessoa, como o aeroporto atual não têm como se adequar a reengenharia e reurbanização de Ilhéus com o foco na mobilidade e melhoria da qualidade de urbana. No entanto, pensar um Shopping Center aonde temos um nó de mobilidade tão difícil de desatar é muita falta de criatividade, sobretudo quando estamos pensando uma Região Metropolitana. Pesa também que esse Estádio não é privado, eu sinto como se fosse meu - nosso, e que tem uma finalidade social adquirida. Trata-se de um espaço nobre, que poderia servir ao incremento de um projeto tão solidário, senhores vereadores, como é, para o povo, um campo de futebol. 

Antes de pensar no Shopping do Iguatemi, seria justo anunciar o destino do Instituto Municipal de Educação, que alias, por ética, é quem deve ser o primeiro a ter o direito de ser beneficiado com a desativação do estádio. Por que não pensamos em derrubar aquele velho prédio e construir uma super escola pública com sua própria vila olímpica. Porque não fazemos isso, e não botamos lá um monumento em homenagem a Milton Santos, e criamos , com isso, um grande marco  cultural e social para nossa terra? Afinal, o que somos? Que tipo de credibilidade devemos dar a uma informação que trata o destino de nossa mais tradicional escola pública como secundário em relação a  um projeto empresarial? A notícia sai invertida em favor do capital, e contra a educação, e se esquecem até de dar uma satisfação sobre onde, e quando e como será a nossa nova Vila Olímpica, ou vivermos todos desse centro de compras chamado shopping center?  

Espaço pra ele não falta.Temos diversas e as mais variadas opções, e se querem no centro da cidade, temos uma excelente área para ele no terreno sub-utilizado da Petrobrás na Cidade Nova, onde é possível deslumbrar um super shopping verticalizado com dois pisos de garagem, e de quebra uma das maiores vistas do Brasil. E como também é público, bem do povo, precisaria negociar uma grande contrapartida. Que tal ajudando a construir a grande escola que merece o Milton Santos, a Perpetua Marques e o Heitor Dias? 

PRÉDIO DA T.R.E. BAHIA NA AVENIDA ESPERANÇA: BURRICE

Não faltam casos que demostram falta completa de bom senso e preocupação com o planejamento urbano da cidade de Ilhéus. É incoerente e chegamos a desconfiar da capacitação dos que decidem algumas intervenções urbanas em Ilhéus. Enquanto caminhamos para o colapso da mobilidade, pouco tempo atrás, permitimos a construção de um prédio do Tribunal Eleitoral em uma avenida estrangulada (Avenida Roberto Santos-Bairro Esperança), na beira do rio, de costas para a deslumbrante paisagem histórica do Parque da Esperança e Rio Itacanoeiros, num belo terreno de uma bairro pobre onde faltam espaços de mobilidade, cultura, lazer e entretenimento. É absurdo e tem implicações deixar de dar um uso estratégico para o bem da comunidade e o povo em geral. 

PORTO SUL, MANGUEZAIS E INVASÕES.

De que adianta falar tanto em novas universidades e graduações em gestão, se não estamos dispostos, e nem temos espaço para colocar o conhecimento e a ciência em prática; se somos obrigados a assistir decisões precipitadas ao invés de decisões estratégicas. Temos a sensação de estamos desgovernados ou manipulados por quem possa se beneficiar dessa incoerência. 

Queria xingar pelas invasões da Estrada Ilhéus - Itacaré, das quais só foi removida a que aconteceu em área privada. Depois de todos os acordos públicos que ouvi e li, acertados em nome da licença do Porto Sul, vejo tudo caí por terra, ainda tão cedo. Nada impede as invasões em área´pública e de preservação permanente e todo o entorno da área prevista para o projeto; promovidos de forma política, e por pessoas que não são necessitadas de primeira moradia.

Ilhéus está violenta, triste e vulnerável, e a invasão de áreas públicas tornou-se um processo indefinido e caótico. Não sabemos aonde vamos, e as informações que chegam nos confundem e nos angustiam ainda mais . Querem mais um exemplo fresquinho de hoje mesmo? Semana passada os munícipes foram informados pelo Diário de Ilhéus que a BA 415, nossa principal rodovia será duplicada no mesmo eixo, hoje, Cezar Borges, Ministro dos Transportes voltou a dizer que é será pelo lado direito do rio Cachoeira. É um ruído de comunicação impressionante...

Comentários

Deraldo Pitombo disse…
Vou continuar comentando dentro do FACEBOOK - grupo O POVO NO PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO.

Postagens mais visitadas deste blog

Morro de Pernambuco - queimada e abandono

As Flores do Sul da Bahia

O Parque Marinho da Pedra de Ilhéus