sábado, setembro 21, 2013

Índios do Sul da Bahia


Cena do Filme"A Lenda do Monte Pascoal- 2013"
As florestas, o clima, as tradições e a própria história em cada trecho do que chamamos genericamente de Sul da Bahia, possue tons, traços e acordes peculiares. São na verdade, quatro territórios distintos: Baixo Sul, Litoral Sul, Costa do Descobrimento e Extremo Sul da Bahia. Também é diferenciado nesses territórios, o histórico de ocupação, e com a questão indígena não poderia ser diferente.

Um pouco sobre a Saga do Extremo Sul


No extremo sul eu pude acompanhar a problemática quando, junto com o produtor Jaco Galdino registramos, aquele que seria o único depoimento da Luciana Ferreira - Índia Zabelê, a última testemunha do Massacre 51, falecida em 04 de julho de 2012. Reveja nossas reportagens Aqui

A história dos índios da Costa do Descobrimento e do Extremo Sul da Bahia é fácil de contar. Mesmo sendo a terra símbolo do nascimento do Brasil, e naturalmente sempre houveram muitos descendentes, o Estado tomou tudo dos Caboclos, os "cachaçeiros", "marginais" eram "descendentes perdidos sem valor". Oficialmente, polícia e governo promoveram processos de ocupação irregular, e ao final, abriram as portas para o capital internacional que varreu a Mata Atlântica, e junto, a lembrança de direitos indígenas.

É impressionante ver, sentir e saber como não sobrou quase nada de floresta nativa e nem de áreas indígenas no extremo sul da Bahia. A índia Zabelê morreu sitiada no Parque Nacional do Descobrimento. No extremo sul da Bahia, a pecuária e o eucalipto deixam atrás de si um passivo socioambiental gigantesco.

O fracasso das Comemorações dos 500 anos, quando os indígenas foram humilhados e impedidos de entrar em Porto Seguro, começou a se intensificar o movimento organizado e a união dos povos indígenas da Bahia.

A discórdia e intolerância no Litoral Sul

Enquanto no extremo sul, ao menos, nunca se negou totalmente a existência dos índios, até mesmo como logomarca e produto de turismo, no litoral sul não é bem assim. Eu sempre disse que Ilhéus tem índio, e fiz uma reportagem aqui, antes de toda essa confusão estourar (Tupinambá de Olivença), mas fomos criados em um modelo de educação que não se fala da história indígena regional.

Mesmo assim, curioso, desde pequeno observo aqueles índios, muito pobres, parecendo mesmo mendigos, que dormiam detrás da Igreja de Nossa Senhora das Escadas nas festas da Puxada do Mastro. Nesse território, que não se desenvolveu historicamente, também, por conta da resistência indígena, e da topografia de morros e florestas densas, que até hoje favorece a resistência, os índios não são uma figura social reconhecida. Uns três anos atrás, o prefeito e todos os vereadores de todos os partidos marcharam em uma passeata com cartazes de intolerância como "aqui não tem índio, tem bandido".

Não quero falar da providência ou não da demarcação mas de tolerância. Aqui, os índios nunca existiram como expressão local incluída, nem o conhecemos. Só quem sabe deles são médicos contratados da FUNASA que andam lá por Sapucaeira e outros confins que não nos damos conta. No interior temos uma reserva demarcada em Pau Brasil, terra do povo do Índio Galdino queimado vivo em Brasília, e cenário de uma novela de décadas de assassinatos, miséria e incompreensão completa, que atinge a todos, indistintamente. No litoral, eram só "aqueles caboclos de Olivença", e aquela história da Serra do Padeiro que desde os anos 80 sei que é de reivindicação indígena. Agora, todos despreparados e o governo com suas decisões mal encaminhadas e explicadas geram insegurança, intolerância e dificulta ainda mais o reconhecimento pleno dos direitos indígenas. O resultado não é bom, e a sociedade não compreende essa causa como dela própria, mas como uma deriva do estado de paz e de direito.

O governo é o principal articulador dessa crise, e a sociedade como um todo, é negligente, como sempre fomos e estamos acostumados a ser. Agora colhemos o pepino plantado na ditadura e em governos ditadores, e agora tornou-se um interlocutor problemático. Uma onda de estigmatização se lança sobre a terra, onde há completa desinformação e muita necessidade dela para começarmos a entender da causa Tupinambá. 

O primeiro passo, no entanto,é aceitar que temos índios, e que temos isso em nossa identidade ilheense, e que a história de Ilhéus está marcada fortemente pela presença do índio. Isso não significa que é essa não seja também a terra de desbravadores, agricultores, imigrantes, não importa se é gente grande ou pequena, todos precisam conversar sobre demarcação de terras indígenas sem preconceitos.
O diálogo é o caminho não só para a questão indígena, mas para Ilhéus, que hoje não não consegue dialogar, sequer o faz com o governo federal e estadual, que sitiaram o território e o administram sob intervenção completa, decidindo por nós. Só o diálogo territórial, pois todo lugar tem boas cabeças, gente que conhece os problemas locais e suas soluções. Dá Síria a Olivença, só o diálogo guia no caminho da solução.

Segundo o IBGE 2010, o Brasil possui uma população indígena de 896.917 pessoas, distribuídos em 305 etnias, e vivendo nas Zonas rurais (63,8%) e Zonas urbanas (36,2%). Correspondem a 0,47% da população brasileira e possuem 505 terras indígenas (12,5% do território nacional). O nordeste com 25,9% dos índios possui a segunda maior população depois da região norte com 38,2%, sendo que o Centro Oeste possui 16%, o Sudeste 11,1% e o sul 8,8%.

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