segunda-feira, abril 26, 2010

Porto Sul x Imprensa

O exercício da imprensa requer um forte compromisso ético, liberdade de expressão, imparcialidade, investigação e capacidade de refletir os fatos. Não é o que tem acontecido com a imprensa regional quando o assunto é o Porto Sul, onde a maior parte dela resolveu tomar partido do projeto, abandonando a reflexão e a investigação.
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É função nossa, em um momento como esse, promover a informação sobre a questão ambiental. Essa é a hora de relizar entrevistas com técnicos, professores, ambientalistas, e de buscar ouvir o que os empreendedores respondem a todas as preocupações.
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Mas muitos jornalistas preferiram o olhar de um olho só. Não são todos, é claro. Hoje mesmo, o nosso Diário de Ilhéus, que mesmo divulgando pouco os eventos em protesto ao Porto Sul, trás mais um editorial muito bem escrito, chamava a sociedade a reflexão: "digamos que o que está em jogo é o futuro de um ente querido nosso, ou o nosso lar."
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Apesar de grande parte dos jornalistas não darem o devido destaque as reflexões técnicas e jurídicas sobre o Porto Sul, como eu tinha previsto, a repercussão começa a ganhar força na grande rede da comunicação aberta. Assim, a imprensa estadual e nacional, as principais revistas, jornais e telejornais passam a mostrar a questão Porto Sul do ponto de vista que é obrigação dos jornalistas mostrarem, da preocupação com o meio ambiente, com os questionamentos e os argumentos das partes.
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Minha profecia, nada profética e muito previsível começa a acontecer. Não dar pra impor nada na marra em um regime democrático. E assim, a defesa da mata atlântica e as comunidades tradicionais começam a ganhar espaço no Jornal da Globo, no Fantástico, na Isto é, no Estadão, nos sites jornalísticos como a Zero Hora, e o esperado debate nacional toma seu curso.
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Como na maioria da vezes, não ocupamos nosso espaço com plenitude, e reclamamos quando os de fora decidem por nós, e ditam quais projetos são bons para o sul da Bahia. Agora também, estamos deixando que a imprensa de fora recrie o debate, que insistimos em não realizar.
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Poderia ser diferente, pois conhecemos bem nosso litoral. Todos os veículos publicaram inúmeras reportagens enaltecendo seus valores ecológicos, as pesquisas realizadas e os projetos socioambientais desenvolvidos. Todos nós ajudamos a consagrar a paisagem do Mirante de Serra Grande como referência internacional do turismo associado a conservação da mata atlântica, e símbolo nacional de projetos e esforços pela sua conservação.


Sabemos que o Porto Sul é um projeto imnportante para o Brasil e a Bahia, mas se tornou um projeto de desmatamentos. O litoral norte de Ilhéus foi o pior lugar que se poderia escolher do ponto de vista socioambiental, e isto tem um preço alto demais, que não interessa nem as empresas e nem ao governo.
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BAMIN PATROCINA, QUAL O PROBLEMA?
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Não vejo problema que a Bamin patrocine veículos de comunicação, não existe falta de ética nisto, mas existe falta de ética e crime contra a informação quando o jornalista deixa de exercer sua função. Vejam que a Bamin é a principal patrocinadora da TV Globo na Bahia, mas o patrocínio não adestra a pauta, a publicidade não se confunde com o jornalismo.
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Ora, temos que respeitar os valores ambientais, que hoje não se restringe a um grupo isolado de pessoas, mas a todo cidadão, e ainda que o termo ambientalista possa parecer desgastado pela mídia, temos que reafirmá-lo como principio educacional, uma questão interior, uma questão do dia a dia.
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O resultado da falta de preocupação com a questão ambiental acaba fazendo com que o próprio presidente da BAMIN, desantenado, resuma o problema das espécies criticamente ameaçadas com a contratação de um veterinário, criação um zoológico e um viveiro de mudas, mas quando disse zoológico ele se referia a um centro de triagem de animais silvestres. Não foi feliz, não temos sido felizes, estamos todos desalinhados.
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VEJA ALGUNS LINKS SOBRE A REPERCUSSÃO DO "ABRAÇO ENCANTADO A LAGOA", E OUTROS NA GRANDE IMPRENSA, ELEVANDO O DEBATE DA LOCALIZAÇÃO DO PORTO SUL AO NÍVEL DA IMPRENSA DE ABRANGENCIA NACIONAL.
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sexta-feira, abril 16, 2010

Audiência do Terminal Privativo da Bahia Mineradora em Ilhéus


por Paulo Paiva
com fotografias de José Nazal e Fabio Coppola.


Foi um momento difícil para Ilhéus, pois não realizamos uma audiência pública realmente voltada para esclarecer os impactos ambientais do Terminal Privativo da Bahia Mineradora, e o que eles significam como projeção de impactos do Complexo Porto Sul como um todo, que é o que interessa, já que esse projeto é o ponta pé inicial de uma série. 

O projeto Complexo Porto Sul, é um projeto em partes, mas somando-se as partes, é candidato ao mais impactante do PAC, isto por que atingi em cheio a biodiversidade da mata atlântica, e as comunidades tradicionais do litoral norte de Ilhéus.

Mas nossas elites formadoras de opinião resolveram minimizar os fatos, não buscando o aprofundamento e o questionamento natural da discussão do modelo de desenvolvimento e seus impactos para o sul da Bahia. 

Complexo Porto Sul, esse é o nome do projeto anunciado pelo governo ao desopropriar 1.700 hectares estratégicas para a mata atlântica, jardim botânico de pesquisadores, núcleo de projetos ambientais, e, acima de tudo, meio de vida de um conjunto de comunidades tradicionais, excluídas dos beneficios básicos do desenvolvimento, e dependentes desses recursos para sobreviverem.

No entanto, nós, agarrados no fantasma da crise, dissemos sim, sim e sim, a ponta de lança do Complexo Porto Sul, o porto da Bamin. Um sim ingênuo, sem restrições, sem condionantes, sem certezas quanto ao manejo dos impactos socioambientais. Cegos diante do manto verde que em dez anos tornou-se internacionalmente conhecido, voltamos a acreditar em um milagre econômico, nos sentimos sorteados pelo progresso. 



AS IMAGENS FALAM DE UMA RIQUEZA PATRIMONIAL DA HUMANIDADE !

Eu que conheço bem a área, sinto falta do uso de imagens em todo esse processo. Elas dizem muito, e nos permitem conhecer um pouco melhor o que está em jogo. A foto acima, por exemplo, é do lugar exato do Terminal Portuário da Bamin, âncora de outros projetos, que implicarão em novas desapropriações e compra de terras por empresas. 

O IBAMA e os empreendedores tem essas imagens na cabeça. Eles vão lá, sobrevoam a área, mas evitam mostrar ao povo, pois, diante delas, qualquer ser humano, por menos sensível que seja, naturalmente se pergunta, não existe mesmo outro lugar? Para o traçado da ferrovia, não existe. Ela atravessou o Brasil inteiro e acertou o 1% que resta de mata atlântica do litoral nordestino. 



Fizemos nossas contas nas pressas, e não percebemos que, se o o Brasil vai ganhar muito, o sul da Bahia já começa perdendo, vendendo nossa galinha dos ovos de ouro, corrompendo mais uma vez o nosso espaço e desrespeitando nossas vocações e nosso trabalho. 

Impactos socioambientais são certos, e o destino de nossas comunidades tradicionais, poderá ser, à partir da aprovação do projeto, incerto. Pescadores, catadores, marisqueiras, todo esse povo que depende desse ecossistema para sobreviverem estarão mais vulneráveis ainda, e a tendência de expulsão e perda de suas terras, uma realidade. Essa é uma história que se repete, e que já aconteceu muitas vezes em nosso imenso litoral.



Mas como foi a audiência? Um circo de vaias e aplausos roubou sua cena técnica, e as reflexões ecoaram em ruídos antagônicos, algumas vezes manifestações desesperadas do sim e do não, um ambiente onde não da mesmo pra enxergar o bicho, a planta, o catador de guaiamum.



Uma audiência marcada pela ausência, ou silencio dos nossos principais ambientalistas, já desiludidos com a determinação do IBAMA de conduzir o EIA - RIMA em parceria com os empreendedores, orientados para viabilizar a aprovação, subordinado-se ao governo. Na audiência da ferrovia, houve maior participação, mas a ironia do IBAMA em desvincular os projetos de porto e ferrovia, impedindo a todos conhecer a dimensão real da intervenção que se pretende fazer, fez os técnicos e pesquisadores baianos se sentirem tratados como idiotas.

A falta de informações precisas, e a dificuldade de comunicação com a sociedade regional é absolutamente evidente. A confusão é tanta, que um dos presentes foi publicamente constrangido a voltar pro final da fila de inscrições de perguntas, por ter formulado sua questão se referindo ao Porto Sul - "o senhor se inscreva de novo nomeando adequadamente o empreendimento em questão", disse a representante do IBAMA. Só que tem um detalhe, saibam que o principal jornal de Ilhéus, o "Diário de Ilhéus" estampa em sua primeira página de 15 de abril de 2010: “Porto Sul tem audiência e investimentos de 4 bi".

Pra quem não sabe, o Porto Sul é um outro projeto, sem previsões e recursos, é outro porto, o público, no mesmo lugar, escorado no Porto da Bamin, e os dois fazem parte do Complexo Porto Sul, um megaprojeto que tem tudo que você e o governo possa imaginar como atrativo para o progresso industrial. Entenderam? Não se preocupe, isto são apenas cenários, ninguém sabe ao certo onde vai dar, nem mesmo o governo. E se tudo acontecer, vamos entendendo aos poucos o que disse o professor José Adolfo da UESC, "em impacto ambiental, as vezes, a soma de um mais um pode ser maior que dois".



Era um momento de reflexão sobre o meio ambiente, onde a autoridade maior era do povo da região e seus interesses, mas preferimos colocar o tapete vermelho para os empreendedores, afinal, somos carentes de tudo, e nossa carência, como criança faminta, nos impede de pensar, e assim a audiência ambiental enfraqueceu diante do apelo econômico.

Políticos, empresários, associações, ouvimos muitas moções de apoio de tudo quanto é classe e comunidade. Algumas manifestações de apoio me deixaram intrigados, como a de uma moradora do São Miguel, onde dezenas de famílias já perderam suas casas, e continuam perdendo por conta da invasão do mar resultante do Porto do Malhado, sem que tenham recebido nem um centavo de reparação do governo, se declarar a favor do empreendimento, sem mencionar tais fatos. Mais intrigante ainda, a Associação de Moradores da Ponta da Tulha, que será atingida diretamente pelo Complexo, e que poderá ser, literalmente, varrida do mapa, não demonstrar preocupação.

Era uma audiência pública sobre impactos ambientais, mas preferimos vaiar quem se preocupasse com eles. Restou a coragem de um promotor, que, desamarrado, mostrou um Ministério Público livre em favor da legislação ambiental, argumentando a ilegalidade do empreendimento. O homem foi veementemente vaiado e aplaudido, e teve que se retirar as pressas do local para evitar problemas.

No final é isso, o debate ambiental entra pelo “sem sentido”, se discute a AIDS, a prostituição e o sexo dos anjos; ouve-se e anota-se tudo, para que audiência seja encaminhada. E assim, diante de uma plateia com pouco nível de esclarecimento, fica fácil para a biodinâmica validar suas conclusões, diante de uma platéia orquestrada e um IBAMA que se mostra irreconhecível, figurando como licenciador de programas do governo. 

Parece que estamos vivendo a década da hipocrisia ambiental, da manipulação do EIA-RIMA. Agora tudo é possível, tudo tem compensação, uma expressão qualquer como balanço de supressão zero resolve o problema do desmatamento. Estamos tirando onda de Deus, podemos recriar a natureza, os rios, as florestas e o mar, e no meio disto, a intricada problemática de proteção dos biomas brasileiros perde espaço, se torna anti-econômica e é tratada como política de menor importância. 



A biodinâmica concluiu seu relatório com mais de 30 programas de monitoramento. Ninguém perguntou como eles serão feitos, quanto custa, quem vai pagar. E assim, o relatório é favorável ao empreendimento sem anunciar concretamente, nenhuma medida compensatória. Ninguém reagiu, nenhuma reação dos representantes do município sobre ativos ou passivos ambientais. Nada. Fomos movidos pelo barulho da aprovação compulsória, imediata, e perdemos sim, uma oportunidade de firmar compromissos com a proteção ambiental, e com critérios claros de exploração de nossos recursos.



Assim fica fácil para qualquer empreendedor, bem ou mal intencionado, se instalar por aqui, se afinal, não temos nossos critérios, e não dá para racionalizamos o nosso desenvolvimento. Mas a mata ainda está lá, e vamos continuar lutando por ela porque acreditamos que essa é a nossa maior riqueza, a que vai perdurar muito além das riquezas do subsolo, e nos trará plenitude e prosperidade no futuro.



Valeu meu parceiro Marco Penha, que corajosamente questionou a falta de transparência do processo de licenciamento (o segundo mais vaiado depois do promotor), que me dizia "alguém está mentindo ! Vamos descobrir quem é.".

Eu também me posicionei de forma crítica, pois, não posso mentir pra mim mesmo, uma questão de consciência, afinal, luto pela conservação dessa mata desde muito jovem, e não me canso de repetir, nunca imaginei que o governo pensasse um dia em construir um complexo industrial nesse lugar. 

No meu breve pronunciamento´, tentei cumprir os rigorosos três minutos, mas fui interrompido aos 3 minutos e 15 segundos, com o microfone desligado "na minha cara", apesar de eu implorar por dez segundos que faltavam para terminar de ler meu texto, fiquei no meio do último parágrafo, e pra piorar o assistente de som não veio reposicionar o microfone adequadamente, piorando ainda mais minha comunicação. Eu quis falar do recorde de biodiversidade, e da grande luta de toda a sociedade com apoio do CONAMA e do IBAMA para proteger essa mata, e como esse lugar, ora projetado para o Complexo Porto Sul, tornou-se referencia internacional da ecologia. 

Um patrimônio da humanidade, que, nós, por pressa, confusão mental, deslumbre com o desenvolvimento, estamos deixando de defender. Não sou contra a Bamin, apesar de não concordar com a estratégia publicitária adotada pela empresa, mas questiono sim, se são éticos com suas profissões aqueles que assinam pela Biodinâmica a viabilidade do projeto. Mas a convicção maior é que o governo está errando em permitir a agressão a uma área que cumpre importante função de utilidade pública de apelo universal. 

Vivemos uma espécie de neurose ecológica. Se a mata de pé começar a ser lucrativa, todo mundo vira ecologista, mas se for o contrário, agente passa o trator. O cacau? Quase não tocamos nesse assunto, já é passado. Até mesmo o turismo, segunda atividade mais lucrativa do município, e a mais solidária, e que está em plena expansão, está sendo criticada. 

Mas o que vale é não se omitir, e que todos saibam que o nosso trabalho é de democratização da informação, é de educação ambiental, e só tem um objetivo, refletir e promover a reflexão para que o desenvolvimento do sul da Bahia seja parceiro da conservação ambiental.

Valeu ver Maria do ocorro, presidente da Associação Ação Ilhéus, lutar com coragem e obstinação de comunicar e informar o povo não apenas sobre esse projeto, mas sobre os tantos problemas e desafios do povo dessa bela cidade.  Belo trabalho de liderança Socorro ! Apesar de alguns confundirem a sua luta, e não lhe prestarem o devido respeito e reconhecimento. O futuro nos dirá, afinal, o que vamos repartir, se os lucros e/ou prejuízos, mas de certo, a história, nos estamos escrevendo agora. 

É tudo verdade!, o que temos dito, eu, você, e tantos outros técnicos, biólogos, pesquisadores, professores e especialistas. Teremos um impacto grave, especialmente a mata atlântica, mas se não conseguirmos redirecionar esse projeto para outra localidade mais apropriada, certamente, tudo o que estamos dizendo servirá de cartilha e alerta para que não aconteça.

quinta-feira, abril 15, 2010

Ministério Público Federal questiona Audiência Pública do Porto Sul

TEMOS AFIRMADO: O projeto complexo porto sul não tem sustentabilidade socioambiental, e os problemas com a sua localização trará uma forte e crescente reação da sociedade.

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL:

O Ministério Público Federal em Ilhéus (BA) ajuizou ação civil pública com pedido de suspensão da audiência pública convocada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) com o objetivo de analisar o processo de licenciamento ambiental requerido pela Bahia Mineração Ltda (Bamin) para implantação do Terminal Portuário da Ponta da Tulha. O MPF solicita a suspensão desta audiência, marcada para o próximo dia 15 de abril, em Ilhéus.

Em 2008, a empresa Bahia Mineração solicitou ao Ibama abertura de processo de licenciamento ambiental para construção do Terminal Portuário da Ponta da Tulha. O empreendimento tem como objetivo permitir a exportação de 18 milhões de toneladas por ano de minério de ferro em base seca, produzido na mina localizada em Caetité (BA). O minério será transportado desde a instalação, por ferrovia, em um percurso de cerca de 520 quilômetros até o Retroporto do Terminal Portuário da Ponta da Tulha, em Ilhéus.

De acordo com resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), a Bahia Mineração deveria apresentar Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) com requisitos mínimos, como objetivos, justificativas e descrição do projeto, síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambiental da área, programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos, dentre outras exigências. A pedido da PRM/Ilhéus, a 4ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF analisou o RIMA apresentado pela empresa para a implantação do porto e constatou que o documento não apresenta a justificativa de implantação do empreendimento, a apresentação de estudos sobre alternativas tecnológicas e de localização, e que não considera as questões ambientais.

A audiência pública tem como objetivo apresentar à população o Rima para que os cidadãos possam discutir a viabilidade da implantação do porto, sugerir melhoras e entenderem perfeitamente os impactos que o empreendimento causará à região. A audiência faz parte do processo de licenciamento ambiental e representa a participação da cidadania no processo, conforme previsto em resolução do Conama. No entanto, com as diversas irregularidades encontradas no RIMA, a audiência perde a efetividade.

Os procuradores da República Eduardo Ribeiro Gomes El Hage e Flávia Galvão Arruti, autores da ação, acreditam que todos os requisitos exigidos são importantes para que os cidadãos compreendam o modo como funcionará o empreendimento. “Sem a descrição mínima destes elementos, torna-se inviável a participação da cidadania no processo, redundando a audiência pública numa etapa cumprida meramente por formalidade”, afirmam os procuradores.

Segundo os procuradores, para a construção do terminal no local escolhido pela Bahia Mineração, seria necessária a supressão da vegetação de Mata Atlântica, o que pode agravar ainda mais a redução de habitats de importantes espécies de aves ameaçadas e/ou exclusivas do sul da Bahia. Na região, foram encontradas 21 espécies de aves exclusivas da Mata Atlântica. Foram detectadas, ainda, 14 espécies de aves com risco de extinção local e regional, além de seis espécies mundialmente ameaçadas de extinção. Além das aves, o próprio Estudo de Impacto Ambiental, produzido por empresa contratada pela BAMIN, apontou a existência de outros animais ameaçados como o macaco-prego-do-peito-amarelo, o muriqui, o rato-da-árvore, a preguiça-de-coleira, o sagui-de-tufo-branco e a lontra, todos representantes da fauna brasileira.

Os procuradores afirmam que a tentativa de construção do empreendimento viola frontalmente a lei de proteção da Mata Atlântica, não havendo sentido algum em se realizar audiência pública do empreendimento. ”A suspensão liminar é, portanto, uma garantia, uma segurança, uma cautela que visa exclusivamente assegurar a efetividade da sentença”, explicam.

Ao final, no julgamento do mérito da ação, o MPF requer que seja confirmado o pedido liminar e que se suspenda a realização da audiência pública do processo de licenciamento ambiental devido a total inviabilidade da implantação do Terminal Portuário da Ponta da Tulha no local escolhido pela Bahia Mineração.

Esclarece o MPF, por fim, que a audiência pública objeto da ação é referente, única e exclusivamente, à instalação de um terminal portuário de uso privativo da BAMIN, não englobando o porto público, popularmente conhecido

Audiência Pública do Porto Sul

Ilustram essa reportagem, fotos de José Nazal, Castilho e Mary Berbet.

Chegou a hora!

A Bamin é uma empresa como outra qualquer, mas inserida nesse projeto do governo chamado Complexo Porto Sul, virou uma das pernas de um dragão ameaçando uma floresta indefesa. Nós não somos contra o progresso, nós só queremos respeitar a lei, e seguir o caminho do bom censo.
Hoje é o dia em que cada ilheense deveria abrir a mente para a consciência, e analisando o relatório de impacto ambiental, decidir, se este empreendimento vai ou não nos prejudicar. É um direito que a lei dá as comunidades, as pessoas, de se defender de projetos que possam degradar o meio ambiente e afetar a qualidade de vida dos cidadãos comuns.

Se permitirmos essa obra da Bamin, outras virão, será realmente a ideia de Complexo Porto Sul acontecendo, e evoluindo para mais e mais ocupação, ou seja, supressão e extermínio de uma joia rara da humanidade que estamos trabalhando exaustivamente para salvar. O que está em jogo é não apenas a história de Ilhéus, mas a história pessoal de cada um de nós, a nossa consciência. É coisa séria. Temos um problema sério. Quem conhece as matas, vilas e praias do litoral norte de Ilhéus como eu, sabe o que eu estou falando.

Uma das cidades mais lindas do planeta. Uma localização geográfica extraordinária. Tão bela é, rodeada de água doce e salgada, que é mesmo difícil de colocar tanta habilidade da natureza em uma única foto.

Uma cidade gravemente ferida pela falta de planejamento urbano, e pela submissão à sua vocação portuária. Nenhum outro porto no Brasil gerou tantos impactos para uma cidade como o Porto Internacional do Malhado, é como se tivessemos destruído a nossa Copacabana e, agora, com o Complexo Porto Sul, estivéssemos condenando a nossa Barra da Tijuca.
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Veja na foto o que é impacto ambiental. Ver é muito bom. Todos nós precisamos ver e conhecer a Area de Proteção da Lagoa Encantada e Rio Almada para entender os impactos que já sofremos , e os que virão com o projeto do governo federal.
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Comunidades tradicionais, homens do campo, produtores de alimentos, quilombolas, pescadores, jangadeiros, marisqueiras, catadores de carangueijos, aratus e guaimuns, extrativistas da piaçaba, do dendê, da castanha do caju, esse é o povo diretamente atingindo pelo projeto. Esse é o povo que vive em comunidades como a Ponta da Tulha, que não sabemos ao certo se vai continuar no mapa, ou vai parar debaixo dágua.

A vila de pescadores será radicalmente transformada, a pesca também, os guaiamuns, pássaros poderão ser extintos. Mas o nosso povo pobre, sem instrução, que vive do extrativismo, esses serão os mais atingidos. Pobreza, degradação ambiental e analfabetismo tem fortes relações entre si.
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Os impactos para essas comunidades, que não terão emprego, terão seu espaço ocupados, especulados, terá ocntato com uma massa de pessoas vindas de fora, enfim, a velha novela que já vimos acontecer em tantos lugares do litoral brasileiro. Foi assim no Rio, em São Paulo, os pescadores, caiçaras, quilombolas acabam expulsos.
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Modificações de toda ordem, social quanto ambiental, atingindo radicalmente o modo e os meios de vida tradicionais, e atingindo todos os ilheenses. Ilhéus não cabe seu povo, não tem rua, não tem ponte que nos permita circular. Caso essa obra aconteça, vamos ter mais dinheiro, mas pela nossa sina e ignorância de não planejarmos o uso e ocupação do solo do município, e de não desenvolver projetos de qualidade, vamos piorar a nossa qualidade de vida desde a primeira pedra lançada no mar.

Nós sempre chamamos o litoral norte de Ilhéus de A PRAIA MAIS BONITA DO MUNDO. Assim como o Brasil não quer mais ser subestimado pelo mundo, nós, nordestinos não podemos ter nossa inteligência subestimada dessa forma. Uma obra dessas nesse local, muito dificilmente seria aceita pela sociedade do sul e sudeste do país.

Essa área é símbolo nacional e internacional de proteção da Mata Atlântica. Não existe lógica em construir um complexo industrial nesse lugar, de expor esses recursos a riscos tão altos. Nós, IBAMA, Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional de Meio Ambiente, Ministério Público, nós que somos a autoridade social, técnica e científica não permitiremos que o governo promova esse, que seria o maior crime contra a mata atlântica desde a redemocratização do Brasil.


O projeto do Porto Sul é muito interessante e atrativo, mas não é econômico para o litoral norte de Ilhéus. O ecossistema que existe aí é único. Trata-se de um mosaico de florestas, um santuário da água doce. Não há outro lugar na mata atlântica que se compare a este. Um povo desenvolvido jamais construiria industrias de alto impacto nesse local.


A floresta símbolo da resistência da mata atlântica contra a extinção está no meio do projeto da Bahia Mineradora. Uma alternativa a sua localização é imprescindível. Não podemos desmatar o 1% que resta da mata atlântica do litoral nordestino. Não existe bom senso nisto, nem meio termo, não podemos desmatar o que tanto lutamos para recuperar, e livrar da extinção.
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Não somos contra o progresso, mas temos certeza que a localização da Ferrovia, do Porto Sul, da ZPE e da novo aeroporto estão completamente equivocadas, na terra e no mar, representando um risco eminente de se transformar em um grande fiasco para o sul da Bahia, os empreendedores e o próprio governo.

Somos civilizados e vivemos em um regime que prima pela democracia, e como um povo livre nós vamos arcar com as consequências de nossas decisões, que serão memorizadas no livro da história através da livre imprensa. Hoje, tenham certeza, o mundo inteiro está de olho no litoral norte de Ilhéus porque Deus está de olho nessa história. Estamos todos acordados esperando um final feliz para essa história, para que ela não construa a degradação e formem uma legião de culpados por não nos ouvirem, já que é tudo verdade, o que temos dito.


Não existe política nessas linhas, nem paixão e nem exagero. São fatos, verdades públicas, questão de consciência e contemporaneidade. Devemos ficar do lado da vida, que é um bem superior ao dinheiro, como ensina a Campanha Católica 2010. Essa é a nossa obrigação para com os nossos filhos.