quarta-feira, julho 30, 2008

Armazéns do Centro Histórico: Sem Projeto

Ilhéus sofre as consequências da falta de planejamento urbano. Os instrumentos estratégicos nós temos, e o Plano Diretor é o principal. Planejar e legitimar este planejamento na legislação municipal é o caminho para definir o uso e a utilidade dos espaços públicos, a médio e longo prazo. Com esta visão podemos vislumbrar qual cidade queremos construir, e elaborarmos políticas concretas de gestão. Um plano de desapropriação, de reintegração de áreas ao município, bem como, medidas de proteção ao patrimônio histórico e cultural são essenciais.
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A demolição das instalações da antiga Usina Vitória causou polêmica pelo seu valor histórico, e de forma particular, com os inquilinos de uma congregação religiosa, mas também nos chama a atenção, a importância que tem essa área para a ampliação do principal Terminal Rodoviário de Ilhéus e a construção de uma Estação de Transbordo.

A demolição reacende a discussão da reurbanização. A Usina, que esteve abandonada por muitos anos, faz parte de um conjunto de estruturas obsoletas, de propriedade do Governo do Estado e de particulares.
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Grandes armazens ocupam o centro da cidade de Ilhéus. A nova dinâmica de desenvolvimento urbano da cidade sinaliza para a desapropriação e reintegração desse conjunto ao município, beneficiando um projeto de utilidade pública. Um projeto que não deve estar baseado na demolição completa do conjunto arquitetônico, que tem valor histórico.
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Houvesse o planejamento prévio, discutido com a comunidade, como prevê o Plano Diretor, já saberíamos o destino desta e outras áreas da cidade, e evitaríamos a degradação urbana e as polêmicas improdutivas. O fato é, que o estado da antiga Usina e sua chaminé era pracário, e que havia risco potencial de desabamento, e assim sendo, caso a estrutura tombasse sobre a Igreja, e vitimasse pessoas, certamente, o município seria responsabilizado.
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Uma área nobre, onde a Orla da Baia do Pontal se esconde, permanece inacessível a população. A população espera um projeto adequado para a área. A primeira fase urbanização foi realizada, e deve continuar, abrangendo toda a área.
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Muros e cercas separam a cidade de um complexo de estruturas com destinação indefinida. Esperamos que elas sejam aproveitadas em favor da nova urbanização de Ilhéus, e que possa beneficiar a ampliação do Terminal Urbano, urbanização da Orla e criação de estruturas de lazer, cultura e comércio.








Poderia ser um monumento da nova orla, mas são ruínas de um conjunto arquitetônico, notadamente, com sua função de utilidade pública depreciada.
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O que temos afirmado é a necessidade de um projeto claro para a cidade de Ilhéus, que seja tecnicamente competente e ambientalmente correto. O barco precisa de rumo e uma cidade não pode se desenvolver sem a definição de programas e políticas urbanas essenciais. E Ilhéus precisa de uma redefinição urbanística completa.
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O artigo do Presidente da Associação Comercial, José Leite serve como iluistração, de como a inércia e a falta de atitude não nos trás bons resultados, e que é sempre melhor previnir do que remediar.
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A verdadeira história da Usina Vitória
por José Leite de Souza, Presidente da Associação Comercial de Ilhéus


A história da criação da fábrica de chocolate em Ilhéus, a Usina Vitória, começou em 1918 com a Associação Comercial de Ilhéus através da sua diretoria que tinha como presidente, na época o Sr. Hugo Kauffmann, que adquiriu do coronel Ramiro Ildefonso de Araújo Castro um terreno para ser construída a primeira usina modelo de secagem, esterilização e beneficiamento dos frutos do cacau.

Construído um prédio no dito terreno, tempos depois foi inaugurada a primeira usina de propriedade da Associação Comercial de Ilhéus, localizada na Baixa da Pimenta, hoje Rua Maria Quitéria, onde até o começo da década de 70 funcionou no antigo prédio a cadeia pública de Ilhéus. Neste mesmo local, hoje esta localizada a delegacia do Ministério do Trabalho.
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A usina funcionou por pouco tempo, porque os maquinários adquiridos eram mais produtivos para o beneficiamento de cereais.
_______O arrendamento do prédio da usina

Verificada a inutilidade das máquinas da usina de beneficiamento de cacau, as quais só se adaptavam aos cereais, propôs os Srs. Hugo Kauffmann & Cia., comerciantes nesta praça, o arrendamento do Prédio para a montagem de uma fábrica de chocolate.

Depois de pensar sobre o caso que exigiu ponderada reflexão da diretoria da Associação Comercial de Ilhéus em virtude de já está acordado com o Dr. Mário Pessoa, Intendente Municipal de Ilhéus, a cerca da troca daquele imóvel por um terreno de propriedade do município situada á Praça Conselheiro Luiz Viana no qual pretendia ser construído o prédio social desta Associação.

A diretoria considerando os reais benefícios que viriam com a instalação de uma fábrica de chocolate no município resolveu aceitar a proposta dos Srs. Hugo Kauffmann & Cia. tendo na ocasião o presidente da Associação Comercial, o Sr. Leovigildo Penna, procurado o Dr. Mário Pessoa a quem comunicou o novo rumo tomado.

O contrato de arrendamento do prédio da usina foi assinado no dia 1º de Agosto de 1927 para uma período de 5 anos.

No ano seguinte, diante da necessidade de ampliar a sua fábrica, o Sr. Hugo Kauffmann solicitou da Associação Comercial que comprasse do Cel. Ramiro Castro os terrenos contíguos para serem incorporados ao prédio principal. Os terrenos foram comprados e construído mais um galpão no qual foram instalados novos maquinários, conforme constam nos anais desta Associação Comercial. A construção das instalações da usina Victória nas proximidades do antigo porto de Ilhéus foi posterior.
Assim sendo, fomos surpreendidos com o conteúdo de uma nota do Dr. Hugo Kauffmann Jr. com o título “Declaração á Imprensa Sobre a Ignomínia do Ataque e Destruição da Usina Victória”, publicado numa edição do “Jornal Tribuna do Cacau”, com data de 14 á 21 de junho de 2008, impresso na cidade de Itabuna.

Informamo-lhe, Dr. Hugo Kauffmann Jr., que esta Associação Comercial de Ilhéus em nenhum momento realizou reunião ambígua.

Lembramo-lhe que nesta casa que tem como um de seus fundadores o Vosso Pai, o Sr. Hugo Kauffmann, nunca se tratou de ambigüidade. Esta Associação Comercial de Ilhéus sempre esteve e continuará ao lado dos seus associados, dos empresários em geral e dos interesses da sociedade ilheense.

Ao contrario do que Vossa Senhoria insinua na sua “Declaração” a reunião, na segunda quinzena de fevereiro na sala da presidência desta Associação, da qual o senhor foi convidado a participar, e compareceu, foi realizada com o claro objetivo de solicitar do Grupo Kauffmann dar uma utilidade para o prédio abandonado e já se transformando em escombros, da velha Usina Victória.

A Associação Comercial de Ilhéus, através dos diretores presentes na referida reunião transmitira-lhe a preocupação da sociedade local, assustada, com os constantes desabamentos do telhado apodrecido do prédio abandonado.

Na ocasião lembramos ao senhor que as velhas instalações da Usina Victória ficam no centro da cidade e junto a um terminal de transportes coletivos urbanos, e havia se transformado num refugio para delinqüentes, muitos dos quais furtando peças do velho e abandonado maquinário da antiga fábrica.
Assim, naquela ocasião, solicitamos do Senhor dar uma utilidade para o local, transformando-o, inclusive num museu ou algo parecido, reativar a Fábrica, vender ou pelo menos reformar e pintar.

Portanto, ao contrario do que o Senhor insinua na sua nota, não havia naquela reunião, nunca houve e não haverá, nesta casa nenhum “preparativo” ou “planejamento” para a demolição ou desapropriação do prédio abandonado da antiga “Usina Victória”, até porque, esta casa, desde a sua fundação não se prestou a conluios com quem quer que seja. Lembrando a V.S. que a história da Usina Victória começou nesta Associação Comercial de Ilhéus.

Portanto, pensar ou julgar assim é macular, a história e a memória daqueles empreendedores, entre eles o Sr. Hugo Kauffmann, vosso pai, que pensavam no bem da cidade e que ajudaram a fundar esta Associação Comercial, cujos princípios continuam norteando as nossas ações.

segunda-feira, julho 21, 2008

Vídeo Ecologia

Os vídeos que ilustram esse artigo estão no YOUTUBE
(Click nos Links e em algumas imagens para ver o vídeo)

Quando iniciamos a mobilização nacional pela Educação Ambiental, no início da década de 90, instituições públicas e privadas, técnicos do governo e a sociedade civil organizada, todos somávamos esforços para definir seus princípios, referênciais teóricos, atores envolvidos, os rumos de sua institucionalização e os meios para a formação de redes de ações integradas.

Com um caráter eminentemente multi e interdisplinar, a Educação Ambiental exigia de cada profissional, a definição de sua função no processo de construção de um novo modelo de desenvolvimento, gerando agendas específicas nas mais diversas áreas do conhecimento humano. A comunicação social, desde o início, tem demonstrado ser uma área estratégica e fundamental.
Foram definidas então, as suas linhas de atuação, "formal- curricular"; "informal - atribuída a todas as outras formas de educação fora do ambiente escolar", e "não formal", relacionada a atuação dos meios de comunicação. Para nós jornalistas, publicitários, produtores cinematográficos, etc, ganhamos a enorme responsabilidade de participar ativamente no processo de construção de uma cultura ambiental no Brasil visando as três linhas de ação. Mas para isto, era necessário, primeiramente, uma especialização dos comunicadores para a abordagem das questões ambientais.
Para além dos modismos, novos produtos de comunicação, e uma nova linguagem começou a ser produzida na pauta do jornalismo científico e jornalismo ambiental, na produção de campanhas, no vídeo ecologia e na difusão de novas tecnologias de comunicação.
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A TV e a produção cinematográfica passou a buscar essa nova linguagem, social, ambiental e cultural, através da atuação de novos profissionais, buscando reforçar seus aspectos educativo e documental. O vídeo produzido em parceria com as comunidades, passou a ser utilizado como um instrumento mobilizador e agregador de conteúdos. Uma nova linguagem passou a ser desenvolvida como um suporte aos processos educativos, e como um instrumento de reforço das lutas sociais, e de inclusão tecnológica.


Apesar disto, os projetos sociais e ambientais sempre abordaram o vídeo timidamente, mas esta é uma realidade que tende a mudar. Durante muito tempo, eram poucos os vídeos produzidos, em geral, vídeos de natureza, a maioria importados. Trilhamos esse novo caminho nessas duas décadas para fazer o nosso cinema e o nosso vídeo, com a nossa cara, nossa identidade, nossos bichos e florestas.


A experiência nos fêz descobrir que o vídeo ecologia não deve estar pautado apenas em uma intervenção pontual, precisa ir para o centro do processo, documentando as ações, e funcionando como elemento favorecedor da participação, diálogo e intercâmbio de informações. Outra característica desse tipo de produção é que mesmo necessitando de uma preocupação estética acentuada, ela exige mais que qualidade técnica, exige conteúdo, que reflita a complexidade das questões ambientais, e permita a compreensão científica do meio ambiente, numa linguagem acessível e popular.



......................................... Em 1990, ensaiamos os primeiros passos, com recursos próprios, pela inclusão da linguagem audiovisual nos projetos ambientais. No Projeto Reflorestamento de Encostas do Instituto de Florestas do Estado do Rio de Janeiro, incorporamos o vídeo na vivência comunitária das comunidades de morros. Nesta mesma época a empresa Savagett Produções, numa parceria com a Fundação Roberto Marinho, estreava o Globo Ecologia, onde tivemos a oportunidade de exibir nossas imagens e metodologia, no 

O sucesso de nossa proposta levou o Instituto a apoiar o vídeo As Florestas Garantem a Vida para o seu programa de Educação Ambiental, trazendo a linguagem técnico-educativa para o audiovisual, auxiliando a capacitação de professores. Com o sucesso da proposta, convencemos a diretoria a adquirir equipamentos, viabilizando novas produções.


................................ O vídeo educativo "As Florestas Garantem a Vida" foi apresentado no Fórum Global da Rio 92, trazendo a linguagem técnico-educativa para traduzir a importância das florestas para a proteção dos rios, manutenção do pontencial hídrico e da disponibilidade de água para o consumo.

Mas ainda teríamos um grande caminho a percorrer para que o governo, empresas e ONG´s percebessem como o audiovisual é estratégico no processo de informação e educação. Poucas ONGs perceberam a importância do vídeo. Bons exemplos são o Ibase, de Herbet de Souza (Betinho) e a Fundação Biodiversitas, de Minas Gerais, que sempre utilizou o vídeo em sua atuação.

Em 1996, o vídeo foi um dos propostas vivenciadas no programa educativo dos jovens da Brigada Mirim Ecológica da Ilha Grande, em Angra dos Reis. Um dos frutos veio através do Ibase, na "Ação da Cidadania contra a Fome", que incluiu nosso projeto na Campanha divulgada na Rede Pública de TV.

Em Ilhéus, integramos o vídeo no Programa da Universidade Livre do Mar e da Mata – MARAMATA, onde realizamos diversas produções, entre elas o documentário Viagem ao Mato Virgem, em 1998, que registrou a primeira versão da Canoagem Ecológica Pontal-Banco da Vitória, que retrata a memória da visita do jovem príncipe Maximiliano de Habsburgo a Ilhéus, em 1860. O vídeo tem a narração da saudosa psicóloga, pedagoga e promotora cultural Carla Mendes, já falecida.


O registro da primeira canoagem ecológica de Ilhéus, realizada em 1988, foi transformada num documentário educativo, contando com a participação do Embaixador da Áustria no Brasil.










Em 2003 fomos convidados pela Associação Brasileira de Apoio aos Recursos Ambientais - Abará e o Centro de Recursos Ambientais da Bahia - CRA, para um desafio extraordinário: documentar as ações do projeto “Descobrindo a Natureza” (Parte 1 e Parte 2), no paraíso que chamamos Lagoa Encantada, e suas vilas e povoados. Nesta experiência já tínhamos a exata noção que o Vídeo Ecologia precisava contar com a metodologia participativa na sua realização, e mais que um produto educativo, o vídeo assumiria um papel de interlocutor entre os diversos atores, e num memorial das ações e processos sócio-ambientais.



O documentário sobre a Gestão da Lagoa encantada obteve grande aprovação por parte dos gestores ambientais e das comunidades envolvidas, tornou-se um entidade com vida própria, e já foi visto por mais de dez mil pessoas.
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Ainda numa parceria com a Maramata e a Fundação Cultural de Ilhéus, realizamos a primeira mostra de vídeos sócio-ambientais de Ilhéus, a Ilhéus Eco Cine 2004, com exibição de mais de 100 títulos e a realização de uma Mostra Paralela que premiou os melhores documentários ecológicos regionais. Nesta ocasião, adquirimos um variado acervo de documentários ecológicos e sociais para estas instituições.


Aurelino Alves dos Santos, o Oreco do Bumba Meu Boi da Vila de Urucutuca, um dos valores culturais resgatados pelo vídeo da Lagoa Encantada. O Vídeo cumpre cumpre assim, sua função memorial.


Em 2007, dirigimos o vídeo Agricultura Familiar e Agroecologia, para a CEPLAC e a produtora Câmera Hum. O vídeo trás uma mensagem técnica e promove valores sócio-ambientais. Na sua produção, contou com a participação de agricultores de Maria Jape e da comunidade rural do Assentamento Frei Vantuy, no Banco da Vitória.










Este é o caminho que continuamos trilhando nesse país imenso e rico, pois a democratização desta linguagem ainda tem uma longa estrada para percorrer. Por isso precisamos incentivar e apoiar, em todos os níveis, a sua produção e difusão em circuitos oficiais e alternativos de exibição pública, sobretudo nos lugares remotos onde o acesso ao audiovisual é precário.