Pesca de Calão
A pesca de Calão é das atividades mais tradicionais de Ilhéus, e assegura uma grande rede de tradições culturais dos grupos sociais mais pobres. Sabemos que a exclusão histórica que a sociedade de classe e a ordem econômica dominante impuseram a grande parte da população encontrou na pesca artesanal em rios, lagoas e manguezais, um elo de preservação cultural e união solidária passado de geração em geração.
A pesca de calão é tradicional em Ilhéus, e se mantém hoje, especialmente na praia do Malhado, em função dos Manguezais da enseada do Rio Almada. Como já falamos na reportagem Pesca Artesanal em Ilhéus, esta modalidade de pesca vive na informalidade, e sem reconhecimento formal. Os pescadores se valem dos códigos pesqueiros nacionais, segundo os quais as águas territoriais brasileiras são propriedade comum de livre acesso.
Mas deixando de lado os importantes aspectos da conservação e manejo do estoque pesqueiro, já que, segundo o Greenpeace, 80% das espécies marinhas estão em extinção; e ainda a afirmação da IUCN, que as populações pobres do Terceiro Mundo não são consideradas capazes de manter o luxo da conservação dos recursos, queremos centrar este artigo no grande exemplo de união e solidariedade e união que eles nos ensinam.
A pesca de calão, um tipo de rede de cerco de águas rasas operado por oito pescadores em canoas de 6 a 10 metros, é o foco histórico da economia rural marítima na Bahia. A renda gerada por esta pesca filtra-se através dos circuitos da vizinhança. Uma rede de calão de 200 a 300 metros de comprimento normalmente representa o investimento de todas as economias de um mestre. Poucas redes são compradas novas e são freqüentemente herdadas em vários estágios de uso, necessitando de concertos contínuos. Possuir tal rede é a mais alta aspiração de um pescador e demonstra a marca de um status social elevado.
Quando os canoeiros vão jogar a rede, geralmente muito cedo, às 5 ou 6 horas da manhã, dezenas de pessoas, entre homens, mulheres e crianças, que já não moram mais nos lotes urbanos das praias, descem os morros do Alto do Amparo, Alto do Coqueiro, dentre outros, e vão para a praia à espera do milagre da solidariedade. Os negócios são feitos ali mesmo, uma parte é tirada e outra dada a comunidade, a esperança vence o cansaço e uma única rede, pode levar peixe a mais de 300 pessoas.
______________ Alguns trechos de sua pesquisa:
Na vizinhança das comunidades de pescadores as pessoas se esforçam para se dissociar do estigma da exclusão social. No Brasil, ser visto como “marginal” não significa somente ser pobre e sujo, mas também ignorante, sofrer de ausência de caráter e, possivelmente, criminoso. (cf.Pearlman, 1973) A maioria dos pescadores recusa esse estereótipo. Eles conseguem transformar essas limitações sócio-econômicas em formas compensatórias de liberdade de conduta e expressão.
Comentários
Estou apreciando muito as matérias de seu blog.
Interessantíssimo!
Um abraço.
Abs,
Rui
estou precisando do contato de john cordell.
estou finalizando mestrado aqui na bahia e preciso ter o contato com cordell para fazer parte da minha banca (urgente!)
se vc tiver acesso, por favor me envie alguma resposta
erikauefs@gmail.com
abraço
e parabéns pelo blog
erika mineiro