terça-feira, março 26, 2013

Mata atlântica foi ‘esvaziada’ de mamíferos, diz estudo


O termo parece um palavrão e, de fato, a situação que descreve não é nada bonita: “desfaunação”. Ou seja, o sumiço da fauna – um fenômeno que parece ter afetado 80% da mata atlântica que ainda resta numa região vasta, que vai do leste de Minas Gerais a Sergipe.Nessas regiões, uma hecatombe parece ter exterminado quase todos os mamíferos pesando mais de 5 kg – mesmo quando a floresta propriamente dita, à primeira vista, está intacta, mostra um novo estudo, que acaba de ser publicado na revista científica “PLoS ONE”.

A pesquisa, feita por uma equipe que inclui os brasileiros Gustavo Canale, da Unemat (Universidade do Estado de Mato Grosso) em Tangará da Serra, Carlos Peres, da Universidade de East Anglia (Reino Unido), Cassiano Gatto (Inpa), Carlos Guidorizzi (ICMBio) e Cecília Kierulff (Instituto Pri-Matas), envolveu um levantamento numa área de mais de 250 mil km 2 de mata atlântica em Minas Gerais, Bahia e Sergipe.

Com ajuda de imagens de satélite e aparelhos de GPS, os pesquisadores mapearam os principais fragmentos de floresta nessa região – cerca de 200. A equipe, então, fez levantamentos rápidos da fauna em cerca de 50 deles. Nos demais casos, entrevistaram moradores da zona rural de cada região, os quais estivessem habituados a visitar a mata e morassem havia anos perto da floresta, em busca de informações sobre as espécies que eles costumavam ver nos fragmentos de floresta.

O alvo da equipe era um conjunto de 18 espécies de mamíferos de porte grande e médio. São animais como onças, antas, veados, tamanduás e macacos-pregos. Um dos critérios para escolher esses bichos específicos como indicadores do estado da fauna nos fragmentos de mata, explicou Gustavo Canale à Folha, foi o fato de que seria fácil para os moradores identificá-los numa conversa com os cientistas.

“A gente queria evitar espécies mais crípticas [de identificação mais difícil] ou ariscas, como gatos-do-mato ou jaguatiricas”, afirma ele. “Também são bichos bastante caçados, o que leva os moradores a procurá-los mais na mata. E também são relativamente pouco exigentes em termos de ambiente.”

Restam quatro – O resultado não foi dos mais auspiciosos: das 18 espécies de mamíferos, só quatro, em média, ainda ocorrem por fragmento de mata com tamanho entre 50 hectares e 5.000 hectares.

Mesmo em trechos de floresta considerados muito grandes para o estado atual da mata atlântica (os com mais de 5.000 hectares), só sete espécies, em média, ainda estavam presentes.

Na prática, isso significa que bichos como onças-pintadas, queixadas (um tipo de porco-do-mato), tamanduás-bandeiras, antas e muriquis (o maior macaco das Américas) estão praticamente extintos nesse pedaços importantes da mata atlântica.

Preguiças, pacas, bugios e raposas se saem só um pouco melhor. Os únicos mamíferos a resistirem em mais de metade dos fragmentos estudados são os saguis.


“Uma coisa interessante que nós vimos é que, no caso dos remanescentes florestais, tamanho não é documento”, afirma Canale. “A gente esperaria que, quanto maior o fragmento, maior a chance de ele preservar uma diversidade mais ampla de espécies, mas não é o que acontece.”

A explicação para o estrago até nos remanescentes florestais maiores, segundo os pesquisadores, é relativamente simples: mesmo quando a mata não era derrubada, a caça nessas regiões continuou e ainda hoje é muito comum, o que acabou com as espécies grandes.

A situação só é diferente, afirmam eles, nos fragmentos que também são áreas protegidas por lei. Nesses lugares, mostra o estudo, a maioria das espécies ainda pode ser encontrada -o que, para os biólogos, indica que é preciso criar mais áreas protegidas de forma efetiva.

Diferenças regionais? – Para o biólogo da Unemat, é difícil saber se essa situação desoladora é a mesma em outras regiões da mata atlântica, no Sudeste e no Sul, por exemplo.

“Todo mundo tinha a sensação de que essas espécies estavam dançando na mata atlântica do Nordeste. O que o nosso trabalho é quantificar isso. Não existe uma quantificação comparável para outras regiões, mas pode ser que a situação seja um pouco melhor no Sudeste por razões históricas, pelo tipo de caça preferida, por exemplo. A gente sente que a pressão de caça no Nordeste é mais intensa – em vez de comer só porco-do-mato ou veado, por exemplo, as pessoas também comem preguiça, comem macaco”, explica.

Fonte: Reinaldo José Lopes/ Folha.com)

Fauna encolhe mais que o esperado em fragmentos da Mata Atlântica



Os animais que vivem em fragmentos da Mata Atlântica isolados das áreas florestais mais amplas estão morrendo em um ritmo mais acelerado do que se imaginava, segundo um estudo publicado na terça-feira. "Descobrimos um ritmo alarmante de extinções locais", disseram os pesquisadores britânicos e brasileiros em artigo na revista especializada online PLOS ONE.


Eles visitaram 196 fragmentos da Mata Atlântica que ficaram isolados por causa do avanço de cidades, estradas e campos agrícolas. Cada trecho isolado, com áreas entre 1 e 5 mil hectares, tinha em média apenas 4 das 18 espécies de mamíferos que eram procuradas pelos cientistas - bichos como bugios, saguis e catetos.


Os queixadas, por exemplo, uma espécie de porco-do-mato, "foram completamente extintos, enquanto jaguatiricas, antas, muriquis e tamanduás-bandeiras estavam virtualmente extintos", disse a equipe. As estimativas anteriores sobre a fauna desses trechos isolados, com base no tamanho de cada fragmento, previam uma sobrevivência maior dos animais, segundo o estudo. Mas aquelas estimativas subestimavam persistentes fatores humanos, como queimadas e a caça.


"Essa é uma má notícia para a conservação", disse à Reuters o professor Carlos Peres, da Universidade de East Anglia, na Grã-Bretanha. Muitos animais, segundo ele, sumiram mesmo em áreas de mata que eram consideradas grandes e intactas.


Segundo Peres, o ritmo de redução da fauna na Mata Atlântica pode estar acontecendo também em países como Indonésia, Gana e Madagascar. Os cientistas disseram que é necessário um esforço de conservação, e que o estudo mostrou uma maior resistência da fauna em cinco remanescentes florestais protegidos como parques. "Esse estudo é um aval muito grande e positivo para mais áreas protegidas", disse Peres.


Ele declarou que também poderia haver tentativas de mensurar o valor econômico das florestas, incluindo-as, por exemplo, na luta contra a mudança climática. As florestas vivas absorvem o dióxido de carbono, principal dos gases do efeito estufa, e liberam esse material quando são queimadas ou apodrecem; entre 12 e 20% dos gases do efeito estufa emitidos por atividades humanas vêm do desmatamento. A queima de combustíveis fósseis responde pela maior parte do restante.


Quase 200 países discutem atualmente formas de proteger as florestas por meio de um programa da ONU chamado REDD (Redução de Emissões pelo Desmatamento e Degradação florestal), que imporia um preço ao carbono armazenado nas árvores dos países em desenvolvimento, incluindo, por exemplo, as florestas nos esquemas de créditos de carbono.


Peres disse que "degradação" no jargão da ONU se refere principalmente à extração de madeira, mas deveria abranger também ameaças à fauna. "Minha missão é colocar a vida selvagem e a biodiversidade nesse segundo D de REDD."

Fonte: Terra

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