O Reino Endêmico da Mata Atlântica



Mapa /Fonte: Ceplac


O termo pode não ser o mais simples, nem mesmo, o mais sonoro. Mas tem um significado tão importante, que às vezes não percebemos de que, apenas dos habitantes locais podem ajudar a salvar essas tais espécies endêmicas.


Enquanto o homem sobrevive em quase todo o planeta, alguns seres vivem, apenas, em pequenos espaços. São espécies descendentes daquelas que se refugiaram por aqui, durante o último grande período glacial, e se tornaram altamente especializadas nos micro-climas regionais: temperatura, clima, ensolação, altitude, etc.



A Mata Atlântica do Sul da Bahia é um desses reinos do endemismo, de espécies que vivem exclusivamente aqui, e não foram registradas em nenhuma outra área da Mata Atlântica, ou em qualquer outra região do planeta.


Observando uma lista de Plantas Endêmicas do Sul da Bahia da CEPLAC, de 10 anos atrás, encontramos mais de 60 espécies de 28 famílias diferentes. Tem de tudo nesse reino exclusivo, desde árvores grandes e macacos, até peixes, sapos, orquídeas e beija-flores, etc.



Dezenas de novas espécies foram descritas nos últimos dez anos, reforçando os números impressionantes de endemismo da Mata Atlântica brasileira, onde mais de 8 mil espécies são endêmicas: 39% dos mamíferos; 55% das espécies arbóreas; 40% das não-arbóreas; 70% das bromélias; 64% das palmeiras; além de mais de 160 espécies de aves e 183 de anfíbios. Números que aumentam e diminuem conforme estudamos mais o assunto, ou destruimos o que ainda resta de habitat.



O grande motivação, sem dúvida, é conhecer essas espécies, para desenvolver valores de sensibilidade com a sua existência e função ecológica, como no clássico confronto entre o cientista Augusto Ruschi e o desmatador Rainor Grecco, quando Ruschi foi pro embate direto sensibilizar Grecco dizendo: se você desmatar (com autorização) aquela pequena floresta, onde tem aquele pequeno riacho e umas flores ao seu redor, você estará tirando da existência, uma espécie única de beija-flor. Um exemplo de diálogo, onde o beija-flor e o homem saíram ganhando.


Conhecer para despertar o interesse, e sensibilizar para motivar ações concretas é o caminho da educação ambiental. Por exemplo, tem uma Bromelliacea chamada, Veriesia duvaliana E. Morren, que é exclusiva do sul da Bahia. Existem mais de uma dezena de Veriesia, mas essa espécie, que foi descoberta em Serra Grande, distrito de Uruçuca, só foi identidicada nesse local (foto abaixo).


O governo, os proprietários de terras e toda a sociedade dessa região precisa ter maior acesso a essas informações e conhecimentos. Pedimos a Biodinâmica, responsável pelos estudos, a lista de espécies que foram resgatadas na região, e recebemos a resposta que só a Coelba poderá informar essa lista.



O resgate de um Calabião pelo Biodinâmica, oportunidade de conhecer uma espécie de largato arborícola que eu nunca tinha avistado por ali, apesar de já ter "fuçado" bastante o local.


Tudo bem, vamos aguardar, e buscar essa informação preciosa com a Coelba, para promover o conhecimento sobre a biodiversidade do eixo Ilhéus-Itabuna.


Uma atividade altamente educativa e estimulante, que é reconhecer, que o lugar onde vivemos, está cheio de raras preciosidades do mundo natural. Recentemente descobri que o sapo-andante Macrogenioglottus alipioi teve seus primeiros registros justamente na propriedade de minha família, Fazenda Pirataquissé, assim como essa região é referência internacional na identificação do o estudo.




É muito importante ver, conhecer a espécie, entender seu significado para a floresta. Esta é uma informação que precisa estar acessível a todos, especialmente para os proprietários rurais, e aqueles que gerenciam as áreas verdes públicas ou privadas.


Esse é o reino de endemismo do sul da Bahia, das piaçabeiras de excelente fibra, do macaquinho de cara dourada (Leontopithecus chrysomelas) que encantou o Príncipe Philip, e de tantas outras espécies que precisamos proteger. Um sul da Bahia riquíssimo em biosiversidade, mas que, apesar de todos os esforços, ainda encontra-se ameaçado, e vulnerável.

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