Camacan derruba exemplar raro de Jequitibá

Ela é a maior árvore brasileira, podendo chegar a 40 metros de altura e 12 metros de diâmetro. Na copa dessa árvore portentosa, vivem tucanos, macacos e cerca de 20.000 outras plantas. É símbolo do estado de São Paulo e do Espírito Santo, e tem no sul da Bahia um de seus principais jardins.


Essas árvores remanescentes tem grande valor como testemunhas da antiga floresta virgem. Trata-se de uma espécie do gênero Cariniana, descrita pela primeira vez em 1837 por Von Martius, quando esteve no Brasil (e no sul da Bahia), como Couratari legalis. Após a revisão de gêneros botânicos, feita por Kuntze em 1898, foi renomeado como Cariniana legalis.


As pessoas, comunidades e cidades costumam proteger e divulgar a existência de um remanescente desses como um patrimônio local. É assim em Silva Jardim-RJ, Divisa Nova-MG, Parque Estadual de Vassununga-SP e as cidades sul baianas de Ubatã e na Reserva do Teimoso, em Jussari.



Estudar, proteger, tirar uma foto e dar aulas de educação ambiental às crianças: É assim que se faz onde se desenvolveu um mínimo de sensibilidade para as árvores.


Não foi o que fez Camacan, outra cidade do sul da Bahia, e um dos municípios mais importantes para a proteção da biodiversidade dessa região. Por falta de sensibilidade, o poder público cortou uma dessas relíquias, que se costuma proteger e estimar.



Ao invés de cortar um exemplar desses, a prefeitura de Camacan deveria ter tomado providências para datar a arvore e tomar medidas para a sua proteção como replantio de árvores no seu entorno para evitar a ação dos ventos.


É um trabalho de aproximação determinar a idade real desses raros exemplares, mas podemos dizer com certeza que ela é a árvore mais longeva de nossas florestas. O jequitibá da Reserva do Teimoso em Jussari foi datado em 800 anos, enquanto o exemplar de Vassanunga calculou-se incríveis 3.020 anos de idade.



Jequitibá de 3.200 anos do Parque Estadual de Massurunga-SP.


Para esse fato, vamos usar as palavras de Rainor Grecco, que, com apoio dos governos desmatou só na mata atlântica, mais de 60 milhões de hectares e já idoso, disse uma vez no Jô Soares, que os tempos mudaram e os homens precisam desenvolver a sensibilidade para com as árvores.


É isso aí Grecco, precisamos mesmo entender o quanto as árvores são nossas parceiras em tantos aspectos de nossas vidas. Quem sabe a arte e a cultura nos inspire , como aquela cantada pelos caipiras em “Saudade da Minha Terra”, de Goiá e Belmonte: “vou escutando, o gado berrando, o sabiá cantando no jequitibá...”, ou na música do sambista da Mangueira José Ramos, parceiro de Cartola e grande compositor de sambas de terreiro da escola: ...Ô ô ô ô ô /O Jequitibá do samba chegou/ Mangueira é uma floresta de sambistas/Onde o Jequitibá nasceu...


No sul da Bahia, Jequitibá é história, nome de serra, poesia e conto. Foi do alto da serra do Jequitibá que o cantor Marcelo Ganem e a Banda Energia Azul irradiou as primeiras campanhas ecológicas dessa região, ecoando seus cânticos e louvores às nossas extraordinárias riquezas naturais.


JEQUITIBÁ REI, um clássico do ator e poeta ilheense, José Delmo.



A cidade tem todas as almas
e a alma todas as coisas que a cidade tem.
A minha memória se encerra
na copa verde do Jequitibá
eleito pela natureza
no alto da serra
e que, impassível, na sua grandeza de madeira de lei
assistiu ao primeiro navegante chegar
pelo mar azul da Capitania dos Ilhéus.
Nunca sentido o eco
do estampido seco da arma de fogo
do louco tenente Romero
contra os índios desavisados.
E como fora penoso o vôo
da última graúna,
cansada e ferida,
afogada nas águas do Rio Cachoeira,
que levavam para o mar
as penas dos pássaros
e os corpos dos índios,
expirando dos deuses de pedra dura
a palavra ita
e da mata escura
dos bichos pretos, de penas,
felinos, rasteiros e peçonhentos
a palavra una
até brotar do açoitado
Amor Divino
sergipano Felix Severino
a cidade de pedra-preta, Itabuna!

O perigo
próximo ao teu pé
derrubava as árvores da mata
onde o príncipe Maximiliano
austríaco aventureiro
preso aos lamaçais traiçoeiros
viu macucos serem abatidos
por seus famintos tropeiros.
Mais manchas de sangue
sobre as águas de outro rio
a eternizar no lugar
e no seu leito de areia lavada
o nome do pássaro tombado:
Rio e Vila Macuco.

Qual imponência,
emplumada de verde!
Era o verde!

Verde testemunha
da batalha dos nadadores,
dos traficantes catando búzios,
do verde-sumo, do mar quase anil,
repleto de naus e caravelas
transbordantes de pau-brasil.
Do rufar dos tambores
dos negros amotinados
no Engenho de Santana.
Dos quilombos e aldeias destruídas,
das catucadas mortais,
do valente cafuzo
nos holandeses de Nassau,
antes, nos franceses, com ares de tais.
Dos pontos luminosos
saltitando nas entranhas das matas
como mico-leão-da-cara-dourada.
Do pássaro Solfalá
que sumiu aos olhos dos homens
e da Lagoa Encantada fez seu habitat.
Da Vila Ferradasferrada na margem da veia abertapara o coração mortal da floresta.
Dos caxixes dos coronéis,
dos jagunços em tocaia, do tombo dos inocentes,
de tanta gente chegando, matando, morrendo,
nascendo, resistindo.
Os pássaros e os índios sumindo... sumindo...
Sumindo como fora o macaco jupará,
semeando a roxa amêndoa na mata,
aprovando o cacau que os colonos
trouxeram para as terras do sem fim.

Ó Jequitibá!
Fostes invulnerável ao verde espetáculo
antes de ser poluído pela civilização grapiúna
e só quando frágeis eram teus galhos
despencastes serra abaixo’
teu tronco milenar
pondo espantados os olhos das casas
que se erguiam ao teu pé.

Sabias, ó jequitibá!
em tua rica solidão de madeira de lei
que quando as árvores, os pássaros, os índios,
os rios, os bichos,
nhoesembé, ita, una, uô,
não tinham nomes brancos,
era mais o azul do céu e o verde da mata.
Era profundo o silêncio da orquestra dos bichos...


Assim como Ubatã (veja aqui) aparece na mídia com seu Jequitibá raro (veja vídeo), Camacan também poderia estar vendendo essa ideia, ao invés de ser notícia em mais de vinte sites como a cidade que cortou uma árvore de 500 anos.



Prefeitura derruba jequitibá de 500 anos
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