A Ferrovia de Integração Oeste-Leste e a Comunicação Social

O drama vivido pela Comunidade Volta do Rio, situada ás margens do rio de Contas, no município de Ubaitaba não é um fato isolado na construção de uma obra do porte da Ferrovia de Integração Oeste-Leste, que na Bahia, atravessa os ecossistemas ameaçados da Caatinga e da Mata Atlântica, em uma paisagem profundamente marcada pela presença de comunidades tradicionais.


A ética e o exercicio da cidadania, como uma prática educativa, exige sempre, que todos se coloquem no lugar dos atingidos. Esse é um príncipio do sentimento de coletividade, da identidade cultural regional, enfim, da defesa do bem comum.


Existe uma grande necessidade de transparência das informações socioambientais, para que todas as questões que possam vir a acarretar prejuízo ambiental e social, sejam esclarecidas e corretamente avaliadas.


Não se trata apenas, de tentar mitigar impactos ambientais por onde a ferrovia for implantada, mas de compreender a paisagem humana (sócio-econômica e cultural) que será afetada com a sua existência. Grandes modificações ambientais envolvem múltiplas e complexas questões socioeconômicas e culturais, e todo cuidado é pouco, para que erros não sejam cometidos no micro-espaço onde se defende as nascentes, os riachos, a agricultura familiar, o patrimônio cultural, material e imaterial.


O governo precisa cumprir seu compromisso de democratização da informação ambiental de fato. Projetos desse porte precisam de canais de comunicação direta com a população, dando suporte à compreensão das relações humanas, através de abordagens multidisciplinares, e não através de um batalhão de engenheiros.


A comunidade anseia por diagnósticos participativos, por espaço de decisão e vigilância, e as organizações sociais locais governamentais e civis precisam acompanhar as questões que se apresentam no micro-cenário regional.



No trecho da Bahia, o traçado da ferrovia segue um traçado paralelo ao leito do rio de Contas desde a caatinga até a mata atlântica. A qualidade das intervenções da Ferrovia de Integração Oeste-Leste irão determinar, o grau maior ou menor dos impactos sobre o rio, a biodiversidade e as atividades tradicionais dessas regiões.


Espera-se que as autoridades compreendam a necessidade de maior investimento em uma assessoria de comunicação adequada, voltada para informar sobre todos os encaminhamentos relacionados às questões ambientais e sociais. Mais que isso, seria legítimo criar uma central de comunicação direta com a sociedade, a fim de que todos pudessem se dirigir legitimamente ao empreendedor, afim de alertar sobre fatos novos observados "in loco", colocar questões específicas relacionadas aos atingidos ou realizar uma denúncia sobre irregularidades, estabelecendo um processo permanente de transparência e fiscalização pública dos empreendimentos.

Como isto não acontece, e a maioria dos prefeitos não vão para o front da batalha para defender, da melhor forma possível, o povo e o patrimônio do município, a sociedade encontra meios alternativos de expressar suas contrariedades, seja através do Ministério Público, ou dos movimentos sociais organizados.

A defesa especial dos rios, dos ecossistemas ameaçados e das pessoas de menos posses, que tem no espaço natural seu maior patrimônio, são algumas das referências de uma escala de valores sócioambientais, realmente conectada com a felicidade duradoura que preconiza o desenvolvimento sustentável.

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