domingo, novembro 21, 2010

MINHA ÁFRICA DO SUL DA BAHIA

POR PAULO PAIVA
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Ilhéus e Itacaré são importantes referências de negritude e de cultura negra afrobrasileira. E nessa área está surgindo e resurgindo um dos movimentos sociais mais importantes do Sul da Bahia. Diversos eixos de mobilização, organização, desenvolvimento de projetos tem sido perseguidos e aperfeiçoados.
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Parabéns a esses guerreiros com ou sem cor, mas com consciência negra. Parabéns Jorge Rasta da Casa do Boneco de Itacaré, à Fabiana do Projeto Liderança Quilombola do Instituto Floresta Viva e Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial, que tem colaborado com o movimento em Itacaré, e que realizou um belíssimo intercâmbio (de ônibus e avião) levando nossas lideranças à Olinda, Campinas, Senhor do Bonfim, etc.
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Parabéns a todas aos mais de 500 comunidades de terreiros, que ainda estão anônimas e sem reconhecimento, ao Jaco Galdino e Dó Santana do Movimento Cultural Arte Mãnha de Caravelas, e de forma toda especial, a todos os integrantes dos movimentos quilombolas dessa Bahia imensa. Parabéns ao povo de Elvercia em Nova Viçosa, esquecido no meio do mar de eucalipto do extremo sul da Bahia, um parabéns muito especial ao Valmir dos Santos da comunidade de Tijuaçú no município de Senhor do Bonfim, e as nossas resistências locais de Ilhéus, como Mãe Ilza e seu filho Marinho do Terreiro de Matamba Tombenci, e parabéns ao presidente Lula, que não foi bem na área ambiental mas nunca será esquecido por ter apoiado uma política para as comunidades tradicionais de índios, pobres, sem terras, pescadores, marisqueiras, caipiras enfim, herdeiros da opressão econômica e territorial histórica.
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Na foto abaixo, Delsuc Gomes dos Santos, uma das grandes lideranças do novo sul da Bahia, com sua mãe, moradores do Quilombo do Fojo na zona rural de Itacaré. Essas são as novas faces do Brasil que resolve enfrentar o dragão das injustiças sociais e dos prejuízos humanos, em busca da verdadeira libertação da sociedade brasileira, quebrando de uma vez as algemas do passado que permanecem infiltrada em nossa cultura de mil tons.
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BRASIL, MAIOR PAÍS NEGRO DO PLANETA COMEMORA SEU 19 DE NOVEMBRO - DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA. O SUL DA BAHIA TEM MUITO DA HISTÓRIA DESSES POVOS FORMADORES DO BRASIL E DA NOSSA CULTURA. ESSA GENTE QUE NÃO É PORTUGUESA, NÃO É ITALIANA, NÃO É SUÍÇA, NÃO É LIBANESA, E QUE NÃO SABEMOS DISTINGUIR QUEM SÃO, DE QUE PAÍSES VIERAM. E DENTRO DESSE IMENSO ESQUECIMENTO, COLOCAMO-NOS DIANTE DE UMA IMENSA TAREFA: REESCREVER A NOSSA HISTÓRIA E MUDAR O NOSSO DESTINO. ENQUANTO ISSO NOS RESTA O CONSOLO DA COMPROVAÇÃO CIENTÍFICA DE QUE SOMOS TODOS NEGROS TAMBÉM.
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CLARO QUE NEM TODOS TÊM ESSE DOM NO ESPÍRITO DE ENTENDER O IMENSA RIQUEZA QUE VEIO DESSE CONTINENTE DO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO, E COMO NÃO SABEMOS DIREITO A HISTÓRIA DE CADA PEDACINHO DESSE BRASIL DA MEGADIVERSIDADE CULTURAL, CHAMAMOS NOSSOS ANTEPASSADOS DE COR APENAS POR NEGROS, AFRICANOS, ENQUANTO AGENTE NÃO RESGATA UM MÍNIMO DE NÓS MESMOS, DA NEGRITUDE QUE NOS PARIU, NOSSOS TRAÇOS E NOSSA ORIGEM.
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O sul da Bahia tem um papel importante no resgate da história do Brasil, mas falta muito exercicio de memória para resgatarmos um mínimo do imenso patrimônio imaterial naufragado no esquecimento. Mesmo assim, como Cristãos saindo das catacumbas, a nossa gente humilde está encontrando um caminho político, frestas de luz ao diálogo, esperança de redenção. O movimento quilombola tem um significado socio-territorial e histórico-cultural de resgate de direitos e reconhecimento de quem mais trabalhou por esse país. E é buscando as origens da opressão que nós esperamos ver essas comunidades saírem definitivamente do anonimato, e da dependência.
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Ilhéus, Itacaré, Maraú, Canavieiras, Caravelas, o cacau, o dendê, tudo nesta faixa de litoral é muito África. Temos registrado em nossos trabalhos como jornalista e de forma muito especial, com os recursos do audiovisual, esse imenso campo de redescoberta da identidade nacional através da ponte azul do mar Brasil-África.

Dia 19 é um dia de uma reflexão profunda ... A grande liderança quilombola, Valmir dos Santos da comunidade de Tijuaçú (Senhor do Bonfim) diz em um de nossos documentários: "a realidade é que nossa vida é uma vida paltada em dificuldades, desde que fomos trazidos de nosso país de origem para cá, que nós temos passado por todo tipo de dificuldade".
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Essa semana, comunidades e movimentos negros festejam e reforçam os compromissos com uma política de governo especial para o negro, com uma conscientização social mobilizada, com o combate a pobreza pela inclusão total aos benefícios da civilização. Por isso, hoje é dia de parabéns para todos que estão trabalhando pra reler a África daqui, aqui. Parabéns a Fundação Palmares, ao governo pela política Quilombola. Na foto ao lado, Mãe Ilza, herdeira de uns dos terreiros mais antigos de Ilhéus e da Bahia.
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Eu tenho aprendido muito com esse movimento social de combate a ignorância e ao esquecimento, e fico de olho na transformação definitiva "do olhar da sociedade brasileira", que possa se voltar para o enxergar o que vê, se curando da cegueira maldita que é a verdadeira ignorância social, um presuposto fundamental para o Brasil ser desenvolvido, um país Classe A no terceiro mundo. Tudo ainda é pouco para isso, anda devagar e já demorou demais, mas se ainda existem interesses que remam contra a pressa dos injustiçados, iremos longe, e iremos chegar mesmo assim, logo ali, transformados pela solidariedade, em um país escola da humanidade.

Um comentário:

Simone Dias disse...

Lanço o meu olhar sobre o Brasil e vejo negros pensando, falando e querendo...
Lanço o meu olhar pelo território, e vejo negros se impondo como sujeitos políticos potencias...
AXÉ! PARA OS NEGROS, AS NEGRAS E VOCÊ!