Audiência Pública Porto Sul (3): Tudo é Muito Grande, Menos a Floresta


Como o relatório de Impacto Ambiental nos mostra, tudo é muito grande no projeto Porto Sul, e os impactos também, envolvendo uma alta complexidade ecológica e socioambiental que não dominamos em sabedoria. Uma complexidade que o tempo apressado não permite aprofundar os riscos, e nem mesmo o diálogo com os atores envolvidos consegue fluir adequadamente.

Tudo é grande em números também para o meio ambiente, como está no RIMA que será apresentado dia 29 de outubro. O desmatamento previsto atinge quase duas mil hectares, o recuo da praia sob a Mata Alta de Restinga da Fazenda Juerana e Condomínio Joia do Atlântico alcançará até cem metros em dez a quinze anos, o impacto sobre o estoque pesqueiro é imitigável, sobretudo durante o longo, e possivelmente, interminável anos de obras, etc.

Indaguei aos consultores e ao Secretário de Meio Ambiente do Estado, sobre uma questão central que preocupa a todos: os riscos e probabilidades de contaminação epoluição com o mináerio de ferro. Aproveitei para recordar a reunião de março e 2010 no Sindicato Rural de Ilhéus, quando o presidente da Associação Brasileira dos Cacauicultores, Henrique Almeida, ao ser informado pela VALEC que os vagões viriam abertos, dizia não acreditar, que em pleno século XXI, ainda não existisse uma tecnologia para fechar vagões de minério.




Como tudo é grande nesse projeto, o terminal deverá receber, segundo o RIMA, “em média, cerca de quatro composições ferroviárias por dia, cada uma constituída de 140 vagões com capacidade de 111 t (cento e onze tonela-das) de minério por vagão”, e, segundo as informações que tenho, atravessará cerca de 200 fazendas de cacau até descarregar o minério à céu aberto nas proximidades do Almada, em 133 hectares com capacidade estática de estocagem de 180.000 toneladas.

O Secretário respondeu que os riscos está no desembarque no porto, e falou daquele sistema de umidificar os morros de minério, mas que os vagões viriam fechados, tendo eu lhe respondido que a informação que ouvi naquela reunião não era essa. Ele então me disse que não tinha a informação, mas me garantiu que o problema seria resolvido,e que de alguma forma os vagões viriam fechados, ou tapados.
PROJETO AGRAVARÁ IMPACTOS NO LITORAL NORTE



É inadmissível perguntas como essa ficarem no ar a uma altura dessas. Isso não dar à sociedade do sul da Bahia, o direito de conhecer verdadeiramente, os impactos que poderão lhes prejudicar. Se temos dúvidas ainda sobre a contaminação de minério pela ar ou pela água, precisamos esclarecer a população.

Não é hora de política, de torcida, de nenhum grupo fechar os ouvidos, ou não se incomodar porque acha que o impacto na sua vida individual vai ser positivo. É hora da Audiência Pública Oficial, então mostrar ao IBAMA que precisamos esclarecer nossas dúvidas, porque nossa região e nossa gente humilde não pode servir de cobaia para nenhum interesse econômico desse mundo.

Questões que não podem passar desapercebidas a nenhum cidadão com compromisso ético e interesse coletivo. Toda a sociedade precisa ter conhecimento, inclusive, aqueles que pensam que não serão atingindos diretamente pelo obra.

Acredito na boa intenção do secretário e também filósofo Espengler, de buscar uma conciliação positiva da sustentabilidade socioambiental nesse projeto. Mas nesse caso, diante da pressa cega do interesse econômico imediato, a filosofia pouco espaço tem para refletir que não somos superiores à natureza. Estamos mesmo com fome de respostas que não existem, e não podemos esperar que elas venham depois que os problemas acontecerem, o queprejudicaria a todos, indistintamente, sobretudo aos empreendedores.

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