O Cacau do Sul da Bahia
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O chocolate é um produto globalizado há bastante tempo, mas a sua história pouco reconhece a importância dos agricultores do sul da Bahia, e nós mesmos, ainda precisamos de muita conscientização para não desistirmos do cacau e de suas possibilidades.
Temos grande mérito não apenas pelo que já fomos no seu mercado, mas pelo que devemos ser. Nós criamos o boon dessa lavoura com uma monocultura que nasceu ecológica, imitando a floresta. Depois, ela migrou para outras terras da Venezuela, Porto Príncipe, Equador, Gana, Nigéria, Indonesia, Malásia e Costa do Marfim. Mas em nenhum desses lugares o cacau agregou tanto valor para a ecologia e a biodiversidade como no sul da Bahia.
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É verdade que nesses países, o “fruto dos deuses” cumpre seu papel social num sistema altamente cooperativado, sustentando milhares de famílias pobres, enquanto por aqui, concentrou riquezas durante muito tempo. Mas essa realidade mudou, e o cacau do sul da Bahia é produzido, atualmente, em uma maioria de pequenas e médias propriedades, muitas delas obtidas pelo movimento da reforma agrária.
Com isso, a produção do sul da Bahia passou a agregar, além dos valores da biodiversidade, os valores da inclusão social e do fortalecimento das comunidades tradicionais de pequenos agricultores dessa região.
Mas a importância do cacau para nós deve ir além da economia e da ecologia. O cacau precisa ser culturalmente reconhecido como história, tradição, memória e identidade, e com esse sentimento de pertencimento, precisamos renovar nossa simbologia, valorizando as fazendas, o cacau e o chocolate do sul Bahia, de olho no futuro.
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Nos dias atuais, os produtores de cacau precisam, antes de mais nada, serem também, amantes e idealistas, para voltarem a acreditar que vamos vencer a batalha contra a ignorância governamental e o mercado cruel. Seguimos teimosos, alimentados pelos sonhos de várias gerações, e acreditando em dias melhores onde teremos nossos méritos reconhecidos.
Enquanto produtores, temos consciência que também somos protetores de um grande patrimônio ambiental e ecológico; também sabemos que nosso produto é o melhor do mundo, como comprovou as sementes de João Tavares, as melhores em Paris, concorrendo com 150 produtores de 20 países.
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Temos muito que fazer, e a primeira coisa é obter o apoio do governo federal, que precisa ser mais sensato com a gigantesca dívida acumulada, e acreditar junto com a gente, unindo todos os esforços para que as sementes de cacau do sul da Bahia não sejam vendidas a 70 reais por arroba, um custo que não paga a produção.
Os filhos do cacau não abandonam essa causa, mas precisam de reconhecimento. O cacau precisa ser reconhecido como patrimônio cultural do Brasil e do Bahia, e precisa de suporte e propaganda para ser reconhecido no mercado internacional como produto da floresta, com seu devido valor socioambiental agregado.
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Se continuamos endividados, enquanto o mercado do chocolate gera divisas bilionárias, temos que arregaçar as mangas e apostar que somos inovadores para superar as pragas e se reerguer com novas tecnologias. Seguiremos o caminho do cacau orgânico de alta qualidade, da certificação, do beneficiamento, da industrialização e da propaganda, incorporando as fazendas de cacau no melhor roteiro de negócios e visitação do sul da Bahia.
Não há nada que possa nos impedir de acreditar em beneficiar o cacau aqui mesmo, e gerar um novo ciclo de industrialização, um grande polo chocolateiro e de derivados. Assim seguindo, cremos que ainda ocuparemos o nosso devido lugar no mundo do Cacau Show, do Festival do Chocolate de Gramado ou no Salão do Chocolate de Paris.
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