segunda-feira, setembro 28, 2009

Caminhada dos Índios Tupinambás 2009

O Cururupe é um Sítio histórico que remonta ao século XVI. No local aconteceu o maior massacre indígena da história de Ilhéus, e um dos mais impressionantes da história das Américas, chamado de “A Batalha dos Nadadores”, e ocorrido em 1559. No episódio, os índios foram cercados pelos homens do terceiro governador geral do Brasil, Mem de Sá, foram massacrados e acuados na praia, morrendo a maior parte afogados nas areias grossas e ondas fortes. Os corpos foram extendidos um após o outro somando seis leguas de índios mortos.

Mas o símbolo da história contemporãnea de lutas do Tupinambás de Olivença é marcada pelo episódio conhecido como “A Última Revolta do Caboclo Marcelino”, que remonta massacres ocorridos na década de 30, em função da imposição da construção da rodovia Ilhéus-Olivença, prevista por esse povo como uma ameaça a suas terras e seu povo. O cenário dos massacres foi a enseada do rio Cururupe, local onde fora construída uma ponte.
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A Enseada do Rio Cururupe é uma área de grande valor cênico, e imcomparável qualidade para o lazer, além de seu extraordinário apelo histórico. Já foi a praia mais frequentada da região, e hoje, precisa recuperar não apenas a memória de grandes batalhas da humanidade, mas reparar graves crimes ambientais e realizar projetos sérios de revitalização ambiental e paisagística.


A NONA CAMINHADA TUPINAMBÁ
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A luta dos povos Tupinambás do Sul da Bahia se insere em um movimento nacional, amplo e profundo, de resgate social e de valorização de uma política nacional de desenvolvimento humano justo e sustentável, e que visa reconhecer os direitos territoriais para o desenvolvimento de comunidades quilombolas, indígenas, agricultores tradicionais, sertanejos, comunidades de fundo de pastos, extrativistas, marisqueiras e pescadores.

O povo Tupinambá tem conquistado vitórias em suas lutas nos últimos dez anos, primeiramente com o reconhecimento da identidade Tupinambá, e, mais recentemente, pela sinalização para a demarcação de um território. E foi levantando pacificamente essa bandeira, que mais de mil índios e caboclos dos municípios de Ilhéus, Una e Buerarema, realizaram um grande evento marcado pela confraternização de comunidades como Sapucaeira, Santaninha e Acuípe de Cima, e pela manifestação artística da cultura índigena, resistentemente preservada.

Esse evento anual do mês de setembro tem significado próprio e importância cultural como a Puxada do Mastro de São Sebastião, realizada por essas comunidades em janeiro. Esperamos ver a Caminhada Tupinambá transformada em um grande evento regional, na arena natural do magnífico rio Cururupe, com visibilidade de comunicação sem fronteiras.

E longe de polêmicas e generalizações, heis uma grande oportunidade para realizar inúmeros projetos de educação, turismo e conservação do patrimônio imaterial do sul da Bahia, e que deverá ser uma das referências futuras de nossa região.

A ausência da imprensa foi reclamada pelos participantes. De fato, não se justifica ignorar um ato social dessa magnitude. Mas, minimizando esse estado de coisas, a presença do autor desse Blog, iniciando a filmagem de um documentário pelo Eco Estúdio, e do fotodocumentarista Edy Ferreira, carimbou a visibilidade dos fatos, honrando toda a classe jornalística.

PALAVRAS DE ORDEM DA NONA CAMINHADA

"Não estamos aqui para reclamar os índios mortos, mas para celebrar a vida."
"Não somos um povo ressurgido, mas um povo resistente."
"Não estamos querendo as terras de ninguém, mas as nossas terras. Foi o estado que distribuíu títulos, e permitiu a invasão. O que ele está fazendo agora, é corrigir o erro que cometeu."
" O caboclo Marcelino é a nossa bandeira maior, pois ele entendeu tudo antes, reunindo o povo para lutar contra a construção da Ponte do Cururupe, porque sabia que a invasão da terra aconteceria."
"Nós precisamos estar conscientes do voto que damos. Fomos visitados e demos nosso voto a políticos que agora estão publicamente, contra nossa causa. Nós fomos enganados"
"A imprensa tem publicado que somos marginais, bandidos, oportunistas, e está manipulando a informação, transformando os fatos, e criminalizando os índios do sul da Bahia perante a sociedade."
"Eu não sou marginal."
"Nós somos e nos reconhecemos como Tupinambás, esse é o nosso nome, isto é o que somos."

A DEMARCAÇÃO QUE NÃO PODE NOS SEPARAR

A questão indígena dos Tupinambás de Olivença foi abordada nesse blog em duas oportunidades: Primeiramente na reportagem Tupinambá de Olivença, que expressa a necessidade de nos irmanarmos com esse povo simples, e depois, a reflexão “Que o Santo Diálogo nos Abençoe” que rebate o clima de radicalismo que se instaurou na região após o anuncio de reconhecimento de um território Tupinambá.

Não somos avessos a polêmicas e nem acreditamos em posições dúbias, mas é do jornalismo ambiental e cultural, aprofundar a informação e refletir a realidade de vários ângulos. Temos ansiedade pelo discernimento e enfrentamento de conflitos pelas vias do diálogo e da generosidade. O que somos avessos é a toda manifestação de violência e intolerância, especialmente, as que atingem os indefesos e a natureza.
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Acreditamos na unidade cultural Sul da Bahia, e por isso rejeitamos todo tipo de visão simplista que queiram atingir a dignidade das novas lutas e expressões contemporâneas, como os movimentos ecológicos, indígenas ou movimentos populares pela reforma agrária, como também, aqueles que infligem em discursos infelizes sobre símbolos culturais como os coronéis do cacau e a própria história do cacau, a igreja católica ou a obra de Jorge Amado.
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No caso da demarcação das terras Tupinambás, não temos dúvidas de que o assunto precisa ser aprofundado, para que possa ocorrer uma demarcação justa, que não deixe os verdadeiros índios dessa região sem identidade e território, mas que não produza novas formas de invasão e intolerância ideológica, não reconhecendo os direitos de pequenos agricultores, também infortunados, e de proprietários rurais, alguns deles, herdeiros legítimos de fazendas históricas estruturadas desde o século XIX.
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Ouvir as partes é o primeiro passo para termos uma boa informação sobre o assunto. Nos links abaixo do PARLATUBE, voces poderão ouvir os pronunciamentos angustiados da Cacique Maria Valdelice de Jesus, e do representante dos agricultores, Luiz Henrique Joaquin da Silva na Cãmara dos deputados em Brasília.

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