sábado, maio 17, 2008

Zélia Gattai, Eterna Amiga de Ilhéus

"Continuo achando graça nas coisas, gostando cada vez mais das pessoas, curiosa sobre tudo, imune ao vinagre, às amarguras, aos rancores."

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Neste sábado, às 16:45, João Jorge Amado informou o falecimento de sua mãe, a escritora Zélia Gattai Amado, quinze minutos antes, aos 91 anos de idade. A família decidiu cremar o corpo da escritora e espalhar as cinzas na antiga Casa do Rio Vermelho, da mesma como foi feito com Jorge Amado. O Governo da Bahia decretou luto oficial de três dias.
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"Meus ideais de hoje são meus ideais de sempre: uma vida melhor para o povo, acabar com esta fome... um mundo melhor. Que todos possam comer à farta, que possam estudar, seguir a carreira que desejarem. A vida é muito difícil para todos. Então, o que desejo é que cada um consiga encontrar, naquilo que deseja, a alegria de viver." .
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A eterna companheira do escritor Jorge Amado era filha de imigrantes italianos, paulista de nascimento, mas, como ela sempre disse, "baiana de coração". Juntos, escreveram nas linhas da vida, um grande romance, numa união feliz, repleta de amor e cumplicidade, na saúde e na doença, durante cinquenta e seis anos.
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"O que amamos na vida nunca morre, permanece sempre vivo, nunca se torna esquecido. Continua vivo no coração, no pensamento, dentro da gente."
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Zélia era fotógrafa e se destacou pela sua contribuição à literatura, mas foi também expoente da militância política durante quase toda a sua longa vida. Escreveu nove livros de memórias, três livros infantis, uma fotobiografia e um romance. Seu livro de estréia, Anarquistas, graças a Deus, foi adaptado para minissérie pela Rede Globo, e já vendeu mais duzentos mil exemplares no Brasil. Alguns de seus livros foram traduzidos para o francês, o italiano, o espanhol, o alemão e o russo.
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Foi homenageada na França, em Portugal e na Bahia, evidentemente. Recebeu diversos prêmios desde seu primeiro livro. Em 2001, foi eleita para a Academia Brasileira de Letras, para a cadeira 23, anteriormente ocupada por Jorge Amado, que teve Machado de Assis como primeiro ocupante e José de Alencar como patrono. No mesmo ano, foi eleita para a Academia de Letras da Bahia e para a Academia Ilheense de Letras.
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"Meu pai morreu há 50 anos e até hoje está muito vivo em mim. Meu pai não morreu. Ele permanece. Ele morreu aos 54 anos e continua sempre aquela figura querida que sempre estimarei. Nenhuma pessoa que é querida morre. O que a gente ama está sempre conosco. Gostamos de falar nelas. Temos prazer em trazê-las conosco. Sempre trago nas minhas conversas os amigos que morreram."

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Aprendemos muito com seu jeito simples, sorriso franco, seu ar meditativo, sua convivência com nosso Jorge Amado. Aprendemos a gostar de Zélia não porque era a esposa de Jorge Amado, um dos maiores orgulhos de Ilhéus, mas porque ela brilhava realmente e continuará brilhando sempre. E para definir Zélia, por ela mesma, vamos usar os versos de Cayme, que ela colocou na abertura de seu primeiro livro Anarquistas Graças a Deus:
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"Eu nasci assim, Eu cresci assim, Eu sou mesmo assim, Vou ser sempre assim."
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A Obra de Zélia Gattai



- Anarquistas Graças a Deus, 1979 (memórias)
- Um Chapéu Para Viagem, 1982 (memórias)
- Pássaros Noturnos do Abaeté, 1983
- Senhora Dona do Baile, 1984 (memórias)
- Reportagem Incompleta, 1987 (memórias)
- Jardim de Inverno, 1988 (memórias)
- Pipistrelo das Mil Cores, 1989 (literatura infantil)
- O Segredo da Rua 18, 1991 (literatura infantil)
- Chão de Meninos, 1992 (memórias)
- Crônica de Uma Namorada, 1995 (romance)
- A Casa do Rio Vermelho, 1999 (memórias)
- Cittá di Roma, 2000 (memórias)
- Jonas e a Sereia, 2000 (literatura infantil)
- Códigos de Família, 2001
- Um Baiano Romântico e Sensual, 2002
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Mais Informação sobre Zélia Gattai
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