Repatriamento dos Mico-leões-da-cara-dourada introduzidos em Niterói: Bom para os Dourados.
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Só faltava essa ! Não é que o Leontopithecus chrysomelas, nosso mico-leão-da-cara-dourada, se meteu em uma enroscada retada lá pelas bandas do sul. Deu-se que um abestado meteu o dedo na história da Mata Atlântica, e levou o conterrâneo baiano para o novo clima fluminense. Ele gostou da farra com vista para o Corcovado, se safou do fora da lei, reproduziu e se dispersou pela mata.
Com chance de reencontrar seus parentes são impedidos pelo Corpo de Bombeiro. É o governo que chega dizendo: Vocês vão voltar para casa!? Que casa meu? - Respondem com sotaque carioca.
Agora são uma população fluminense, mas sem direitos são forçados a "voltar para casa" para proteger seu parente, o mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia). Parece um ato heroico, e é, mas, para a sobrevivência do mico-leão-dourado. Parece um resgate de uma espécie que volta ao lar baiano, e o projeto até se apresenta como vitral de proeza científica; mas sinceramente, vejo como mais uma triste história da Mata Atlântica, especialmente do sul da Bahia.
O Governo reconhece, o mico-leão-dourado corre risco:
É urgente a remoção dos grupos de
mico-leão-da-cara-dourada da região de Niterói, São Gonçalo e Maricá antes que
o aumento e a expansão da população introduzida tornem inviável sua retirada -
e essa foi a principal recomendação dos órgãos governamentais e não
governamentais envolvidos na conservação das duas espécies, por meio do Plano
de Ação Nacional para a Conservação dos Mamíferos da Mata Atlântica Central,
coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas
Brasileiros (CPB) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio).
O governo não fala em translocação, e sabe que essa é uma ideia polêmica, que pode dar certo, mas pode não dar. Não é fácil de ser monitorado, e avaliado, os seus resultados no tempo. As campanhas não nos dão conta dos problemas do lado baiano da história. Os estudos revelaram uma população em crescimento lá, e chances de que sub-populações consigam encontrar o mico carioca - se é que não encontrou. É sempre bom lembrar que não estamos no controle, ainda que estejamos tentando comandar em nome da conservação.
Algo tem de ser feito, pois se o homem não interferir outra vez, e permitir o encontro dos micos, híbridos nascerão, e isto seria catastrófico para o dourado em rota de extinção. Resolve o problema, se todas as sub-populações forem capturadas, o que não é fácil, e depende de sorte, além de todo apoio da comunidade local. População exótica retirada, problema resolvido lá.
A translocação não é o final para os micos de cá, mas o início de um nova história. Pode parecer uma história simples, e até bonita - os micos voltam ao lar baiano. Não estão voltando para casa, e nunca moraram aqui, e não sabemos se poderão vir a ser uma ameaça a sua espécie. A introdução no Rio foi um grave problema, e a translocação, de forma nenhuma pode ser compreendida como um feito, mas como um novo experimento que só vamos saber os seus resultados com o tempo, se for bem monitorado.
O nosso mico é considerado um invasor no estado do Rio de Janeiro, e expulsá-lo de lá é uma solução apropriada, e com evidência de certeza científica, mas essa translocação, esse exílio forçado em Belmonte, essa nova população em uma nova mata, dá um frio na barriga.
Até agora, foram capturados 104 indivíduos. Desses, 66
foram transferidos para a Bahia, 17 estão na quarentena e quatro grupos (24
animais) que apresentaram resultados positivos para doenças permanecem em
cativeiro.
A sua contribuição é fundamental para a saúde e a sobrevivência
dos micos-leoes-de-cara-dourada e dos micos-leões-dourados. Faça parte desse
projeto!
Haverá a certeza científica de que essa população não vai trazer doenças, ou prejudicar de alguma forma as sub-populações do sul da Bahia? Será que não estaremos criando uma sub-população isolada, eremita? Quais os efeitos de médio e longo prazo que poderão acontecer no ecossistema? Como serão monitorados os impactos no novo habitat, e espécies? Não seria prejudicial subordinar manchas raras da mata atlântica nordestina com uma população oportunista? E o grande número de pássaros ameaçados de extinção dessa região? Poderia perguntar, e perguntar sem parar, pois o assunto é mesmo, muito complexo, como é a natureza.
A translocação dos cara-dourada invasores de Niterói é uma medida essencial para os dourados, não para sua espécie, e as matas sul baianas que agora são utilizada nessa experiência. Como bom baiano, prefiro a prudencia, um exame melhor da questão, ainda que confiando nos protocolos, e nas instituições envolvidas. Não sou pessimista, e evidentemente torço para que dê certo, mas não temos informações disponíveis suficientes que nos convença que a reintrodução é o caminho certo.
Para que fique mais claro para mim, como jornalista parto da dúvida, da possibilidade do homem errar mais uma vez nessa reintrodução de um número grande de micos. Cabe a nós, questionar, buscar compreender os riscos, e ser transparente com as chances de dar errado. Informar a sociedade. É preciso deixar claro que não se trata de empurrar o problema do mico rico carioca para o mico pobre baiano. Tem alguma coisa de experimentação nessa translocação, e isso também precisa ficar claro para a sociedade. Me chateia a expressão "inédito no Brasil". Aqui, ainda não é Austrália, onde as espécies exóticas causaram tsunamis de extinção, e até cercas cruzam o país para dividir as populações de animais.
Quem labuta na área sabe que os efeitos precisam ser monitorados em longo prazo. Quem garante que amanhã não vai faltar interesse, e suporte para intervir novamente aqui, se forem necessários esforços maiores para corrigir problemas inesperados? Não é preciso lembrar que esse projeto-experiência está sendo realizado no restinho de jardim tropical da mata atlântica nordestina, extremamente sensível e biodiversa, que são as três mil hectares "da VERACEL", na realidade, de todos, alvo a reintrodução.
Veja o vídeo de um mico-lesão-da-cara-dourada em Niterói AQUI. Observe um deles completamente habituado, e desesperado de fome, uma cena completamente diferente do mico em seu habitat natural, selecionando alimentos, e jamais avistado ou capturado com facilidade. Isto aumentará muito a chances de captura por traficantes e moradores do "novo lar", o que, estatisticamente aumenta a chance de mistura com as populações nativas protegidas, e saudáveis.
É com muito entusiasmo que iniciamos, em Niterói, as atividades de remoção do mico-leão-da-cara-dourada (invasor na área de ocorrência do mico-leão-dourado) e translocação para a Bahia. Nosso trabalho e nossa responsabilidade é devolver, repatriar, estes primatas que foram indevidamente introduzidos em Niterói-RJ, de volta ao seu ambiente natural na Bahia.
Para isso, contamos com a ajuda e com o apoio da comunidade da cidade de Niterói, especialmente dos moradores das áreas de entorno do Parque Municipal Darcy Ribeiro, Parque Estadual da Serra da Tiririca e arredores. A sua contribuição é fundamental para a saúde e a sobrevivência dos micos-leoes-de-cara-dourada e dos micos-leões-dourados. Faça parte desse projeto!
Para isso, contamos com a ajuda e com o apoio da comunidade da cidade de Niterói, especialmente dos moradores das áreas de entorno do Parque Municipal Darcy Ribeiro, Parque Estadual da Serra da Tiririca e arredores. A sua contribuição é fundamental para a saúde e a sobrevivência dos micos-leoes-de-cara-dourada e dos micos-leões-dourados. Faça parte desse projeto!
E qual é a solução? Eu não sei, mas gostaria de conhecer mais do que me informa a campanha. Do ponto de vista científico, o sacrifício seria a conta mais exata, mas seria um remendo intolerável o sacrifício de centenas de macacos. Mas existem outras soluções.
Não se tem mais interesse em viabilizar essas populações para zoológicos, que estariam cheios, mas como São Tomé, quero os dados; quero ver para crer. Prefiro pensar de longo prazo, sabendo que faltam zoológicos e jardins botânicos no Brasil. Existe ainda, a necessidade de se exercitar de forma mais fidedigna o pressuposto de confiar nos fieis depositários, e de permitir que exemplares da espécie possam servir a Educação Ambiental. Esses animais poderiam ser esterilizados, enfim, não existe unicamente as opções do sacrifício, e da translocação.
Sempre bom lembrar, que não existe em todo o litoral da Bahia, um único exemplar do mico-leão-da-cara-dourada em cativeiro que possa servir a educação ambiental, e atração do turismo ecológico, que também são pressupostos da conservação. Diversos criadouros foram solicitados ao IBAMA, mas a legislação é dura e insensível a esta questão, preferindo sempre, se esquivar de propostas para evitar problemas como o criado pelo delituoso e irresponsável ser humano que soltou os micos baianos em Niterói.
A translocação de uma sub-população é uma opção radical, e não deve ser motivada pelo fato da espécie mico-leão-dourado estar mais ameaçada, que o seu parente. Muito menos ainda, a falta de tempo ou logística para outra solução melhor, poderia justificar uma solução mais fácil para os micos leões fluminenses.
É urgente a remoção dos grupos de
mico-leão-da-cara-dourada da região de Niterói, São Gonçalo e Maricá antes que
o aumento e a expansão da população introduzida tornem inviável sua retirada -
e essa foi a principal recomendação dos órgãos governamentais e não
governamentais envolvidos na conservação das duas espécies, por meio do Plano
de Ação Nacional para a Conservação dos Mamíferos da Mata Atlântica Central,
coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas
Brasileiros (CPB) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio).
Para isso, contamos com a ajuda e com o apoio da
comunidade da cidade de Niterói, especialmente dos moradores das áreas de
entorno do Parque Municipal Darcy Ribeiro, Parque Estadual da Serra da Tiririca
e arredores. A sua contribuição é fundamental para a saúde e a sobrevivência
dos micos-leoes-de-cara-dourada e dos micos-leões-dourados. Faça parte desse
projeto!
* Os questionamentos desse artigo ilustrado são de um jornalista, também estudante e amante da natureza. O objetivo é de contribuir com a reflexão sobre a conservação, e não, a afirmação do contrário disto, em nenhuma hipótese. Continuo acreditando que o mico-leão-da-cara-dourada apesar de se reproduzir muito bem em cativeiro e nas matas menos úmidas da Serra da Tiririca, continuam muito raros no sul da Bahia, e estão seriamente ameaçados.
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