Porto Sul x Imprensa

O exercício da imprensa requer um forte compromisso ético, liberdade de expressão, imparcialidade, investigação e capacidade de refletir os fatos. Não é o que tem acontecido com a imprensa regional quando o assunto é o Porto Sul, onde a maior parte dela resolveu tomar partido do projeto, abandonando a reflexão e a investigação.
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É função nossa, em um momento como esse, promover a informação sobre a questão ambiental. Essa é a hora de relizar entrevistas com técnicos, professores, ambientalistas, e de buscar ouvir o que os empreendedores respondem a todas as preocupações.
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Mas muitos jornalistas preferiram o olhar de um olho só. Não são todos, é claro. Hoje mesmo, o nosso Diário de Ilhéus, que mesmo divulgando pouco os eventos em protesto ao Porto Sul, trás mais um editorial muito bem escrito, chamava a sociedade a reflexão: "digamos que o que está em jogo é o futuro de um ente querido nosso, ou o nosso lar."
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Apesar de grande parte dos jornalistas não darem o devido destaque as reflexões técnicas e jurídicas sobre o Porto Sul, como eu tinha previsto, a repercussão começa a ganhar força na grande rede da comunicação aberta. Assim, a imprensa estadual e nacional, as principais revistas, jornais e telejornais passam a mostrar a questão Porto Sul do ponto de vista que é obrigação dos jornalistas mostrarem, da preocupação com o meio ambiente, com os questionamentos e os argumentos das partes.
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Minha profecia, nada profética e muito previsível começa a acontecer. Não dar pra impor nada na marra em um regime democrático. E assim, a defesa da mata atlântica e as comunidades tradicionais começam a ganhar espaço no Jornal da Globo, no Fantástico, na Isto é, no Estadão, nos sites jornalísticos como a Zero Hora, e o esperado debate nacional toma seu curso.
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Como na maioria da vezes, não ocupamos nosso espaço com plenitude, e reclamamos quando os de fora decidem por nós, e ditam quais projetos são bons para o sul da Bahia. Agora também, estamos deixando que a imprensa de fora recrie o debate, que insistimos em não realizar.
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Poderia ser diferente, pois conhecemos bem nosso litoral. Todos os veículos publicaram inúmeras reportagens enaltecendo seus valores ecológicos, as pesquisas realizadas e os projetos socioambientais desenvolvidos. Todos nós ajudamos a consagrar a paisagem do Mirante de Serra Grande como referência internacional do turismo associado a conservação da mata atlântica, e símbolo nacional de projetos e esforços pela sua conservação.


Sabemos que o Porto Sul é um projeto imnportante para o Brasil e a Bahia, mas se tornou um projeto de desmatamentos. O litoral norte de Ilhéus foi o pior lugar que se poderia escolher do ponto de vista socioambiental, e isto tem um preço alto demais, que não interessa nem as empresas e nem ao governo.
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BAMIN PATROCINA, QUAL O PROBLEMA?
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Não vejo problema que a Bamin patrocine veículos de comunicação, não existe falta de ética nisto, mas existe falta de ética e crime contra a informação quando o jornalista deixa de exercer sua função. Vejam que a Bamin é a principal patrocinadora da TV Globo na Bahia, mas o patrocínio não adestra a pauta, a publicidade não se confunde com o jornalismo.
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Ora, temos que respeitar os valores ambientais, que hoje não se restringe a um grupo isolado de pessoas, mas a todo cidadão, e ainda que o termo ambientalista possa parecer desgastado pela mídia, temos que reafirmá-lo como principio educacional, uma questão interior, uma questão do dia a dia.
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O resultado da falta de preocupação com a questão ambiental acaba fazendo com que o próprio presidente da BAMIN, desantenado, resuma o problema das espécies criticamente ameaçadas com a contratação de um veterinário, criação um zoológico e um viveiro de mudas, mas quando disse zoológico ele se referia a um centro de triagem de animais silvestres. Não foi feliz, não temos sido felizes, estamos todos desalinhados.
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VEJA ALGUNS LINKS SOBRE A REPERCUSSÃO DO "ABRAÇO ENCANTADO A LAGOA", E OUTROS NA GRANDE IMPRENSA, ELEVANDO O DEBATE DA LOCALIZAÇÃO DO PORTO SUL AO NÍVEL DA IMPRENSA DE ABRANGENCIA NACIONAL.
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Comentários

Anônimo disse…
Moro em sp a 16 anos mas nasci em Ilheus, mas no ano passado voltei a minha cidade natal e encontrei a cidade completamente abandonada pelos orgãos publicos e o pior de tdo pelos proprios moradores da cidade, Eu sei que o foco do assunto agora é o porto sul, e q os interesses vão além de levar emprego p/ o povo e algum progresso p/ a cidade q minha na minha opinião só tem a perder,mas só p/ resaltar um assunto importante pq ñ investir no turismo?...a ta a mineradora irá render muito mais dinheiro claro!!!.. Mas se qrem investir gastar por conta destruir a mata as espécie em estinçao q seja menos agresivos invés de minerador pq ñ um arranha ceus iguai aos de Dubai, será ótimo pa cidade e p/ os turistas, vale a pena sonhar ñ é?...
Priscilla disse…
Estamos passando pela mesma briga aqui em Florianópolis, mas aqui é a construção de um estaleiro, que será o maior da america latina, do 8 homem mais rico do mundo, sr Eike Batista. Ele resolveu que o melhor lugar para o seu empreendimento é em biguaçu, entre 3 reservas de preservação permanete: a estação dos carijos, ilha de anhatomirim e a baia dos golfinhos. Para que o estaleiro seja construido é necessario dragar o fundo do mar em alguns km, caso, isso seja feito, é possivel que a erosao destrua a praia da daniela e jurere internacional...
Pois é, os paises de 1 mundo se preocupando em ter desenvolvimento sustentavel, fontes de energia limpas e nós encotramos o petroleo, mesmo que isso signifique acabar com 3 ilhas.
Anônimo disse…
Caro Paulo Paiva,

Parabéns pela reportagem e sinto também falta de uma discussão menos passional de ambos os lados e concordo com você de que grande parte da mídia, por ignorância ou pior por comprometimento não tem se posicionado de forma independente e investigativa no caso do Porto Sul. Tendo sido também contaminada pela polaridade Contra x a Favor. Não sou por princípio nem contra nem a favor do Porto Sul e nem tão pouco contra a Ferrovia. Entendo o principal argumento dos que são favoráveis ao(s) projeto(s), quando justificam na atual pobreza material do município de Ilhéus (e sua região de influência), mas discordo que a única alternativa de que dispomos para contrapor este problema seja pegar ou largar um “presente” oferecido pelos governos federal e estadual. Meu avô mineiro, desconfiado, sempre dizia: "quando a esmola é muita meu neto até os santos desconfiam”. E negócio prá ser sustentável, tem que ser bom pra todos. Obras de infra-estrutura são muito importantes, agora que elas sejam pensadas a partir de discussão de necessidades e prioridades definidas pela população local, com a interveniência dos gestores municipais. A prefeitura de Ilhéus se manifestou várias vezes no início do processo, de que foi a última a tomar conhecimento da proposta para construção de um Porto ou Complexo Intermodal no seu município. Um Porto Público que possa atender a uma economia diversificada é com certeza algo muito importante para o desenvolvimento de uma região. Mas atente-se para um detalhe, apesar da propaganda ser para um Porto Público (Porto Sul), o que temos acompanhado, até o momento, é um projeto de um terminal privado, de uso exclusivo para exportação de minério de ferro. Qual a garantia que temos de que o Porto Sul irá mesmo ser construído? Não seria mais prudente (é juridicamente legal) que o projeto do Porto Público seja implantando antes do Porto Privado, já que pela localização pretendida pelos empreendedores, a obra necessitará de uma autorização excepcional com base na utilidade pública? As pessoas que estão com interesse no desenvolvimento da região já refletiram sobre isto?
Se os nossos Governantes estão realmente sensibilizados pela problemática social do município de Ilhéus (o que mesmo com muito boa vontade é difícil de acreditar que seja a principal justificativa do projeto) por que não investir na recuperação e dinamização do Porto do Malhado? que por certo, não comporta a exportação de minério de ferro, mas poderia ter seu potencial ampliado, atendendo a maior parte das atividades de transporte marítimo com potencial de demanda na região, e adicionalmente teríamos ainda recursos que poderiam ser investidos na compensação dos problemas socioambientais causados pela implantação "irresponsável" do Porto na década de 70, já que mesmo naquela época já se poderia prever os "possíveis" e "previsíveis" impactos negativos na orla do seu entorno. Não me parece justo que o lucro de alguns represente prejuízos para outros. Duplicar a ponte para o litoral Sul seria também outra obra de infra-estrutura que traria grandes benefícios ao município. A construção de um anel viário, que desafogasse as vias centrais da cidade do tráfego crescente e que permitiria que obras de maior vulto ou mesmo uma ampliação no uso do Porto do Malhado ocorresse com menos transtornos e impactos negativos aos moradores da cidade.
Ou melhor, por que não investir no ensino público de Ilhéus, já que continuamos com escolas públicas (municipais e estaduais) em qualidade e quantidade insuficientes. Diversos estudos e experiências reais têm mostrado que o crescimento econômico realizado somente com base em grandes obras (temporárias) e sem investimento em educação, saúde, saneamento de qualidade traz poucos efeitos na mudança do cenário social da região, ou às vezes até acirra alguns problemas, Os melhores empregos que exigem qualificação continuarão sendo ocupados por profissionais vindos de fora.

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