O Cacau e o Minério de Ferro



TENSÃO, PREOCUPAÇÃO E MUITAS DÚVIDAS MARCAM ENCONTRO DOS CACAICULTORES COM A VALEC PARA DISCUTIR PROJETO DE FERROVIA.
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O traçado projetado para a Ferrovia Leste-Oeste atinge em cheio as fazendas de cacau do Sul da Bahia (200 propriedades), mas só agora, depois de denúncias de invasão de propriedade e corte arbitrário de cacaueiros por topógrafos, a VALEC ouve os cacauicultores em uma reunião no Sindicato Rural de Ilhéus. A reunião foi conduzida pelo engenheiro Neville Chamberlain Barbosa da Silva, representante do governo nessa penosa missão de nos convencer que o projeto é benéfico para a região.
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O encontro repetiu o que vem acontecendo toda vez que o projeto de exportar minério de ferro pelo Sul da Bahia é apresentado: muita tensão, dúvidas e interrogações.
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Não é nada fácil defender a ferrovia. O Sr. Neville Barbosa, homem distinto e educado, que enfrenta pressões de todos os lados em reuniões, normalmente, muito conturbadas; algumas vezes, parece acuado diante de tantos protestos. Mas ele, sem fugir das preocupações ambientais, encontra forças para defender que essa região demonstrou ao longo de sua história, que também é vocacionada para as ferrovias e portos, além do cacau e do turismo.
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O cacauicultor Henrique Almeida, Presidente da Associação dos Produtores de Cacau (APC), e que também possui uma roça que seria cruzada pela ferrovia, disse não acreditar que, com tantos avanços tecnológicos, não exista uma forma de transportar minério de ferro em vagões fechados. Nessas condições, afirmou, "as portas de minha roça estão fechadas para a VALEC".

O fato é que a ferrovia pretende exportar aproximadamente 19,5 milhões de toneladas de partículas de minério de ferro por ano, durante duas ou três décadas, e esse trânsito gigantesco de material poluidor atravessando 200 roças é algo muito sério, e um motivo de preocupação para a negócio do cacau.
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HENRIQUE ALMEIDA REFORÇOU A PREOCUPAÇÃO DE TODOS OS PRODUTORES: A CACAUICULTURA ESTARÁ SERIAMENTE AMEAÇADA SE HOUVER POLUIÇÃO DE MINÉRIO DE FERRO DENTRO DAS LAVOURAS.

O professor da UESC Rui Rocha foi aplaudido ao defender o patrimônio ambiental da região cacaueira e apontar novos rumos para a atividade. Rui destacou que o estado não é apenas o governo, mas toda a sociedade, e que as decisões sobre o futuro de todos, não podem ser verticalizadas. Segundo o cientista, que estuda o projeto há três anos, a exportação de minério de ferro pelo Sul da Bahia é nociva ao cacau e prejudica a região.
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Segundo a cacauicultora Eulina Menezes Lavigne o projeto bilionário humilha os cacauicultores endividados e sem apoio do governo. Ela destaca que, além dos riscos ambientais, a presença do minério de ferro por aqui, mancha a imagem da região como produtora de alimentos orgânicos de alta qualidade, e estraçalha os esforços que tem sido feitos pela valorização do cacau do Sul da Bahia no exterior.
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O que mais chama atenção é que o projeto da Ferrovia Leste-Oeste e o Complexo Porto Sul, anunciado como um grande polo de exportação dos mais variados produtos, se afunilou para a exportação de minério de ferro. Não se fala em outra coisa, deixando portanto, muito claro, que o minério é a grande motivação desses projetos.
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Recentemente, li uma colocação do cientista Hernani Sá, um dos pioneiros das pesquisas com o biodizel, que me pareceu uma sentença muito interessante: "Só quero saber se essa ferrovia é dos chineses ou dos brasileiros, porque se for dos chineses eu sou contra!"

Comentários

Eulina Lavigne disse…
CAro Paulo

Parabéns pela matéria. Quero retificar que ainda não sou produtora de alimentos orgânico de alta qualidade. Estou a caminho ainda, pois atualmente faço algumas práticas não aprovadas pela agricultura orgânica. A partir do próximo ano você pode se referir a mim desta forma.

Um abraço e obrigada.
Anônimo disse…
Eulina,

Na realidade eu me inspirei em seus argumentos de que o minério de ferro

faria muito mal a imagem do sul da bahia, ao nosso cacau e chocolate. Também não sou produtor orgânico certificado, mas defendo que todos os produtores do sul da Bahia
tenham essa certificação para agregar valor ao nosso produto. Pelo menos quanto ao modo de produção,a grande maioria já é orgânico e pratica agroecologia.

Quero que me ajude no blog, quero fazer uma série sobre o cacau. Meu blog é voltado para artigos técnicos e reportagens especiais.

Pretendo profissionalizá-lo como um site e pretendo promovê-lo com o apoio de todos.

Paulo Paiva
Anônimo disse…
Ao construir um imovél no nosso Estado, estamos degradando o meio-ambiente, pois não temos esgotamento sanitário na maioria dos municípios. Apesar disso, não vamos deixar de concretizar a nossa necessidade. O mesmo princío aplica-se aos emprendimento econômicos, e não criando obstáculos ao progresso. Em mais de cem anos da lavoura cacaueira, ela só serviu para enriquecer uns poucos, deixando os trabalhadores e seus descendentes, analfabetos, mal pagos, sem uma aposentária e ao léo como vimos após a decadência da lavoura.

Abs, Pedro Alves

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