Porto Sul é apresentado ao Conselho Gestor da APA Lagoa Encantada e Rio Almada
Seria uma oportunidade de detalhar o projeto aos especialistas, sobretudo, sobre as tecnologias que poderiam ser utilizadas para minimizar os impactos ambientais em uma das áreas protegidas mais importantes do Brasil. Mas isto não aconteceu, e as incertezas, que já eram grandes, se ampliaram com a falta de informações objetivas. Assim, o Porto Sul continua a ser apresentado em vídeos de computação gráfica como um projeto fantasmagórico para o meio ambiente, e sem condição de licenciamento.
PROMESSAS DE DESENVOLVIMENTO
De concreto, só um porto privado, já que o complexo, que envolve o Porto Público, ainda dependeria de estudos de viabilidade técnica e econômica. Assim, o Complexo Porto Sul, ainda é uma especulação que dependeria de cenários favoráveis. Nesse caso, corremos o risco de desapropriar uma área de grande utilidade pública, em beneficio de uma empresa privada.
O Porto Público é projeto, mas não existe, nem estudos, nem orçamento. Da mesma forma, outras estruturas previstas no Complexo, como o aeroporto, a duplicação da estrada Ilhéus-Itabuna, o semi-anél rodoviário das duas cidades, que agora aparecem como cabides do Porto Sul, são incertezas. Para o aeroporto internacional nem um passo foi dado.
Uma segunda contradição importante diz respeito ao que se quer realmente fazer em uma área com tanto valor estratégico; quanto será desmatado?, que tecnologia vai garantir segurança ambiental?, o que acontecerá com o litoral que avança, e já derrubou dezenas de casas?.
O que se pode concluir é que o governo, que tem atuado bem em algumas áreas, demonstra mais uma vez desconhecimento técnico das questões ambientais, pretendendo sim, por ignorância, transformar em cinzas, uma das maiores conquistas da mata atlântica nos últimos vinte anos.
VOCAÇÕES ESQUECIDAS
É sempre bom lembrar que o projeto do Complexo Porto Sul, por mais pertinente que possa vir a ser para o desenvolvimento do Brasil é um projeto na contra mão do desenvolvimento sustentável, e que caiu de para-queda na gema do ovo das áreas protegidas do litoral norte de Ilhéus, apenas por ser a linha mais reta, a opção de engenharia de menor custo financeiro. Menor custo sim, se subtrairmos deste montante, o que se deveria investir por responsabilidade socioambiental, em tecnologias capazes de minimizar o alto custo ambiental envolvido.
Trata-se de um projeto que não atende as necessidades do sul da Bahia, entre tantos motivos, devido a sua pretensa localização em área de proteção e de importância para as comunidades tradicionais, e por não atender as necessidades sociais e economicas regionais.
Pelo contrário, o Porto Sul é indicativo de reforço da exclusão social de comunidades de baixa renda, de decadência de nossa área rural, tão esquecida pelas políticas públicas. E de forma marcante, sinaliza para a degradação ambiental, que piora a qualidade de vida, penaliza os mais pobres, gera custos e expulsa investimentos sustentáveis de longo prazo.
CONTRADIÇÕES AMBIENTAIS - PROJETO PORTO SUL
- Não é um projeto regional, e não atende as nossas principais reivindicações na área de infra-estrutura urbana, valorização rural e desenvolvimento social e humano.
- O porto da Bahia Mineradora deverá operar com, no máximo 300 operários. A necessidade qualificação desses empregos aponta diretamente a necessidade de importanção de pelo menos 70% dos funcionários.
- Para cada emprego gerado por industrias poluidoras e de alto impacto ambiental no sul da Bahia, pelo menos 10 empregos serão perdidos em negócios sustentáveis. A inclusão social em uma área com os piores índices de desenvolvimento humano do Brasil, e com forte relações com a ruralidade, não será resolvido com a industrialização mercantilista.
- Sinaliza na contramão da industria do turismo, considerada uma vocação do sul da Bahia, e considerada como a mais lucrativa do século XXI. Também retrai os investimentos no setor, prejudicando toda uma cadeia produtiva atraída para a região por um conjunto de políticas públicas federais, estaduais e municipais de incentivo a conservação, e que institucionalizaram essas áreas como de proteção ambiental, e de especial interesse para o desenvolvimento do turismo sustentável.
- Está localizado dentro de uma Área de Proteção Ambiental, na área de influencia da maior lagoa de água doce do estado. Em toda a área é marcante a presença e circulação da água. Existem uma série de estudos que sinalizam para uma forte agressão aos ecossistemas de pântanos e florestas alagadas, com alto risco de contaminação hídrica.
- Atinge comunidades de pequenos agricultores, assentados, ribeirinhos, pescadores e quilombolas, que vêem no projeto, uma ameaça ao reconhecimento de seus direitos e ao real atendimento de suas necessidades económicas e sociais.
- O projeto prevê desmatamento de alto impacto no trecho mais preservado do Corredor Central da Mata Atlântica, onde esforços estão sendo realizados para reflorestar e interligar alguns remanescentes isolados. Este seria o maior crime contra a mata atlântica em mais de três décadas.
- Referência de conservação, e Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, a área a ser desmatada é referencia internacional para a proteção ambiental, sendo considerada um patrimônio da humanidade pela UNESCO.
- Nos remanescentes florestais dessa região foi identificado o Recorde Mundial de diversidade de árvores.
- A área é refúgio de espécies raras, pouco conhecidas, ou ainda não classificadas. É também o refúgio derradeiro de espécies ameaçadas de extinção, entre elas três primatas.
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