Que o santo diálogo nos abençoe!

Demorou muito para que essa região voltasse a ser lembrada em projetos do governo federal, que nos permitisse vislumbrar uma luz no fim do túnel para retomar o desenvolvimento e melhorar uma situação de baixos e persistentes índices de desenvolvimento humano, desemprego e degradação ambiental.

Chegou, pois, o momento histórico, onde uma série de projetos converge para o sul da Bahia, a maioria deles, sequer imaginamos um dia, e eles apontam para nós, a necessidade de compreendermos o que somos e queremos ser. E assim, o sul da Bahia foi redescoberto nos mapas dos projetos do planalto central, nos transformando em um cenário de conflitos ideológicos sobre modelo de desenvolvimento, justiça social e conservação do patrimônio natural.

Não é apenas pelo clima, o cacau e a biodiversidade que o sul da Bahia se parece com a Amazônia, aqui os ruídos também são semelhantes, e replicam-se os conflitos entre agricultura e conservação florestal, proprietários rurais e índios, ambientalistas e empresários. Isto aqui está virando uma "amazoninha" dentro da mata atlântica, mas haveremos de salvar a todos, logo que passe a tsunami da intolerância.

Está faltando o tradicional gosto pela conversa, que pode nos levar a um consenso sobre o que é bom para todos. Não nos entendendo, e remando contra a maré, sem boia, nossos saberes estão repartidos, e nossos valores ameaçados. Estamos perdendo muito tempo com agente mesmo, o mesmo precioso tempo que temos para defendermos nossas ideias e nosso projeto comum.

O sul da Bahia é terra abençoada de toda a gente brasileira e do mundo inteiro, mas pode virar uma Torre de Babel. Por isso, rezamos para que o santo diálogo ilumine os governantes para não falarem sozinhos, para não defenderem projetos como a construção de um porto, um complexo industrial ou a demarcação de terras indígenas, sem ouvir o povo e os especialistas de cada território, que o próprio governo reconhece, tem identidade própria.

São grandes as complexidades dessa região, e existe uma guerra de comunicação na sociedade brasileira. Mas se todos nós baixarmos as armas para o diálogo, estaremos acertando as arestas de um caminho de desenvolvimento, que seja solidário com os que mais necessitam, e humanamente rico e elevado, como merecemos.

O dever de dialogar os direitos.

Observando a multidão de pequenos agricultores, tradicionais e carentes como os índios, em um processo de divisão social, não podemos ficar felizes, mas temos que ter a coragem de reafirmar que o reconhecimento dos direitos de todos eles, pequenos agricultores, descendentes índios e quilombolas e pescadores, é fundamental para o desenvolvimento sustentável do sul da Bahia.

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Esse processo deve acontecer por meios democráticos e justos. Mas é bom esclarecer, que esse reconhecimento não se dá apenas por fatores genéticos, como querem alguns que afirmam que não existem índios aqui. Hoje, aldeamentos indígenas, comunidades de remanescentes de quilombolas sobre as quais pouco se sabe, ou mesmo territorios de pequenos agricultores e pescadores são reconhecidas por uma série de outros valores relacionados a fatores culturais.

Poucos dias antes de mais esse anuncio precipitado do governo federal, e que atingiu muitos dos que querem legitimar, a qualquer custo, o Complexo Porto Sul, publicamos a primeira reportagem sobre os índios do sul da Bahia, realizada em Olivença, onde, aos arredores da Igreja Nossa Senhora das Escadas, sempre encontramos autênticos descendentes desses povos memoriais.

Ilhéus, Una e Buerarema tem descendentes de índios verdadeiros, e, certamente, não são os oportunistas que querem guerra e confusão. Nosso índio é gente simples e ordeira, pequenos agricultores que vivem em regiões como Sapucaeira, que a maioria de nós não conhece.
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Mas a publicação de informações por parte do governo, sobre a demarcação de uma área, inacreditavelmente grande e habitada, sem o desejado diálogo, virou o estopim de um clima tenso, interpretações equivocadas, e uma grande mobilização, com forte participação política, que nega os direitos dos índios.
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Uma grande passeata poderia ser uma boa notícia, é assim que devemos fazer para defender os nossos direitos, mas isto, sem negar o direito dos outros. Infelizmente, esse movimento, e outros, especialmente, os que resistem ao cumprimento das leis ambientais, optaram por não ponderar, e hostilizar o que lhe é adverso, sem se preocupar em deixar livre os atalhos para um diálogo legitimo.
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Governantes e sociedade organizada têm de ter responsabilidade. Tensões na reforma agrária e no reconhecimento de terras índigenas no sul da Bahia não é um problema de hoje, por aqui existe uma forte resistência a essas políticas, e essas populações tem sofrido os efeitos da exclusão e da desagregação social. Nossos projetos indigenistas não deram certo, em Pau Brasil, contam-se os mortos índios e não índios, terra do pobre Galdino, o índio imolado por jovens ricos num ponto de ônibus em Brasília.

Mas nós vamos mudar essa história !

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Comentários

Anônimo disse…
Paulo, enfim uma voz sensata nesse imbroglio, realmente o que está precisando é diálogo entre as apartes envolvidas e não, a pregaçaão de ódio e intolerância racial beirando a pregaçaão de exterm´´inio de um povo já tão espoliado há séculos. Se os produtores têm direito, os índios também o têm, é isso que tem que ser equacioanado aatravés do diálogo, visando um novo modelo de desenvolvimento,a aí sim sustentável.
Ricardo Lobo disse…
Boa noite Paulo, venha aproveitar o espaço e divulgar o FORUM PORTO SUL BAHIA.

Estão todos convidados a participar, debater e criar novos tópicos contribuindo para o esclarecimento de todos.

Acesse: www.portosulbahia.com.br
Anônimo disse…
Sobre a questão da etnia tupinambá dos índios de Olivença, seria bom recomendar a todos os envolvidos na questão da demarcação, a leitura do livro TERRA CALADA,estudo antropológico da dra.Susana Matos Viegas, resultado do trabalho de campo realizado no entorno de Olivença(Acuipe,Sapucaeira etc.)e que ancorou a sua tese de mestrado em antropologia na Universidade de Coimbra-Portugal,que serviu para embasar o relatório da Funai sobnre a demarcasação, acredito eu.

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