segunda-feira, junho 02, 2008

O Dia da Mata Atlântica

Patrimônio Nacional

O Dia Internacional do Meio Ambiente está chegando junto com o mês de junho, antes porém, em 27 de maio, temos o Dia Nacional da Mata Atlântica. Aqui em Ilhéus, uma exposição fotográfica, retrata a Mata Atlântica do sul da Bahia. O evento é promovido pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente e coordenado pelo biólogo Marcelo Araújo, com apoio do fotógrafo José Nazal e da prefeitura municipal.
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Exposição sobre a Mata Atlântica do Sul da Bahia, no Teatro Municipal de Ilhéus, até 5 de junho.

É a nossa floresta litorânea, que fora grandiosa no passado, e que nos dias atuais, tornou-se um relicário de fragmentos verdes no mapa. Considerada Patrimônio Nacional pela Constituição Brasileira de 1988, e Patrimônio da Humanidade, pela Unesco, a Mata Atlântica é um das maiores concentrações de biodiversidade do planeta e, também, uma das mais florestas mais vulneráveis, frágeis e ameaçadas.
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Riqueza Extraordinária
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Sua diversidade biológica retrata um dos momentos mais vigorosos da história da vida, e chama a atenção de cientistas do mundo todo. Uma riqueza que tem origem num passado longínquo, nas últimas grandes glaciações ocorridas a mais de 15.000 anos, quando milhares de espécies sobreviveram nos chamados “refúgios do pleistoceno”. E que também atribui-se, a grande variedade de climas e micro-climas que ocorre em seu território nos dias atuais.
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*Arquivo de Imagens do IESB

O Macaco-prego-do-peito-amarelo (Foto de Hans Dossenback), praticamente extinto do ambiente natural, e o mico-leão-da-cara-dourada (Foto de Luciano Candisoni), em vias de extinção, são espécies exclusivas do sul da Bahia.

É uma riqueza extremamente peculiar, de uma floresta que foi brutalmente reduzida a 7% de sua área original, mas mesmo assim, é o habitat de um número superior a 10.000 espécies de plantas, mais da metade delas, endêmicas, só ocorrem nela, e muitas das quais, em áreas específicas. Possue mais espécies de pássaros (653) do que todo o continente europeu. Uma grande variedade de palmeiras, bromélias, beija-flores, borboletas, roedores e até macacos, são exclusivos da mata atlântica, que, proporcionalmente, apresenta maior diversidade biológica que a Amazônia. Só em relação aos mamíferos, por exemplo, são 215 espécies catalogadas, contra 353 na Amazônia, que é cinco vezes maior.

No sul da Bahia, onde encontram-se os últimos remanescentes mais significativos do nordeste, uma pesquisa do ilustre cientista André Carvalho, numa parceria do Centro de Pesquisas do Cacau e Jardim Botânico de Nova York, revelou para o mundo, o recorde planetário de diversidade arbórea, com 450 espécies numa única hectare.


Das 479 espécies brasileiras de animais ameaçados, da Nova Lista Oficial de 2003, o bioma mata atlântica ganha em disparada, com 269 espécies. Das espécies ameaçadas que ocorrem na Bahia, constam 55 aves, 16 insetos, 33 invertebrados terrestres e 8 répteis.

Devastação Histórica e Cultural

A mata atlântica está intimamente relacionada com a nossa história, e nos deu até mesmo o nome Brasil, e não é por a caso, que o pau-brasil, tenha se transformado em nossa primeira espécie ameaçada, sinalizando, desde o início, que explorarando essas terras, sem critérios, o prejuízo é eminente.

* Arquivo de Imagens da Associação Pró-Vida Silvestre

O Sul da Bahia foi a última área de mata atlântica a proibir a exploração madeireira, isto aconteceu a dez anos atrás, quando existiam mais de 300 serrarias instaladas na região. Foi uma grande vitória na luta pela sua conservação.
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A suspensão da atividade madeireira e suspensão dos Planos de Manejo Florestal, obtidos pela Resolução 240 do Conselho Nacional de Meio Ambiente, dez anos atrás, iniciaram um novo tempo de esperança para a proteção da mata atlântica. Nesse processo, o IESB teve participação decisiva e o IBAMA cumpriu o sua missão.
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Nascemos e crescemos às custas da mata atlântica. Na agricultura, deu suporte aos principais ciclos econômicos de nossa história, subsidiando o café, a cana-de-açucar e o gado, vilões maiores de sua destruição nos séculos passados, e que, ordinariamente, transformaram em cinzas, sem nenhuma condicional, seu manto verde, restringindo em larga escala, seu território natural.
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Um território que, devido a sua localização litorânea, e apesar da extensão territorial do Brasil, doou-se ao desenvolvimento de uma estrutura nacional, acolhendo as principais cidades e regiões metropolitanas, os pólos industriais, portuários, malha viária, etc. Assim, o Brasil cresceu sobre o território da floresta milenar, e em seu ambiente vivem hoje 2/3 de todos os brasileiros, que dela dependem para beber água e para viverem melhor.
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Ainda que, tenhamos tido bons exemplos, como o reflorestamento da floresta da Tijuca realizado pelo Major Gomes Archer, em 1861, e ordenado pelo nosso pioneiro conservacionista, o Imperador Pedro II, a devastação manteve-se por cinco séculos, e, muitas vezes, incentivada pelas políticas governamentais. As décadas de 60 e 70, registraram os maiores desmatamentos. Certa vez, já no início do anos 80, Rainor Greco, que desimou as florestas entre o sul da Bahia e norte do Espírito Santo, e exportou tecnologia de desmatamento para os cinco continentes, já arrependido, ouviu o clamor do incansável pesquisador, Augusto Ruschi, que lhe avisava: se voce desmatar o que for aqui, nesse lugar, onde estou estudando, uma espécie de beija-flor vai desaparecer para sempre, pois esse é o último local em que ele se encontra.
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Floresta Fragmentada

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No trabalho fotográfico de José Nazal, à esquerda, pastos no lugar das matas ciliares do rio Almada, e à direita, a fragmentação da floresta.
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Diante da grande pressão antrópica, pouco sobrou da floresta original, que ainda pode ser encontrada nas serras do sul e sudeste, e, excepcionalmente, em outras regiões, como no sul e extremo sul da Bahia. Manteve-se protegida apenas em locais inacessíveis, sem vocação agrícola, ou que, por determinismos geográficos, mantiveram-se isolados ao longo dos anos. Restaram fragmentos isolados, parte de um bioma que pode tornar-se inviável em um futuro próximo, tranformando-se em "parques", "ilhas verdes", que não representam mais a dinâmica biológica da floresta.
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O Caminho da Regeneração

Mas nem tudo está perdido, a taxa de desmatamento caiu nos últimos anos, e existe esperança na sua recuperação. Muitas vitórias já foram alcançadas, desde a mobilização da sociedade com a Campanha da SOS Mata Atlântica: “Estão tirando o verde de nossa mata”, em 1986. Não alcançamos o Desmatamento Zero, mas aumentamos muito a intolerância aos desmatamentos e fizemos dessa bandeira, uma escola para uma nova geração de brasileiros mais conscientes da necessidade de mudarmos a nossa história de exploração irracional dos recursos naturais.
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O Parque Municipal da Mata da Esperança, em Ilhéus; uma imagem rara no cenário de devastação da mata atlântica. Foto da Exposição Mata Atlântica, por José Nazal.
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Hoje, não dependemos tão somente da proteção dos últimos remanescentes, mas sobretudo, da participação de toda a sociedade, no reflorestamento e religação entre suas "ilhas verdes". E isto só é possível se todo proprietário de terra, seja o governo ou a sociedade civil, fizer a sua parte, o seu dever de casa, especialmente, os proprietários que não possuem mais florestas, e que precisam ajudar na recuperação de áreas degradadas, restabelecendo assim os corredores biológicos, que podem tirar as espécies do isolamento e do ostracismo suicida.
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O reflorestamento é a principal esperança da Mata Atlântica e de suas espécies ameaçadas, pois a natureza é dinâmica, e esta floresta, em especial, tem grande capacidade de regeneração natural. Bastaria para isso, que o homem não atrapalhasse a natureza. Mas com a mão do novo homem, que estamos construindo no processo de reeducação ambiental, poderemos fazer muito mais, replantando suas espécies ameaçadas, suas matas ciliares, recuperando nossos rios, melhorando a fertilidade dos solos, a drenagem de águas pluviais em nossas cidades, etc.

2 comentários:

Anônimo disse...

me ajudou muito no meu trabalho. ADOREI. bjs

Anônimo disse...

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