Estrada Ilhéus-Itacaré

Ilhéus-Itacaré: Dez Anos Depois

____________ Dez Anos Depois

Neste novo painel, investigamos os fatores negativos e positivos, originados com a construção da Rodovia Ilhéus-Itacaré, através da análise de impactos sócio-ambientais que ocorreram no Pós-Estrada, bem como, das políticas que devem nortear novas intervenções, para que elas se tornem, efetivamente, vetores do desenvolvimento sustentavel.
Ilhéus-Itacaré: Dez Anos DepoisEstrada Ilhéus Itacaré
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Em 1998, era inaugurada a polêmica rodovia, cortando importantes remanescentes florestais do sul da Bahia. Estava concretizado, o principal empreendimento da política estadual de desenvolvimento turístico, na então denominada "Costa do Cacau". Uma política questionável, por se basear na construção de estradas litorâneas, cortando raríssimas manchas florestais remanescentes da Mata Atlântica que restou de toda região nordeste.
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Para dar suporte ao gerenciamento ambiental da área, e à regulamentação do uso do solo e dos recursos naturais, foram criadas as Áreas de Proteção Ambiental: APA Lagoa Encantada-Rio Almada e APA Itacaré-Serra Grande. Também, como uma contrapartida ambiental, num embate vitorioso entre Ong´s ambientalistas e o Governo, lideradas pelo Instituto de Estudos Sócio-Ambientais do Sul da Bahia - IESB, foi possível incluir no orçamento, a criação do maior parque florestal de toda a região cacaueira, o Parque Estadual da Serra do Condurú (9.275 ha).
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Á partir de então, o licenciamento ambiental estadual passou a ser imprescindível para qualquer empreendimento na área, enquanto que a fiscalização, como proclama a Constituição Federal, deveria continuar a ser exercida por todos os níveis do governo, Ministério Público e por cada um de nós, integrantes da sociedade.
.Ilhéus-Itacaré: Dez Anos Depois
Ilhéus-Itacaré antes da Urbanização
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A abertura de estradas em áreas protegidas no Brasil é um velho dilema sócio-ambiental. De início, responde aos anseios das comunidades, que aspiram a integração e os benefícios do desenvolvimento. Mas, a experiência tem demonstrado, que essas intervenções, sem a coesão de projetos de infra-estrutura social, e, de controle e fiscalização ambiental, podem se transformar em vetores de degradação sócio-ambiental.
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Vistoria conjunta, em 1998 reuniu ambientalistas e técnicos governamentais com uma preocupação comum: Como fazer da nova estrada, um vetor de desenvolvimento sustentado e de preservação ambiental?.
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Dez anos depois, já podemos avaliar, onde estamos em relação a esses objetivos, e qual o caminho para corrigir as distorções existentes.

A estrada Ilhéus Itacaré construida em plena mata atlântica
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Além dos impactos ambientais diretos de uma obra, precisamos levar em consideração, os impactos sócio-ambientais, que ocorrem a médio e longo prazo. Como não existe margem segura para a imprudência nas intervenções em áreas naturais protegidas, é fundamental que essas obras agreguem políticas que atendam as necessidades de sócio-desenvolvimento de seu entorno. Sem esse planejamento, são grandes as chances desses empreendimentos, vetorizarem a degradação ambiental, e não promoverem a esperada melhoria da qualidade de vida da população local.
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Os problemas sócio-ambientais decorrentes da Ilhéus-Itacaré são graves, como fora previsto na vistoria em 1998, pois já sentíamos a ausência das políticas associadas . Mas, não podemos deixar de afirmar, que a estrada atraiu, nesses dez anos, mais amigos da conservação, do que poderíamos prever, sobretudo empresários interessados no binômio Áreas Protegidas x Turismo e Lazer.
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Superando as previsões, a Ilhéus-Itacaré ajudou a reformular o conceito de turismo no sul da Bahia, transformando a isolada Itacaré, em curto prazo, num atrativo internacional, registrado como paraíso tropical, e referenciada por celebridades. E com esse marketing espontâneo, a região atraiu, nesses dez anos, mais de um bilhão de dólares em investimentos, predominantementes, associados a conservação da Mata Atlântica.

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Fogo: Uma Estratégia de Desmatamento
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05 de Fevereiro de 2008
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Se o fogo tornou-se o maior símbolo da degradação ambiental, a água, certamente, é o maior símbolo da conservação. O uso do fogo e a depredação dos sistemas hídricos, demonstram falta de educação, tecnologia e informação; demonstram também dificuldades de controle e fiscalização ambiental ao longo da Ilhéus-Itacaré.
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Ilhéus-Itacaré

Os belos cajueiros silvestres, árvore imune de corte, são propositalmente queimados e descartados, para dar lugar a gramíneas e coqueiros.
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O trecho de 31 quilômetros, entre Ilhéus e Serra Grande, é o mais crítico, e foi onde registramos num só dia 34 focos de queimadas, e também o criminoso aterro de espelhos d´água, por alguns empreendedores.

Existem casos, em que o fogo é utilizado inadequadamente, por desinformação, mas na maioria dos casos, tem sido um aliado do crime ambiental, e uma arma do infrator para burlar a fiscalização. À princípio, são queimas utilizadas para limpar o terreno, após a roçagem de gramíneas, mas ao observarmos o conjunto delas, começamos a suspeitar e entender outras estratégias envolvidas, e a supressão de vegetação nativa, é, claramente, uma delas.

Mais de 90% das queimadas de 05 de fevereiro de 2008, atingiram a vegetação nativa.

É um crime que vem acontecendo, sorrateiramente, nesses dez anos, e que, lentamente, está destruindo a mata e prejudicando os cursos d´agua. Apesar, disto, quem trabalha com fiscalização, sabe, que os envolvidos costumam se eximir de culpa do mando do fogo, associando-o sempre ao empregado, vizinho ou a brasa do cigarro jogado pelos automóveis.

É notório que o trecho ilheense da rodovia sofreu maiores impactos, em decorrencia da pressão antrópica, sobretudo pela pressão do deficit habitacional, e pela falta de planejamento e orientação do processo de expansão da cidade e distritos.

Além dos proprietários regulares, os "invasores" , também têm utilizado sistematicamente o fogo para a limpeza dos terrenos.

Ilhéus-Itacaré

Nas queimadas do dia 05, o Corpo de Bombeiros se fêz presente, apagando o fogo, e orientando o trânsito para evitar mais mortes na estrada.



Juparas Aterradas
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Empreendedores sem visão ambiental, e habituados com a impunidade e ausência da fiscalização ambiental, destroem a vegetação ciliar ou aterram deliberadamente espelhos d´água, típicos desse ecossistema, e que chamamos de Japara. Não são rios, nem lama, mas acumulam as águas das chuvas e dão suporte a uma riqueza de espécies, que incluem os guaiamuns.

O aterro das Japaras,, dentre os crimes e impactos mais visíveis, foi um dos que mais difíceis de entender, pela irracionalidade e difícil grau de recuperação.

Também anotamos, que a estrada, que deveria ser ecológica, vem se transformando numa pista de alta velocidade. E esse "rally" de carros modernos e velozes, desrespeita as normas ambientais, e tem feito vítimas humanas, além de perpetuar o atropelamento de animais silvestres.
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1998 - 2008 : Dez Anos de Atropelamentos
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Na grande vistoria de 1998, encontramos um casal de mico-estrela atropelados (foto da esquerda). Por coincidência ou providencia superior, nesse 5 de fevereiro de 2008, fomos remetidos a refazer o trajeto, e depararmos com a mesma cena : Mais um casal adulto e experiente, atropelados (foto da direita).
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Dessa vez, a fêmea teve morte instantânea, por esmagamento, enquanto que o macho morreu, momentos depois, na beira da estrada (foto abaixo).
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Os micos estão habituados a frequentarem as restingas e descerem das árvores para alimentação e diversão, durante milhares de anos, inclusive, com hora marcada para realizarem suas travessias arbóreas, de ida e de volta. Respeitá-los é o único e ético caminho, para aprender a conservar e usufluir o fabuloso patrimônio natural do sul da Bahia.
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Diante dos atropelamentos constantes, parece ironia, que justamente a rede que os micos tanto rejeitaram, tenha chamado a atenção do Brasil e do mundo como símbolo da proteção ambiental ao longo da Ilhéus-Itacaré. Na realidade, isto demonstra que ecologia pode ser marketing mas, principalmente, não pode deixar de ser uma prática cotidiana.

(Ilustrações e fotos da Associação Pró-Vida Silvestre)

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