ESTADO DE SANTA CRUZ: LEMBRANDO UM VELHO PROJETO

"Ao chegar da Bahia", depois de um belo final de semana na Pedra da Sereia (Salvador - Rio Vermelho), onde fui reencontrar velhos amigos: Os grandes músicos Annunciação e Luciano Chaves, tive a felicidade de participar de uma reunião, dia 21, no Sindicato Rural de Ilhéus, que deseja fazer renascer com força um de nossos mais antigos projetos: A criação um novo Estado. 

Apesar de ter sido avisado, cheguei atrasado na pequena sala cheia, mais parecendo um "penetra-fotógrafo-oficial". Falava-se de um novo Estado , que eu chamo de ESTADO DE SANTA CRUZ (tem mais bonito?), em uma apresentação serena, despretensiosa, e baseada em convicções técnicas (geo-econômicas), e sem condução político-partidária. Entre os presentes, várias autoridades como os médicos Eusinio Lavigne e Rui Carvalho, fazendeiros e pensadores da região. Falou-se que em novas lideranças e na renovação politica, já que o novo estado com 15 milhões de habitantes teria o poder (como temos) de eleger dez deputados federais.

Todos ficaram impressionados com os dados agro-econômicos, que segundo demonstrou, independentes, nos tornaríamos muito mais fortes do que somos. Parece mais claro a ideia de que empre sustentamos a Bahia, enquanto ela, historicamente,  não nos corresponde. Chegou então a chegou a hora de caminharmos com nossas próprias pernas, e riquezas? 
UMA ECONOMIA FORTE 
Impressiona realmente, como os números da agropecuária do novo estado surpreende em comparativos com o PIB da Bahia, e  outros estados. Trata-se de uma economia forte, alavancada pela celulose, o gado e produtos como o café, mas que desponta com um horizonte único de expansão sustentável, sobretudo com a diversificação (mais de uma centena de produtos). Destaques para a altíssima produtividade hectare da Piaçaba (planta endêmica e só ocorre nessa região), e o multi-potencial econômico do Dendê, especialidade do novo Estado, que teria capacidade instalada para quatro grandes grande Refinarias (dezenas de subprodutos).

PEQUENO NO TAMANHO, MAS GRANDE NO TURISMO 


O novo estado teria aproximadamente 700 quilômetros de litoral - o mais preservado de todo o Brasil. Em curto prazo será imbatível em turismo diversificado, e se já existisse, já liderava, considerando que Porto Seguro hoje, possui mais leitos do que a capital da Bahia! O novo estado terá no turismo uma perspectiva concreta de crescimento econômico, baseado nas riquezas naturais e qualidade ambiental (florestas, rios, mares, história, pluralidade cultural).

 IDEIAS CONSERVADORAS

O primeiro dos problemas apontado foi a falta de POLÍTICOS SÉRIOS E NOVOS LÍDERES. Mas exagerou-se os comentários do tipo "tudo o que está aí não presta". Retruquei, "bagunçando a reunião": "Uma causa suprapartidária precisa olhar pra frente, afinal essa ideia de começar do zero, de varrer o passado não passa de ilusão". (Vide Sarney, Moreira Franco e tantos outros).

Mas o pior problema são as IDEIAS CONSERVADORAS, melhor nome que achei para alguns comentários que eu considero, demonstração de enfraquecimento e perda de tempo. Chegam as dores de consciência, e um fazendeiro enalteceu o Café Conillon, como alternativa do que está dando certo. Tudo ótimo! Mas não "desdenhando do cacau". Comentários imprudentes me deixam sem ar (só o multi-reunião José Nasal nunca se estressa nelas, mesmo que seja do Porto Sul).

E faltou ar, quando ouvi alguém perto dizer: "Pois é, e os sem terra atrapalhando a expansão do Eucalipto!". Mas piorou quando uma voz em tom sério insistiu na atenção de todos: "Quero alertar que existe um grande complô de "X", (que eu entendi como o temido Cacique Babau, ou sei lá quem), e ONG´s, que estariam armando uma cilada para essa região, "ainda pior do que a Vassoura de Bruxa". Como já estava na porta mesmo, decidi correr!, mas o dever cívico trava minhas pernas e meu pescoço nesses momentos.

Fiquei para relatar, refletir, comunicar ao povo e sonhar junto. Não consigo correr de desafios, e como eles são bons para nos fazer acordar para a realidade, enxergar acordos, conciliações, e por fim, o vencimento dos ódios que desagrega a identidade de qualquer território, e lhe deixa vulnerável, frágil, politicamente frágil e de fácil manipulação por grupos e corporações capitalistas. Eu conheço meu povo, e o que querem dizer, mas é preciso tomar cuidado com as palavras. Sou filho de cacauicultor, e sinto na pele o que meu pai, e toda sua geração sofreu com a escandalosa e abrupta crise do cacau. Sofreram por conta da ingratidão política do governo estadual e federal, que sempre tirou daqui, mas nunca nos enxergou realmente. Como disse o nosso palestrante: "ajudamos a construir com o dinheiro do Cacau um dos maiores centros industriais do Brasil, o Polo Petroquímico de Camaçari".

Mas reconheço que que me falta pescoço para fazer meu povo acordar, mas posso afirmar que ESSA CAUSA É DE SAL E AÇÚCAR. Um novo estado requer separar o joio do trigo a começar pela palavra, bandeira desse projeto, para que ela simbolize uma união em um território plural, e que hoje apresenta interesses sociais divergentes. 

UMA IDENTIDADE CULTURAL E ECONÔMICA PLURAL

Então a CAUSA DE CRIAÇÃO DO NOVO ESTADO DE SANTA CRUZ, respeitando os princípios a Revolução Francesa e os Direitos Humanos Universais deve ser pautada na RETOMADA DO DIÁLOGO PERDIDO, por mais difícil que seja superar os rancores, e conciliar a justiça. AS PARTES E AS CAUSAS PRECISAM DIALOGAR, CONVIVER, E SE ENRIQUECEREM COM ISSO, senão demonstramos ser um tecido social frágil, um território vulnerável, sem coesão, e claro, dependente da intervenção da velha Bahia, cujo farol mal ilumina seu gigantesco e pobre semi-árido, e do governo federal (lá onde está: longe).

O novo estado precisa ser novo, e não velho, como é velha a política na Bahia. Precisa ser intolerante com Carteis, sejam eles de proprietários de terra, corporações multinacionais ou grupos populares que desrespeitam o estado civil de direito. Nossa bandeira de Vera Cruz é a bandeira da Tolerância Zero contra a Intolerância. Santa Cruz deverá se preparar para assinar uma identidade multirracial, sem privilégios. Não é fácil passar a faca entre ÍNDIOS E VACAS, BIODIVERSIDADE e EUCALIPTO, TURISMO INTERNACIONAL E POBREZA EXTREMA, mas precisamos criar um meio viável, e sairmos do estado de guerra e intolerância, que nos torna irremediavelmente atrasados, ainda que sejamos ricos. Vamos abrir a porta do diálogo, e discutir essas questões, não como contradições, mas como desafios reais a serem equacionados para que seja alcançado o desenvolvimento socioeconômico, ambiental e cultural pactuado, estratégico, planejado e sustentável.

IDENTIDADE FITOGEOGRÁFICA

O clima, a disponibilidade água, riqueza natural e complexo caldeirão cultural humano lhe faz especialmente rico, e lhes confere identidade própria. Por tudo isso, SANTA CRUZ já desponta como uma novidade, seja pro turismo mundial, ou para investidores de todo tipo, como nunca antes visto, desde a chegada dos imigrantes sertanejos do cacau. Os desafios estão aí e são estimulantes.

UM ESTADO SÍMBOLO MUNDIAL DAS RIQUEZAS DAS FLORESTAS TROPICAIS. O Estado de Santa Cruz, berço do Brasil é o Estado do Turismo, da Agricultura Sustentável e da MEGADIVERSIDADE CULTURAL E ECOLÓGICA (É PRECISO ENTENDER ISSO - NÃO É CHAVÃO). O novo estado deverá carregar a responsabilidade de ser uma região fitogeográfica extraordinária e de interesse regional, nacional e mundial. Ele terá a marca da mais rica biodiversidade florestal do planeta (isso vale ouro para quem acredita em filhos, futuro e futuro dos filhos).

Um grande Estado da silvicultura mundial, mas não só de Eucalipto. Um grande rebanho bovino, mas que poderá deixar de ser "carne barata, de terceira e difícil de exportar", e sim de qualidade, "porque não?", como indagou o palestrante.

NOVOS LÍDERES

"Ói eu aqui, ói você aí!". Nós somos os novos líderes, e o futuro já chegou. O problema é que estamos atrasados demais, e pra piorar, o Brasil, apesar de seu talento, não cresce. Chega de esperar "Novos líderes", que é mais uma frase bonita, pronta, ouvida eleição após eleição... Afinal, eles não chegam nunca? Não são eleitos? Não tem gente boa trabalhando, como eu aqui no meu blog, ou você que ainda gosta de ler e trocar ideias comigo? Ademais, para quebrar esse protocolo linguístico, temos os VELHOS LÍDERES, como esse guerreiro que fez essa primeira reunião para ressuscitar o antigo pleito, em oportuna ocasião. E talvez devamos focar não em um novo líder, mas em quinze milhões de ovos líderes de mãos dadas para dizer sim a criação do novo estado. Mas sinto mesmo falta de velhos líderes, e suas atualidades científicas, e por isso conclamo a todos, ressuscitar antes, as ideias de Milton Santos para o sucesso do projeto de um novo estado. 

ENQUANTO ISSO O ESTADO DE SÃO FRANCISCO...

Enquanto tudo isso parece maluquice, porque em Ilhéus não se acredita mais em muita coisa, a divisão de estados no Brasil é uma realidade e está acontecendo. O resultado são novos estados fortes como o Tocantins. ~

Hoje, existem aproximadamente dez pedidos de desmembramentos de estados no congresso nacional. A recente autorização obtida para o plebiscito de Carajás e Tapajós abriu uma janela para a criação de novos estados, e quem saiu na frente foi o oeste da Bahia, que já começou o movimento para a criação do estado do Rio São Francisco, que também não é um tema novo.

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