Olhar Antropológico: Povos Isolados



Quando vejo uma foto como esta, reflito porque queremos mudar o mundo? E que tipo de mundo nós queremos criar? Um olhar antropológico tem muito a nos ensinar sobre nós mesmos.

Olhar Antropológico: Povos Isolados



Por Adelino de Lucena Mendes*

Nem sempre a imagem que construímos em nosso imaginário, quando nos referimos a povos isolados, converte para a realidade. Estas sociedades vivem em regiões distantes, terras ainda não alcançadas pelas frentes de expansão, hoje não mais nacionais e sim multinacionais, que avançam indeléveis sobre os últimos bolsões de terras "incógnitas". Fartas em recursos naturais e vida, das mais conhecidas e desconhecidas espécies. A diversidade das riquezas ainda a serem descobertas na Amazônia impressiona. Em meados dos anos 90, estudos apontavam que o número de espécies de peixes desconhecidas que poderiam viver nos afluentes do grande rio e nele próprio, representavam cerca de 60% de todas as espécies conhecidas no planeta. 


Apesar da imensidão do "continente amazônico", é difícil achar um lugar onde o "branco" não espreite atrás de algo. Seria rara a existência de um grupo indígena que não saiba ou desconheça totalmente os efeitos do contato com a nossa sociedade. A história de índios e brancos se repete através dos séculos. Muitos grupos alcançados, chamados ao convívio com os brancos sob o bordão de "Brasil, ame ou deixe-o" à época da ditadura militar, momento prolífico de grandes projetos inúteis, já tinham os encontrado em momentos distantes e distintos de sua história, sem exceção. Assim os Yanomami na década de 40, assim os grupos Arara da transamazônica, e todos ou outros, já havia se deparado com estes invasores em tempos passados. Portanto, o estado de isolamento é em sua grande maioria, salva alguma exceção, frente o tamanho imensurável da floresta equatorial e de refúgios distantes, uma opção e um direito destas sociedades, que se declaram autônomas e independentes de qualquer legislação. Refugiando-se nos mais distantes cursos de rios, fogem do encontro ou repelem qualquer perigo latente ou iminente. Desta forma podem, ainda por algum tempo, manter sua identidade cultural e proporcionar aos seus filhos uma escolha, a de manter ou não contato com os brancos. Em grande parte dos países, nos quais é confirmada a presença de povos autônomos como Indonésia, Nova Guiné, Paraguai (chaco paraguaio), Bolívia, Venezuela, Peru, Equador, Suriname, Guianas e Colômbia, assim como os andamaneses, de ilhas distantes na costa da índia, estes são chamados de Povos em Isolamento Voluntário. Devemos resguardar este direito, é a escolha de uma sociedade livre, com cultura própria e posse sobre suas terras!


Um elogio se faz necessário ao órgão nacional que ainda responde aos problemas e necessidades dos índios no país, a FUNAI. A Funai estabeleceu, na década de 80, juntamente com alguns antropólogos a política de se manter protegido o território destes grupos em isolamento o tempo que for possível, sem interferências externas, sem invasores e sem a possibilidade de contatos desnecessários.

Foto _ Tribo de povo isolado no Acre

* Antropólogo

Foto de 10 de julho de 2009


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