A vitória da agrofloresta
CABRUCA: O MUSEU VIVO
O modelo inspirado no cacau da floresta amazônica tornou-se a marca diferencial do sul da Bahia, onde se criou uma paisagem agrícola única. Esse modo de cultivo sob milhões de árvores nativas centenárias tornou-se o maior sistema agroflorestal que se conhece, e essa herança do cacau é um patrimônio nacional. Mas a crise dessa lavoura levou os cacauicultores à descrença, de que esse extraordinário sistema ainda possa a vir a recuperar sua viabilidade econômica.
Mas quem reconhece seu valor, sabe, que o futuro sustentável do sul da Bahia depende das lições que o cacau nos ensinou. Primeiramente, porque os sistemas agroflorestais diversificados são avocação ambiental dessa região, e se soubermos buscar o reconhecimento dele, em breve, poderemos viabilizá-lo economicamente.
Um primeiro passo foi dado com a inclusão do sul da Bahia no FNE Verde, um programa federal de financiamento à conservação e controle do meio ambiente, que possui prazos de carência e de pagamento alongados. Um passo importante, que sinaliza para o reconhecimento oficial da importância ecológica da agricultura sul baiana, abrindo uma janela no caminho de políticas públicas voltadas para as nossas especificidades territoriais, busca de certificações de qualidade, e de compensações econômicas de seqüestro de carbono e combate aos agravantes da mudança climática global.
Mas tudo isto só será verdade se os agricultores do sul da Bahia acreditarem no patrimônio histórico, cultural e ambiental que chamamos Cabruca. Perante a legislação ambiental federal e estadual, trata-se de um sistema protegido, mas nem um exército de fiscais poderá evitar o desflorestamento se as pessoas que convivem com esses recursos não estiverem convencidas de sua importância.
O desenvolvimento sustentável que estamos lutando para construir deve aliar o desenvolvimento econômico à conservação florestal, mas isto só será possível se os agricultores se tornarem aliados dessa proposta.
Apesar disso, não cruzamos os braços, e uma luta sem tréguas para reverter esse quadro passou a ser travada por políticos, técnicos, lideranças setoriais, unindo e mobilizando o conjunto da sociedade do sul da Bahia. Especialmente, uma nova geração de filhos de cacauicultores pessistiu nessa luta, movidos pela crença em nossa história e tradição na agricultura.
Aos poucos, a recuperação da vocação rural do sul da Bahia ganha força e gera resultados. As promessas começam a sair do papel, como a inclusão de toda essa região no FNE Verde Floresta. Os principais protagonistas desse movimento são llideranças da sociedade civil organizada, representantes dos cacauicultores, filhos deles, como Henrique Almeida, Fausto Pinheiro, Isidoro Lavigne e Durval Libânio, que conquistaram a todo custo, um espaço de diálogo permanente com o governo.
Esperamos que os conceitos de sustentabilidade que norteiam o FNE Verde sejam irradiados para todo o sul da Bahia, e em um futuro próximo, a AMURC (Associação dos Municípios do Sul da Bahia) possa vir a ser a representante de uma identidade territorial única, fruto de um feliz casamento entre agricultura e ecologia.
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