Os Principais Impactos da Ferrovia Oeste-Leste na Hileia Sul Baiana
Apesar da crise generalizada no setor, se Ilhéus vier a ser o destino
final da Ferrovia Oeste-Leste (FIOL), revise os impactos mais preocupantes.
Eles ocorrem desde a sua construção e continuam impactando ao longo dos anos de
operação da ferrovia. É pontual, semipermanente e impacta de forma diferente
cada lugar por onde passa. O traçado da ferrovia Oeste-Leste (FIOL) percorre em
maior parte o semiárido com sua vegetação típica, e um trecho bem menor adentra a floresta semi decidual e ombrófila na região cacaueira do sul da
Bahia, onde se teme os maiores impactos. O rio de Contas é o grande personagem
do trajeto da ferrovia, e acho pessoalmente que ela passa muito próximo
ao seu leito, em suas cabeceiras e na região da cidade de Jequié. Também muito próxima da cidade.
É depois de Jequié que a ferrovia
projeta-se para entrar na província atlântica, áreas consideradas de interesse para
a proteção do bioma da Mata atlântica. Os impactos foram discutidos em
audiências, mas poucos sabem sobre eles.
Durante as obras, a supressão de
vegetação é a primeira grande preocupação. O impacto da extinção é o pior e o
mais grave, e o primeiro na lista de prioridades. Erros podem ocorrer, e existe
essa tendência pelo pouco conhecimento desse ecossistema. Uma espécie nova e
ainda desconhecida, uma comunidade importante, distinta e específica, ou o nicho
diferenciado de alguma espécie pode passar despercebido. É preocupante porque não
se tem certeza absoluta da identidade dessa fauna e flora, e uma espécie rara
pode ser uma erva de aparência comum. Por outro lado, é impraticável um
trabalho botânico minucioso, e certificado cientificamente sobre o que está
sendo retirado do ecossistema. A mitigação é democratizar a informação, e
ampliar a participação, ante cada cem metros que se autorize avançar a ferrovia
pela hileia, e suas roças de cacau.
O segundo grande impacto seria a
criação de uma barreira biológica, o que vale para qualquer ecossistema. Isto
faz pensar em toda a cadeia alimentar, desde a onça, os bandos de caititu, no
que diz respeito da comunicação genética entre grupos de animais já reconhecidamente
ameaçados, e todos os outros. Pequenos atalhos sob a ferrovia podem não ser
suficientes. Como foi dito em audiência que a presidente Dilma pediu o uso das
tecnologias mais modernas, creio que deveríamos ter trechos bem maiores de ferrovia
suspensa. Quando falamos na barreira, também estamos falando de centenas de
caminhos de pessoas, burros, trabalhadores que terão a mobilidade alterada.
O terceiro grande impacto é o risco
de poluição e contaminação. Não é preciso ser inteligente para não desejar que centenas
de vagões de minério de ferro passem em frente a sua casa, seu bairro ou sua
roça de cacau e banana. O que preocupa em primeira ordem é a possibilidade ou
probabilidade de pó de minério se dispersar de alguma forma, aumentando o
impacto sobre todo o ecossistema biológico, e social do entorno da ferrovia.
Também existe, sobretudo, nesse trecho com topografia e condições climáticas
mais adversas a possibilidade de um acidente com os vagões, e suas
repercussões.
O quarto impacto está relacionado
às águas, e aí é preciso ampla fiscalização e todos podem ajudar caso vejam
alguém barrar a água doce em sua terra. Saiba a engenharia, e as melhores
tecnologias permitir que toda a água circule, e drenar adequadamente as áreas impermeabilizadas.
A chegada da ferrovia sobre uma delicada bacia hidrográfica formada por
centenas de veias, e próxima à Lagoa Encantada aumenta geometricamente as
possibilidades de contaminação das águas.
Um último impacto pode se dar no campo mais amplo da identidade cultural, a figura da hileia, da região cacaueira, e é preciso tomar cuidado para que a associação ao minério não comprometa a imagem e qualidade do cacau do sul da Bahia, que vem sendo conquistada com grande luta coletiva.
Um último impacto pode se dar no campo mais amplo da identidade cultural, a figura da hileia, da região cacaueira, e é preciso tomar cuidado para que a associação ao minério não comprometa a imagem e qualidade do cacau do sul da Bahia, que vem sendo conquistada com grande luta coletiva.
Supressão de vegetação nativa nessa região requer extremo cuidado |
O traçado da ferrovia se aproxima muito do rio de Contas |
Esse processo precisa ser transparente |
A ferrovia segue o rio de Contas desde o cerrado |
Intervenção é histórica |
Ferrovia atravessa dezenas de roças de cacau |
Qualidade e imagem do cacau do sul da Bahia não pode ser prejudicada |
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