Os Povos da Floresta
Milagre na Amazônia
Pouco antes do Dia Internacional do Meio Ambiente, imagens da Funai de comunidades indígenas, isoladas na Amazônia, repercutio na mídia internacional. O avistamento de um povo - cerca de 500 pessoas, nos deixa curiosos diante de tão original cena, uma rara imagem dos filhos da terra - dos resistentes, que fugindo da invasão de madeireiros, têm como escudo a floresta proxima ao rio Envira, fronteira do Acre com o Peru.
Índios cobertos com pigmentos vermelhos ameaçando atacar a aeronave com flechas, enquanto os outros indígenas observavam.´Obesvamos e somos observados.
Índios cobertos com pigmentos vermelhos ameaçando atacar a aeronave com flechas, enquanto os outros indígenas observavam.´Obesvamos e somos observados.
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Esse povos têm registrado em suas mentes, uma série de genocídios culturais, e sabem que são sobreviventes de uma guerra de séculos. Um povo resistente a civilização, e interiormente livre dela, enquanto observamos sua tragetória na maior floresta da terra. Lutam com um tecnologia especial, contra estrangeiros e invasores de seu continente de culturas, no que chamamos de floresta amazônica. Conhecem a vida e a morte numa história que se revela em um grande patrimônio imaterial, onde são detentores de uma sólida política de floresta - nação , que quer reviver seus antepassados.
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Brasil tem mais de 60 Povos Isolados
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O Brasil é o país que possui mais povos isolados, que são cerca de 100 em todo o mundo. Segundo a Funai, existem no país, 21 registros de povos isolados com presença confirmada, 37 informações de ocorrência aguardando confirmação e 4 povos de contato recente. Um terço das ocorrências de tribos isoladas, confirmadas ou não, estão na Terra Indígena Vale do Javari, localizada na fronteira com o Peru, que tem 8,5 milhões de hectares e é a segunda maior terra indígena do Brasil, localizada num "arco de conservação", que inclui áreas protegidas brasileiras e peruanas, totalizando 24 milhões de hectares.
Marubo, Matis, Mayoruna, Kulina, Maya, Korubo, Katukina, Flecheiro, Tsohon Djapá são alguns destes novos brasileiros que vivem isolados, e que, mesmo protegidos pelo governo, e longe das áreas de grande desmatamento se encontram ameaçados, pelo avanço do desmatamento e pelo contato com as tribos que vivem no entorno de seus territórios, onde uma epidemia de hepatite B e D, por exemplo, avança sem controle.
.Cerca de quinze índios próximos a malocas, alguns dos quais também estavam preparando-se para atirar contra a aeronave.
.Cerca de quinze índios próximos a malocas, alguns dos quais também estavam preparando-se para atirar contra a aeronave.
Mais Línguas no Brasil que em toda a Europa
Para se ter uma ideia da riqueza cultural de nossos índios, há 500 anos atrás, falavam cerca de 1.300 diferentes línguas, mais que em todo o continente europeu. Restaram 180, número que exclui aquelas faladas pelos índios isolados, e que ainda não puderam ser estudadas e conhecidas.
As línguas indígenas foram agrupadas em famílias, e classificadas como pertencentes a troncos linguísticos, por exemplo, Tupi, Macro-Jê e Aruak, entretanto, várias famílias, não puderam ser identificadas como relacionadas a nenhum destes troncos, como Karib, Pano, Maku, Yanoama, Mura, Tukano, Katukina, Txapakura, Nambikwara e Guaikuru, e outras, permanecem não-classificadas ou isoladas, como a língua falada pelos Tükúna, a língua dos Trumái, a dos Irântxe etc. Ainda existem as línguas que se subdividem em diferentes dialetos, como, por exemplo, os falados pelos Krikatí, Ramkokamekrá (Canela), Apinayé, Krahó, Gavião (do Pará), Pükobyê e Apaniekrá (Canela), que são, todos, dialetos diferentes da língua Timbira.
"As línguas são como as espécies animais e vegetais em perigo. A vida delas também está por um fio", afirma Colete Grinevald, professora de linguística da Universidade Lyon II, na França. Segundo a estudiosa, das seis mil línguas faladas hoje na terra só a metade resistirá até o ano 2100. Nas Américas e na Austrália 90% das línguas vão desaparecer até o final deste século. Atualmente 97% das pessoas do mundo falam apenas 240 idiomas existentes.
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Ainda faltam estudos para determinar com melhor exatidão, qual era a população de índios no ano de 1.500 (1 a 10 milhões). Numa demografia hipotética e cheia de contradições dos relatos da época, estima-se que existiam no Brasil, cerca de 5 milhões de índios antes da invasão portuguesa (a população portuguesa era de 1 milhão nessa época). Cerca de 1 milhão de índios, que viviam no litoral, morreram já no primeiro século, após a invasão portuguesa, e 2 milhões, no segundo.
.........“O que está ocorrendo nesta região é um delito monumental contra o mundo natural, as tribos, a fauna e é um testemunho para a completa irracionalidade com a qual nós, os ‘civilizados’ tratamos o mundo”
Sertanista José Carlos Meirelles.
O genocídio só não foi completo, para alguns povos, por conta da resistência que oferece a imensidão amazônica, o mais tropical dos ecossistemas da Terra. Nos anos 50, a população indígena chegou a ser estimada entre 68.000 e 100.000 indivíduos. Passados os tempos de matança, escravismo e catequização forçada, e com uma política indigenista bem sucedida, a população vem aumentando e hoje vivem no Brasil, cerca de 300.000 índios. Mesmo assim, cerca de 35% dos 210 povos indígenas com culturas diferentes têm menos de 200 pessoas.
Legítimos Cidadãos Planetários
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É certo que nem um povo, brasileiro ou estrangeiro, tem moral e ética para tocar no patrimônio dos povos da floresta amazônica ou atentar contra a sua cultura. O direito desses povos é tão legítimo, que nos faz refletir, se eles não têm direito, a sua própria nacionalidade. Afinal o que é a nacionalidade, senão um povo, uma cultura, uma língua, um direito a um ideal de liberdade, do qual, manter-se na terra de seus ancestrais por milênios, e resistir à invasão de seu território natural, com absoluta independência e autonomia, demonstra um claro direito nacional universal.
Estes índios com flechas apontadas para o avião, certamente, é uma das imagens, antropologicamente, mais impressionantes que poderíamos ter no século XXI. Tem um significado profundo e amplo de uma resistência fantástica, e de uma militância, que extrapola as os ideais de seu povo, e traduz-se como uma luta universal, que os tornam protagonistas, talvez, sem saberem, da defesa do mais essencial patamar da dignidade humana, da luta pela salvação da última grande floresta tropical e da sutentabilidade ambiental do planeta.
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A imagem do índio e sua flecha, o mais frágil ecoa uma voz universal de humanidade e demonstra uma altivez perene numa atitude de protesto e convicção de vitória e legitimidade, perante um mundo imperialista, que desconhecem. Tanto somos desconhecidos deles, como eles de nós, pouco nos sabemos e muitos segredos guardamos entre si. Talvez pudéssemos chama-los de comunistas convictos ou socialistas da natureza, "hippies" do universo ou ciganos das águas doces, capitalistas da floresta ou um partido verde, ou quem sabe, um movimento religioso contemporâneo, uma organização cultural ou ainda uma instituição filosófica, mas preferimos chama-los de Brasileiros e como nossos irmãos de nacionalidade, somos nós que vamos defendê-los.
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Soberania Nacional e Paz na Terra
Claro, que não podemos ser ingênuos, e não defendermos a soberania do Brasil, que inclui, de forma implícita, a soberania de nossos irmãos índios. É verdade que temos que nos preocupar com a segurança dos 11 mil quilômetros de fronteiras que a região possui com outros países, pois, somos nós brasileiros que teremos que enfrentar os seus e nossos inimigos, visíveis ou não, que nos ameaçam com o desmatamento, a exploração de madeira e minérios, as doenças e toda sorte de ameaça originada nos Estados golpistas da região e do terrorismo impiedoso dos 15.000 guerrilheiros da Arfac infiltrados na floresta, além de outras milícias.
Mas temos que resistir, antes, ao preconceito dos próprios brasileiros, alguns militares, muitos agricultores e grande parte da sociedade, especialmente no norte, que vêm os índios como "um mal", e teimam em transforma-los, de vítimas em vilões. Temos também que superar o preconceito internacional contra os brasileiros, quando o assunto é Amazônia. Quando Stephen Corry, diretor da Survival International, diz que "o mundo precisa acordar para isto, e assegurar que seu território está protegido de acordo com as leis internacionais. Do contrário eles logo serão extintos", ele desdenha dos brasileiros, e desconhece, que apesar desenfreado desmatamento da Amazônia, temos a melhor política indigenista do mundo.
Hoje, os índios são os maiores aliados da Amazônia Sustentável, e, como qualquer brasileiro, ainda que donos de Reservas do tamanho de alguns países do globo, eles devem à Legislação Ambiental, as mesmas responsabilidades legais de proteção dos recursos naturais de seus territórios. E não podemos recuar da demarcação de seus territórios, apesar das desculpas inventadas por alguns militares, agricultores e grande parte da sociedade para lhe tirarem esse direito inalienável.
Nossos índios, com exceções, tem sido firmes na defesa das florestas, dos rios, do meio ambiente e da diversidade cultural. O respeito aos povos da floresta é , portanto, uma bandeira de paz, e faz parte da construção de um novo país, pós-escravocrata, pluriracial, multicultural e detentor maior de recursos naturais protegidos.
Gravura do Príncipe Maximilian Wied-Neuwied, que também esteve no Sul da Bahia no Século XIX.
Valorizando esses guerreiros da história universal, que quando contactados, não resistem em se considerarem brasileiros, é que salvaremos a floresta e seu povo, índio, caboclo, ribeirinho, nordestino, e tantos parceiros do mundo inteiro, que querem caminhar na direção do intercâmbio cultural não predatório e sustentável. Certamente, os Povos da Floresta ainda
trarão lições importantes para toda a civilização e ajudará a torná-la mais humana, e com a presença iluminada do índio no sangue e na alma do brasileiro, ainda haveremos de sinalizar para o mundo, que o Brasil é a terra americana sonhada de todos o povos.
The New York Times:
MSNBC:
Monterey County – The Herald:
CNN.com World
National Geografic:
THE AGE.com.au
BBC News:
Elmundo:
Lavanguardia:
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Mais Informações sobre os Índios Brasileiros
Funai: Os Índios
Ambiente em Foco:
Deputado Eduardo Magalhães:
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Antonio Bunchaft - PANGEA